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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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Mato-grossense desembarca na cidade-maquete e cria identidade como o “Poeta de Brasília”

Mato-grossense desembarca na cidade-maquete e cria identidade como o “Poeta de Brasília”
Criado em Diamantino, mantém ligação umbilical com sua cidade natal, mas é conhecido e respeitado em Brasília. Não se trata de Gilmar Mendes, mas do escritor e poeta Nikolaus von Behr, ou melhor, Nicolas Behr, aliás, amigo de infância do ministro do Supremo Tribunal Federal e com quem eventualmente divide as memórias de um passado vivido na cidade que era considerada literalmente como o “fim da picada”, pois até uns 40 anos atrás, segundo o próprio Behr, Mato Grosso acabava em Diamantino.

Nascido em Cuiabá em 1958 e criado “no mato”, como ele mesmo diz, Nicolas Behr é filho de imigrantes alemães que viviam na Letônia e Estônia, no leste europeu, e foi ainda pequeno para Diamantino na companhia dos pais, que arrendaram a fazenda de uma tia nos arredores do município.

Lá viveu o que considera o período arqueológico de sua vida. “Fui uma criança de roça, uma criança rural. Brincava no mato, pescava, andava a cavalo. Era uma criança criada no meio do mato, estudei em colégio interno, fui coroinha e fiz muitos amigos”, lembra o escritor em entrevista concedida ao Olhar Conceito no Viveiro Pau Brasília, de sua propriedade, localizada no Polo Verde, próximo ao Balão do Torto, residência presidencial com ares rurais.

Após viver parte da adolescência em Cuiabá – quando a cidade ainda tinha cerca de 200 mil habitantes –, aos 16 anos foi para Brasília com a família. O ano era 1974 e a nova capital, cidade planejada, praticamente inabitada e ainda hostil foi a grande fonte de inspiração para o jovem começar a escrever.

“A poesia foi a forma que encontrei para sobreviver, para me encontrar com a cidade e me adaptar. Eu havia tido uma vida no meio rural. Fui ver televisão com 12 anos em Cuiabá, num tempo em que a gente pulava muro e roubava manga do vizinho. Daí fui para uma cidade totalmente setorizada, diferente do que havia vivido”, lembra.

“Eu saí do mato para viver na maquete. Isso foi muito difícil pra mim. O impacto foi violento Aí comecei a escrever poesia para entender a cidade e me tornei uma espécie de poeta de Brasília”, relata. Foi na capital federal que o jovem desenvolveu uma forma de poesia que logo se disseminou pela cidade, a poesia do mimeógrafo, de edição praticamente artesanal, que ele compara, do ponto de vista literário, a uma espécie de precursor dos blogs.

A brincadeira com o mimeógrafo causou muita dor de cabeça não só para Nicolas, mas também para o DOPS, o órgão de inteligência e repressão durante a ditadura militar. “Fui preso acusado de ser subversivo, de organizar uma rebelião. Eles achavam que eu tinha uma central de produção de panfletos. A polícia fez batida na minha casa procurando o mimeógrafo. Felizmente não encontraram. Queriam me botar na lei de segurança nacional, mas não conseguiram. Me enquadraram no código penal como posse de material pornográfico. Fui preso e julgado. Respondi processo. Era um movimento apartidário mas muito politizado”, recorda.

Depois de experimentar a poesia libertária, trabalhou como redator publicitário, militou como ecologista em ONGs, morou nos Estados Unidos e no início dos anos 90 montou seu próprio negócio. “Eu tinha como hobby plantar mudas. Daí casei e montei meu próprio viveiro”, acrescenta durante bate papo, entre uma sobra e outra do Pau Brasília.

Autor de grande acervo poético compilado em mais 15 livros, Nicolas Behr, apesar da vida plenamente consolidada no Distrito Federal, mantém ligação forte com Diamantino.

Recentemente a prefeitura editou uma de suas obras mais importantes, “A lenda do Menino Lambari”, que foi distribuída para alunos da rede municipal. “Devo ir lá em breve. Sou cidadão honorário de Diamantino. Ajudei a fazer memorial Casa dos Viajantes, que era a casa paroquial, a casa canônica do município. Me envolvi muito com a cidade, gosto da cidade e das pessoas lá. Sou querido lá, falo com todo mundo e me reabasteço”, revela o autor, dentre outras obras, de Menino Diamantino. Poema notório em Brasília: "Nem tudo que é torno é errado. Vide as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado” - Nicolas Behr
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