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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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Adriana Calcanhotto organiza e ilustra seleção de poesia nacional para crianças

Em A Educação do Ser Poético, Carlos Drummond de Andrade pergunta ao leitor os motivos de a criança, que geralmente é um poeta, deixar de sê-lo quando cresce. A questão foi levada a sério pela cantora e compositora Adriana Calcanhotto, que decidiu fazer uma seleção de poetas brasileiros de diferentes tempos, estilos e vozes que escreveram (mesmo sem intenção) para o público mais jovem. Assim nasceu Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira, lançada agora pela Casa da Palavra.

Ali estão 48 poemas organizados em ordem cronológica, cobrindo assim três séculos: desde Canção do Exílio, publicada por Gonçalves Dias em 1846, até Receita para um Dálmata, que Gregório Duvivier lançou em 2008. Sim, Duvivier, famoso humorista do site Porta dos Fundos, inclui-se entre as diversas surpresas selecionadas por Adriana, que até encontrou um haicai escrito por Erico Verissimo (Outono).

"Eu sentia falta de um volume que apresentasse o trabalho dos poetas em ordem cronológica - a maioria dos livros é organizada por assunto", conta Adriana. "A ordem cronológica permite descobrir os ecos de um poeta na poesia do outro, como influencia as quebras de estilo. Mas eu não queria uma antologia com poemas exclusivos para a criança, e sim algo que ela pudesse desfrutar."

A relação de Adriana Calcanhotto com o universo infantil não é recente - em 2004, ela lançou o disco Adriana Partimpim, nome que usava na infância e que adotou para lançar dez canções destinadas ao público pré-adolescente. Não se tratava de um pseudônimo, mas de um heterônimo, seguindo a rica tradição de Fernando Pessoa.

O sucesso foi estrondoso, especialmente entre o público mais jovem, que abraçou o dom da cantora e compositora de navegar com originalidade na poesia. Ela queria, no entanto, chegar à poesia escrita, gênero habitualmente de difícil absorção pelos menores.

"Minha intuição infantil ajudou a identificar os poetas que se encaixavam bem na seleção", observa Adriana. "Quando aprendemos poemas na escola, apesar de jovens, conseguimos manter a musicalidade daqueles versos na cabeça. O que me motivava também era descobrir quando começou a poesia infantil no Brasil - descobri que o início foi nas famílias mais abastadas, que escreviam poemas específicos para suas crianças. Isso logo se expandiu para poetas profissionais, como Olavo Bilac, que tinha compromisso com a função pedagógica, de educação."

Nessa pesquisa, Adriana, que descobriu o mundo da poesia ainda jovenzinha, graças à uma tia, Titilita, percebeu que o rompimento veio com Cecília Meireles, cujo lirismo puro encaixou-se perfeitamente no universo infantil. "A partir daí, chegamos a uma poesia infantil brasileira de fato, escrita por autores de grande talento como Vinicius de Moraes e Duda Machado, que me deixou surpresa ao descobrir que escreveu livros para crianças."

O limite, aliás, entre versos criados para um público mais jovem e outro adulto logo se revelou muito tênue - quando fazia shows do Partimpim, Adriana lembra ter feito leitura do poema Guardado, do Antonio Cicero, e as crianças adoravam. "Não é questão de entendimento, mas de fruição", acredita.

Algumas das poesias escolhidas remeteram ao tempo de colégio, época em que se decorava mesmo sem entender. "Acho válido, mesmo que a criança não perceba ainda as várias camadas de um verso."
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