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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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No centenário de Albert Camus, exposição relembra o autor francês

Nesta quinta-feira (7), comemora-se o centenário do nascimento de Albert Camus (1913-1960), um dos grandes autores do século 20, cuja obra foi reconhecida com o Prêmio Nobel em 1957, três anos antes de o autor de "O estrangeiro" e "A peste" morrer, quando se encontrava no auge de sua carreira.

Coincidindo com a data, a exposição Albert Camus, cidadão do mundo', da Cidade do Livro de Aix-en-Provence, na França, explora em dez eixos temáticos suas amizades, sua linguagem e seus cantos prediletos. Poderá ser visitada até dia 5 de janeiro no balneário mediterrânea que Camus tanto amou.

Ele morreu em 4 de janeiro de 1960, num trágico acidente de trânsito, quando o carro no qual viajava no banco de carona se espatifou contra uma árvore a 180 quilômetros por hora. O automóvel era conduzido por seu amigo Michel Gallimard, sobrinho de seu editor, Gaston Gallimard. Camus levava consigo em uma valise vários documentos, cadernos e um manuscrito de 144 páginas.

Esse último texto do autor de "Calígula" não seria publicado até 1995 e com o título de "O primeiro homem", forjando um relato inacabado e em tom autobiográfico no qual o literato francês retornava à sua infância de pied-noir na Argélia colonial.

"A memória dos pobres está menos alimentada que a dos ricos, tem menos pontos de referência no espaço, já que rara vez deixam o lugar onde vivem, e também menos pontos de referência no tempo, imersos em uma vida uniforme e cinza", observa o escritor em um dos fragmentos dessa obra póstuma.

Albert Camus nasceu na Argélia, em uma família muito humilde de colonos franceses. Seu pai, ex-combatente na guerra franco-prussiana, morreu na Primeira Guerra Mundial, quase sem conhecer seu filho. Sua mãe, analfabeta e quase surda-muda, teve que limpar muitas casas para alimentar seus dois filhos.
Camus se criou pobre, isolado e febril na colônia francesa. Encorajado por seus professores, se matriculou em Filosofia, mas a tuberculose lhe impediu de finalizar seus estudos.

Fundou então uma companhia de teatro, filiou-se durante dois anos ao Partido Comunista e trabalhou como jornalista, antes de mudar-se a Paris em 1940 para incorporar-se à redação do "Paris-Soir" e trabalhar na editora Gallimard.

Com 29 anos, publicou "O estrangeiro", seu romance mais aplaudido e uma reflexão em primeira pessoa sobre as consequências morais do assassinato e a indiferença perante a morte, que começa com as indolentes frases: "Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem".

Nos anos seguintes, escreveu a obra de teatro "O mal-entendido" e o ensaio "O mito de Sísifo". Junto com "Calígula", aprofundam-se na "filosofia do absurdo". Camus parte das influências dos filósofos existencialistas Kierkegaard e Nietzsche para analisar o vão esforço do ser humano em encontrar o significado da vida.
Em Paris, durante a ocupação nazista, o escritor militou na Resistência e fundou o jornal clandestino "Combat". Foi nesses anos que conheceu sua amante mais famosa, a atriz espanhola exilada na França María Casares, filha de um presidente do governo da Segunda República espanhola.

Sempre melindroso e com um cigarro nos lábios, o chamado "Humphrey Bogart da literatura" tornou-se amigo de Jean-Paul Sartre em 1943. Mantiveram uma relação próxima ao longo de de dez anos, mas passaram a divergir após a publicação de textos com ideias contrárias. Iniciam uma batalha filosófica com marcado teor político.
Embora ambos se dissessem de esquerda, Sartre defendia a violência para alcançar a revolução social, enquanto Camus, acusado de estático, entendia que o fim não justifica os meios.

"Me diziam que eram necessários alguns mortos para chegar a um mundo onde não se mataria", resumia Camus, que em 1957 e contra qualquer previsão ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Tinha 44 anos.
Na época, já vivia instalado no grande desgarro causado pela guerra de independência de sua Argélia natal (1954 e 1962). Ansiava que a terra que lhe viu nascer deixasse para trás o sistema colonial, mas sem desligar-se da França que educou seu talento. Dois anos antes que terminasse essa barbárie, Camus morreu.

Deixou viúva sua segunda esposa, Francine, e órfãos seus dois filhos gêmeos, Jean e Catherine. Apesar das várias amantes, a verdadeira mulher de sua vida foi sua bondosa e esforçada mãe, reconhecem seus filhos.
Os que lhe conheceram, como o jornalista Jean Daniel, fundador de "Le Nouvel Observateur" e amigo do Prêmio Nobel, dizem que "para saber o que é um homem feliz é preciso ter visto Camus diante do mar e do sol".
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