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Quarta-feira, 01 de maio de 2024

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Bobby Womack estreia no Brasil em nova fase: 'Sou sobrevivente do soul'

Bobby Womack é uma das atrações do festival Back2Black, na Cidade das Artes, no Rio, entre os dias 15 e 17 (veja programação abaixo). Ele canta no domingo (17), sua estreia no Brasil. O cantor diz ser “um sobrevivente do soul”. Segundo ele, uma fase de "revelação" se deve ao fato de ter sido produzido por Damon Albarn, vocalista de Blur e Gorillaz. Womack também diz que a nova etapa da carreira tem a ver com a recuperação de sua saúde.
Em entrevista ao G1, o cantor de 69 anos falou sobre o passado e sobre a alegria de ter sido redescoberto. A parceria com Albarn começou em 2010, quando foi convidado a cantar em música incluída no terceiro disco do Gorillaz, “Plastic beach”. Em 2012, o inglês foi um dos produtores de “The bravest man in the universe”, o 27º disco de estúdio de Bobby Womack. Foi o primeiro com material totalmente inédito desde “Ressurrection”, de 1994.
Recuperado de um câncer e de uma severa pneumonia, o músico diz que entendeu que Deus tem “algum motivo” para mantê-lo vivo, ao contrário de tantos amigos que morreram jovens, como Sam Cooke e Marvin Gaye. “Estou passando por uma revelação. Estava doente e agora Deus me deu a benção de estar bem, e sou grato por isso. Então o tom da minha música mudou”, justifica. Na entrevista por telefone, o cantor aproveitou para pedir lições de português, admitindo estar preocupado com a possibilidade de não conseguir se comunicar com o público. Após algumas tentativas, aprendeu a dizer “obrigado” e “boa noite” e se mostrou bastante agradecido.
Percebi que Deus deveria ter algo a fazer por mim... Isso me leva a crer que ele me manteve aqui por alguma razão e talvez possa ser para que eu continue tocando, para que eu possa ir aí para onde você está agora, no Brasil"
Bobby Womack
G1 – Essa será sua primeira apresentação no Brasil. Por que demorou tanto a vir e quais suas expectativas?
Bobby Womack – Estou muito empolgado. E é muito empolgante principalmente por ir a essa altura, sabe, porque já não sou tão jovem. O que aconteceu foi uma falta de comunicação, por eu ser um artista que não tem esse tipo de representação, um empresário que busque outros lugares onde eu possa me apresentar. Estive na Europa, na China, mas nunca fui ao Brasil. É uma sensação incrível ver que as pessoas te conhecem. Talvez elas nem estejam entendendo o que você diz, mas gostam da música.

G1 – Você gravou com o Gorillaz e Damon Albarn produziu seu disco. Ele te ajudou a conquistar novos fãs?
Bobby Womack – É o maior responsável. Eu nem sabia quem era Gorillaz, quando ele entrou em contato comigo eu nunca tinha ouvido falar deles. Mas aí me lembro de ter saído e visto enormes outdoors, anunciando shows para milhares de pessoas, lotados. Pensei então ‘esses caras devem ser especiais, porque quem consegue reunir tanta gente?’. E quando me associei a eles fui apresentado a um público novo para mim. Algumas pessoas conheciam minha música, mas nunca tinham me visto antes. Isso desencadeou uma reação em cadeia. E eu fico feliz, porque se não fosse por isso, eu talvez não estivesse indo ao Brasil (risos).

G1 – Lana Del Rey também está em seu disco, cantando na música ‘Dayglo Reflection’. Ela também ajuda a divulgar sua música junto a um novo público?
Bobby Womack – Sim, ela fez um trabalho fantástico. Foi uma alegria trabalhar com essas pessoas e fico muito feliz por elas serem minhas fãs e me “levarem” com elas, por causarem essa reviravolta. Adoro pessoas diferentes, como Muddy Waters e Rolling Stones. Vi como as carreiras deles prosperaram, e nunca achei que isso aconteceria comigo.
G1 – E qual o significado do título “The bravest man in the universe”? Você acredita ser esse homem mais corajoso do universo?
Bobby Womack – Acho que nós tentamos de tudo. A maioria dos artistas quer se destacar e ser diferente. Quando gravei com Damon e a banda foi algo novo para mim. Mudar meu estilo, basicamente, e me adaptar ao que eles produzem. É um sentimento diferente, mas eu me consegui me identificar com aquilo porque a música era real.
G1 – Você passou por um longo período de hospitalização recentemente em decorrência de um câncer e chegou a ficar em coma. Como se sente agora?
Bobby Womack – Sinto-me ótimo. Quando descobri que tinha a doença, eu recusei tratá-la como uma doença. Mantive minha dieta de sempre, fiz o que queria fazer e, eventualmente, isso me prejudicou. Mas agora estou consciente, medicado, tento comer tudo que os médicos dizem que eu posso. Por mais que ame doces, me mantenho longe deles.
Comecei a escrever com um ghost writer, e muitas coisas foram tiradas de contexto (risos), coisas que eu não disse, como o suposto romance com minha enteada. Mas acharam que ajudaria a vender o livro. Se eu fosse fazer isso de novo, escreveria eu mesmo. Evitaria coisas que magoaram pessoas"
Bobby Womack, sobre sua biografia
G1 – Esse período teve algum reflexo em sua música? De que forma?
Bobby Womack – Com certeza. A primeira coisa é o fato de que começamos a fazer um disco novo. E as letras estão mais positivas, assim como eu, porque estou passando por uma revelação. Eu estava doente e agora Deus me deu a benção de estar bem, e sou grato por isso. Então o tom da minha música mudou.
G1 – O novo álbum foi seu maior sucesso comercial nos Estados Unidos desde os anos 80 e o maior de todos os tempos na Inglaterra. Em sua opinião, qual o maior atrativo dele?
Bobby Womack – Eu amo o novo disco, a única coisa que me desaponta é que ele não foi tão bem aceito nos Estados Unidos quanto eu imaginei que seria. Provavelmente por que ele é muito distante do meu estilo. As pessoas que fazem as programações nas rádios e na TV dizem que aquilo não se parece comigo, e isso não é uma sensação boa de se lidar, especialmente em seu próprio país (risos).

G1 – Você diz ser 'sobrevivente do soul'? Por quê?
Bobby Womack – Sim. Sabe, o motivo pelo qual posso dizer isso é que vim da mesma época e estilo que Sam Cooke e Jack Wilson, todas essas pessoas com quem trabalhamos, eu e meus irmãos. E todas elas se foram, meus amigos próximos. Wilson Pickett e Johnnie Taylor, Frankie Lymon & The Teenagers e os Temptations… eu olho para trás e vejo todas essas pessoas e elas se foram.
G1 – Você disse certa vez que as pessoas acham que é preciso mudar muito para ser um cantor de soul, mas que, na verdade, é preciso apenas viver a vida. O que quis dizer exatamente? Estava se referindo à sua própria vida?
Bobby Womack – Sim, falo da minha própria vida. A primeira tragédia que senti, que me tocou muito, foi quando Sam Cooke foi morto, porque ele era realmente como um irmão para mim. Minha segunda pior tragédia foi perder meu irmão, Harry. E, além de tudo isso, perdi dois filhos, um quando ainda era praticamente um bebê e outro aos 27 anos. Tive esse tipo de tragédia em minha vida e também minha experiência pessoal com drogas e álcool, e consegui superar tudo isso. Foi o que eu quis dizer com aquelas palavras.

G1 – Você também já se perguntou ‘por que ainda estou aqui?’, ao questionar por que continuava vivo, enquanto pessoas como seus amigos Marvin Gaye e Sam Cooke haviam morrido. Já encontrou uma resposta?
Bobby Womack – Percebi que Deus deveria ter algo a fazer por mim, senão eu seria um deles. Isso me leva a crer que ele me manteve aqui por alguma razão e talvez possa ser para que eu continue tocando, para que eu possa ir aí para onde você está agora, no Brasil.
G1 – Você deu aos Rolling Stones a música ‘All over now’, de sua autoria, e que se tornou o primeiro número um deles no Reino Unido. Se tivesse que fazer o mesmo hoje, que banda ou cantor escolheria para presentear com um hit nas paradas?
Bobby Womack – Se tivesse de fazer isso novamente, sabendo o que eu sei agora, provavelmente seriam os Rolling Stones. De novo (risos). Sabe, é difícil encontrar as pessoas e ter a chance de conhecê-las como tive com Ronnie Wood, Mick e Keith Richards... Todos os anos que você leva para realmente conhecê-las. Muitos artistas não têm esse tipo de comunicação com as pessoas que compõem suas músicas, mas aprendi a conhecê-los e a conviver e ver o tipo de gente que eles eram. Eles eram simplesmente ótimas pessoas para ter por perto.
G1 – Você publicou uma autobiografia, ‘I’m a midnight mover’. A decisão de contar sua história teve algum motivo específico? E você se arrepende de algo?
Bobby Womack – Não, vou te dizer o que aconteceu. Comecei a escrever com um ghost writer, e muitas coisas foram tiradas de contexto (risos), coisas que eu não disse, como o suposto romance com minha enteada. Mas acharam que isso ajudaria a vender o livro. Se eu fosse fazer isso de novo, escreveria eu mesmo. Evitaria coisas que magoaram pessoas das quais eu era próximo, e eu jamais diria algo que fosse magoar ninguém em um livro, nem mesmo em uma entrevista. Coisas sobre artistas que conheci e que talvez ninguém mais soubesse além deles e eu, como brigas e coisas assim.
Veja a agenda de shows do Back2Black

15 de novembro – sexta-feira
Palco Rio
Baloji (Congo) com participação especial de Mc Marechal (Brasil)
Keziah Jones (Nigéria)
Criolo (Brasil) com participação especial de Tony Allen (nigéria)
Femi Kuti & The Positive Force (Nigéria)
Palco Estrombo
Renata Jambeiro
Encerramento com DJ

Teatro de Câmara
Palestra sobre o tema “A nova dramaturgia afrobrasileira”

Grande Sala (ingresso vendido à parte)
Milton Nascimento
16 de Novembro (sábado)
Palco Rio
Mayra Andrade (Cabo Verde)
Orchestra Boabab (Senegal)
Tributo a Miriam Makeba com grandes nomes das músicas africana e brasileira
Palco Estrombo
Novissimos com participação especial de Natasha Llerena
Encerramento com DJ

Teatro de Câmara
Palestra sobre o tema "A democratização e o desenvolvimento de África"

Grande Sala (ingresso vendido à parte)
Blind Boys of Alabama (EUA)
17 de novembro (domingo)
Palco Rio
Bobby Womack (EUA)
Pee Wee Ellis (EUA) & Banda Black Rio (Brasil)
Palco Estrombo
Maíra Freitas
Encerramento com DJ

Teatro de Câmara
Palestra sobre o tema "A tradição no mundo moderno"

Grande Sala (ingresso vendido à parte)
Mart’nália (Brasil) - homenagem a Vinicius de Moraes
Concha Buika (Espanha)
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