Olhar Conceito

Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Colunas

Animação de Bolognesi traz história de amor baseada em lutas populares

Em quatro atos, Luis Bolognesi, retrata a história do Brasil, com direito a previsões apocalípticas sobre o futuro do país. Bolognesi notabilizou-se no cinema, por escrever roteiros para os filmes dirigidos pela esposa, Laís Bodanzky, dentre as obras, o plausível Bicho de Sete Cabeças (2001). Desta vez, o roteirista assina a direção do longa-metragem em formato de animação.

"Uma história de amor e fúria", de 2013, tem como foco dramático o amor vivido entre um casal de índios tupinambás sempre separados pela morte. Por magia, fruto de uma benção divina, que também o permite voar, o protagonista (voz de Selton Mello) se metamorfoseia em pássaro em momentos de extrema dor, só voltando ao corpo humano, novamente, quando reencontra sua amada (voz de Camila Pitanga) reencarnada em outros corpos. São mais de 600 anos, divididos entre o corpo humano e o corpo de pássaro.



A primeira separação acontece no confronto com os tupiniquins, motivado pelo conflito dos colonizadores portugueses e franceses. No segundo ato, eles se reencontram como negros, no período regencial, ele na pele do histórico Balaio, líder da Balaiada. Voltam a amar-se durante a ditadura militar. E no último ato, vivem o caos da falta de água, no Rio de Janeiro controlado por milícias, em 2096.

Como já entrega o título, o filme tem sua trama norteada, tanto pelo amor, quanto pela revolta e violência. Nota-se aí, o intento do diretor em transformar a grandiosa história das lutas populares, no Brasil, em um produto mais aceitável e comercial.

A escolha é apelativa, beirando ao gratuito. Não que a riqueza desta herança não deva ser contada ao público nos blockbusters. Deve sim, ser gritada! Mas gritada, sem os ruídos que a abafam.

As revoltas e levantes populares da nossa história são belas e tristes. Belas pela forma como são incitadas: a união dos revoltosos em torno de sua causa. Todavia, também são tristes, com finais aparados pela repressão descomunal do estado e das elites. Bolognesi torna essa repressão visível na história do casal: sempre que os levantes perdem, os amantes são separados, só permanecem juntos quando vencem também o embate social.

O que incomoda, no filme, é a sua curta extensão ante a profundidade proposta, tanto pelos recortes históricos, quanto pelo próprio enredo. Não há muito tempo para se acostumar e conhecer bem os protagonistas.

Tudo muda muito rápido. Não ficam claras as mudanças que as épocas e as conjunturas causam no caráter deles. Talvez menos atos, talvez uma duração maior, mas é imperativo que a obra necessitaria de atos mais longos.

Também não é clara a predileção do estilo de desenho japonês para contar uma história tão pouco global. Seria a intenção de o diretor maximizar seu público se valendo do bem-sucedido estilo nipônico?

Quem ver "Uma história de amor e fúria" estará à frente de uma obra com muitos elementos inéditos, seja pela animação peculiar para o cinema nacional, seja pela construção do roteiro com recortes históricos e ficção científica. É um filme necessário. Mas sua presença esbarra no próprio potencial não alcançado: um longa que versa sobre a história do Brasil, mas de maneira superficial e panorâmica.




Comentários no Facebook

Sitevip Internet