Quando não está em Cuiabá, o fotógrafo Fábio Motta está em São Paulo. Lá, ele mora desde 2004 em um dos cartões postais da cidade, o edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer na década de 1950. Entre os lugares descolados que vão de bares a galerias os mais de 5 mil moradores ele já é figura célebre com direito a ganhar um prêmio, que assim, tortamente, vem simbolizado por uma multa.

É que uma brincadeira entre amigos nas dependências do prédio não foi bem vista pela administração do edifício, mas chamou a atenção de veículos importantes da imprensa nacional como a Marie Claire e Folha de São Paulo, porque é pura arte. De descontração a tornar-se o projeto Curvas Concretas foi um pulo. 

Amigos foram fotografados em atitudes fetichistas e o resultado é uma belíssima série de corpos nus que ora se harmonizam com a arquitetura de Niemeyer, ora se entremeiam às dependências do prédio como escadarias e saídas de emergência.

Tudo com um certo ar de clandestinidade, um universo paralelo muito abordado no trabalho de fotógrafos que representam a arte contemporânea, como David La Chapelle e Nan Goldin. “Sempre fazia umas reuniões com amigos e numa dessas uma amiga quis fazer umas fotos nua no corredor do meu bloco. Depois dessa foto, não parei mais. Mas já aviso: as fotos nas áreas comuns do prédio não serão mais feitas. Com essa brincadeira levei uma multa de dois salários mínimos”, se diverte Motta. Ele explica que ao idealizar o conceito as curvas das mulheres se fundiam à arquitetura. “O projeto começou com mulheres, mas depois que foi vetado pela administração do prédio, comecei a fazer homens também”. E aí, só lhe restou explorar seu apê. A subversão continua.

Mas ao que parece a série se estende aos limites geográficos do Copan de São Paulo, pois atualmente em Cuiabá na produção da revista Corpo e Arte, tem se aventurado a explorar a mesma estética, mas desta vez, no ambiente selvagem do Cerrado de Chapada dos Guimarães.

Provando que a paisagem diurna também pode ser dotada da contravenção sensual que baseia seus ensaios noturnos na capital paulista. Os corpos glamurosos, salto alto, máscaras e esmaltes vermelhos e estampa de onça dão lugares a roupas molhadas, capacetes e panos emoldurando corpos. Em algumas delas, sensações surrealistas.



Fábio Motta começou sua carreira de fotógrafo como profissional voltado ao “social-moda-arte”, como explica. “Comecei trabalhando para o site da Érika Palomino passando por agências de publicidades, jornais e revistas”. A relação que desenvolve com Cuiabá tem muito a ver com laços fraternais. “Hoje em dia gosto muito de passar meses aqui, família, amigos e trabalho. Tudo perfeito. Mas, São Paulo é pra sempre!! Foi lá que aprendi a viver”. Entre os próximos projetos ele destaca a parceria com Cassia Tabatini. “Estamos lançando a FORT Magazine que é uma revista só com retratos masculinos e que conta com colaboração de fotógrafos do mundo todo”.

Mas e aqui, em Cuiabá, será que ele conseguiria se dedicar inteiramente à arte contemporânea? Questionado sobre esse mercado, ele avalia que há espaço para fotografia de casamento, política e regionalidades. “Mas para arte contemporânea é bem fraco”.



Ainda assim, Fábio Motta já se dedicou a desbravar a falta de oportunidades para este nicho e integrou dois projetos em Cuiabá que renderam duas exposições. Em uma delas fez releituras das obras de João Sebastião, o que deu origem ao “Novas narrativas a partir de João Sebastião por Fábio Motta” e ainda, Paisagem Ferida.



Quem quiser conhecer mais de sua arte pode acessar o blog https://damottafabio.wordpress.com/ e o tumblr tb: http://damottafabio.tumblr.com/, além do Instagram @mottafabio em que mostra registros diários do seu cotidiano e de sua arte.