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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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crônica

A teia da aranha e a formiga: os olhos pequenos é que vêem o grande

Foto: Reprodução

A teia da aranha e a formiga: os olhos pequenos é que vêem o grande
Esta é uma crônica sobre os pequenos olhos que enxergam o mundo grande. Esta é uma crônica sobre os olhos que permanecem infantis, serenos, esperançosos e sonhadores, e sobre os olhos doutrinados e conservadores. É a história de uma aranha e uma formiga.

O cavalo anda com o cabresto para não olhar para os lados, apenas para o caminho linear que deve seguir, e que o seu dono lhe impõe. E nós, humanos, também estamos fadados ao mal de viver um destino imposto. Só que temos a opção de olhar para o lado, apesar de nem sempre o fazermos.

Mas, Clarice não era como os outros. Seus pés podiam estar no chão, mas a cabeça estava sempre na Lua. Só que isso não era de todo ruim. Clarice mantinha em sua aura uma infância que lhe escorreu pelos dedos, e por isso, seus olhos continuavam a enxergar o mundo grande, como se ela fosse ainda uma criança pequena.

Já havia crescido. Estava formada, com um emprego, estabilizada. Porém, Clarice não enxergava o mundo como as outras pessoas. Tinha uma visão romântica de tudo e todos, e sempre encontrava motivos para explicar o que não tinha explicação.

Seus olhos pequenos que sonhavam grande não deixavam que Clarice visse com clareza, que às vezes, nem todos os que nos rodeiam são bons. Os olhos infantis não deixavam ver que existe o bom e o ruim em todos os corações humanos. Clarice acreditava, simplesmente por acreditar. Não precisava de motivos para isso.

Para falar bem a verdade, era uma árdua batalha encontrar alguém que minimamente a pudesse entender. Para ilustrar como os olhos pequenos vêem o mundo grande, um dia, Clarice, viu uma cena inusitada. Uma formiga tentava libertar outra formiga que havia se prendido na teia de uma enorme aranha.

Clarice, com seus olhos pequenos, mas sempre atentos, observou a cena com emoção incomum. E em um gesto libertador salvou a formiga da teia da aranha. A formiga seguiu seu caminho e Clarice também.

O gesto foi tão libertador porque Clarice via na formiga a si própria. Presa em uma teia de aranha, um destino cruelmente imposto, apenas a espera da morte. Mas, o que os olhos pequenos de Clarice ainda não lhe revelaram é que ao mesmo tempo em que é a formiga, também é a aranha.

Ao mesmo tempo em que se prende na teia, Clarice prende outros em sua teia, e os devora. Ser formiga e ser aranha é condição humana. Trazer o bem e o mal no coração também. A formiga é aquele que se doa ao seu caminho, que vive na condição de quem não vislumbra o que está logo em frente, e em um descuido ou tropeço, cai direto na teia da aranha.

E a aranha é o lado sombrio, dominador, que cerca todos os corações. É o grito que culmina na revolta, na luta, na batalha. É a vontade de engolir o mundo em uma bocada, sem se importar em deixar barrigas vazias. A aranha é a libertação da imposição. A aranha manda porque devora a todos que caíam em sua teia, sem se preocupar com a formiga que tenta libertar a outra, sem se importar que exista um formigueiro a esperar quem se foi.

A aranha e a formiga é cada um de nós, somos todos nós. A aranha e a formiga representam a eterna guerra interna. A guerra do eu contra o mundo. Mas, ser humano não é pender apenas entre o bem e o mal. É encontrar um equilíbrio entre a dualística do bem e do mal. É encontrar um caminho que te preencha, que não te deixe vacilar quando a vida for dura demais. Ser humano é poder escolher entre libertar da teia da aranha, a formiga, ou deixar morrer aquilo que se acredita.
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