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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Parto sem dor

Conheça o método francês disponível em Cuiabá para dar à luz sem sofrimento

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Adriana e sua paciente Luma

Adriana e sua paciente Luma

Para muita gente, a imagem que se tem do parto normal é de dor. Muita dor. Gritos, choro, desespero. Mas não precisa ser assim. Esta é a máxima da doula Adriana Telles, 44, que há seis meses realiza em Cuiabá um treinamento para ressignificar o parto e ensinar as gestantes a passar por este momento de outra forma. Adriana é sucessora de ‘Dona Lucinha’, que nos anos 50 fez mais e 800 ‘partos sem dor’ em Cuiabá, e que hoje está aposentada.

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Além de doula, Adriana é também farmacêutica, e tem pós-graduação em saúde da mulher, neurociência, ciências da saúde, gestão de pessoas, coach em liderança, toxicologia forense e perícia criminal. Mas foi com dona Lucinha que ela aprendeu as técnicas e ensinamentos que hoje transmite a suas pacientes.

Adriana (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

O método utilizado por elas é baseado em descobertas do obstetra francês Fernand Lamaze, que testou o ‘parto sem dor’ em 2500 pacientes gestantes na França, e teve êxito em 88% delas. O médico, por sua vez, criou seu método a partir da noção de reflexo condicionado, que foi descoberto pelo fisiologista russo Pavlov, em 1918. “Eu ampliei as técnicas e tirei algumas que hoje sabemos que não eram tão eficientes”, explica Adriana.

Para chegar ao resultado desejado, a doula indica de dez a quinze sessões, de uma hora de duração, em que são trabalhados a respiração e o relaxamento da mãe, para conseguir realizar o bloqueio da dor e a promoção da analgesia endógena por meio de um método neurodinâmico.

Segundo Adriana, a dor pode ser bloqueada através de estímulos cruzados. Isso porque existem dois tipos de estímulos para a dor: os interoceptivo, que vêm de dentro do útero e dos músculos envolvidos na dilatação e que são lentos; e os nocioceptivos, que são de via rápida e tátil. Com a promoção de estímulos nocioceptivos externos (que são rápidos), é possível interromper os estímulos lentos, que são os interoceptivos (que vem de dentro dos órgãos e dos músculos para o cérebro).

“Quando eu uso esses outros estímulos, eu faço uma competição com eles, e como a via que eu estou utilizando é mais rápida, eu consigo ativar no cérebro os estímulos que eu quero que a parturiente sinta, e não os que ela estava sentindo. Isso é o bloqueio da dor”, explica.

Outra forma de diminuir a dor é por meio da promoção da analgesia endógena. Neste caso, a ideia é secretar na corrente sanguínea substâncias que promovem a liberação de endorfina, uma substância que causa analgesia naturalmente. A doula consegue isso por meio da dança. “[A dança] libera cerotonina, que é uma substância que é ativadora de ocitocina. A ocitocina vai causar a dilatação na gestante, e isso vai condicionar ainda mais o trabalho de parto e favorecê-lo”, garante.

Treinamento

O ideal, segundo a doula, é que ela não precise estar presente no dia do parto para que a gestante consiga realizar todo este processo. Por isso que o treinamento, durante as dez a quinze sessões, é tão importante.

Durante este tempo, a parturiente treina respiração, relaxamento, descobre a posição que ela quer parir, quem ela quer que esteja ao seu lado, como ela quer que seja o ambiente, que música quer que toque, etc. “Por exemplo, se ela relaciona a dor a uma dor pontiaguda, aguda, eu não vou ter objetos que lembrem isso no ambiente do parto. Se ela relaciona que a dor dela é vermelha, eu vou evitar a cor vermelha na hora do parto”, explica.

Uma das pacientes durante o treinamento (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Por este motivo, o tratamento é feito de forma individual, e não em grupos, já que cada gestante tem sua forma ideal de dar à luz. “O trabalho que eu faço hoje não é condicioná-la a uma dependência de mim, da minha presença. Ela está totalmente independente. Porque o parto é da mãe. Eu a torno ativa pro trabalho de parto. O parto é dela, quem vai fazer é ela. As outras pessoas, mesmo o médico, são coadjuvantes nesse trabalho, porque por mais que ele queira ajudar, quem faz o parto é a mãe”, garante.

Uma das pacientes de Adriana é Luma Macedo Gonçalves, de 25 anos. Ela está grávida pela primeira vez, e contou ao Olhar Conceito que chegou a pensar em fazer uma cesárea, somente por medo do parto natural. “Eu tinha muito medo. Eu tinha vontade de fazer o parto natural, mas eu iria optar pela cesárea porque o parto natural depende de mim, e eu não sabia como fazer, não sabia o que ia acontecer na hora. E ela foi me explicando... foi como se eu assistisse de cima tudo o que ela falava e ia acontecendo”.

Segundo Luma, uma das principais diferenças foi em relação ao tempo dedicado à consulta. “Eu encontrei aqui o que eu não encontrava nas consultas com o ginecologista. Lá era muito rápido, e não tinha tempo pra tirar as minhas dúvidas, sempre tinham várias mães na fila. E aqui não. Aqui é tranquilo, ela me responde tudo”.



A gestante já escolheu como quer seu parto: sentada em um banquinho, com o marido Murilo Moura, 29, dando suporte. No entanto, outro ensinamento importante de Adriana é o de lidar com a frustração. “Porque não adianta gerar varias expectativas e, ao chegar lá, [se] a equipe não contribui... você também tem que saber se blindar, pra que se as expectativas não forem dentro do que você queria, você ainda assim possa fazer o melhor”, explica.

Trabalho voluntário

Além das pacientes que atende de forma particular, Adriana também realiza um trabalho voluntário, todas as quartas-feiras, no Hospital Santa Helena. Neste caso, o treinamento é realizado somente na hora do parto. “Lá eu tenho aplicado várias técnicas pra esse controle, a técnica de bloqueio, mas são mais rápidas”, conta. “Mas tem funcionado em 69%, 70% das gestantes”.

Apesar da porcentagem, a doula explica que este método é eficaz, mas não eficiente, já que a gestante não treinou, e vai ter que aprender na hora as técnicas. Segundo Adriana, um dos maiores problemas, e uma das formas mais simples de tornar o parto algo não traumático, é dando informações para a gestante. Uma informação simples como, por exemplo, com quantos centímetros de dilatação ela vai parir. “Eu chego e falo: você sabe que com 10 centímetros você vai ganhar? E o que acontece? Eu já mudo tudo pra ela! Porque ela já sabe a linha de chegada”.

Para a doula, a realização deste trabalho e a ressignificação do parto é muito gratificante. “Todas as mulheres merecem ter um parto assim”, afirma. “A gente cresce sem saber o que é um trabalho de parto, e o que acontece na TV, na mídia, é mostrar que dói. Que é horrível, que a mulher está se matando de dor. Essa realidade não é pra todo mundo. Tem algumas que sentem? Sim, [porque] o limiar de tolerância dela é baixo. Mas se ela tiver todo um treinamento, o que acontece quando você põe seu cérebro no controle é fantástico. Você é capaz de qualquer coisa. Então isso é diferente, a mulher se sente segura sabendo o que vai acontecer”, finaliza.

Serviço

Adriana Telles atende no Espaço Piu Vita – Rua Comandante Costa, 1300 – Centro Sul
Informações e agendamentos: (65) 99801-9986 / (65) 3056-7800 / dritell@gmail.com
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