O bairro é famoso nos noticiários pela periculosidade e violência. Os boletins de ocorrência repetem este nome diversas vezes nos casos mais sangrentos e bizarros de Cuiabá. Mas formar uma imagem sobre uma região baseado apenas em relatórios policiais é deixar de lado todo o resto que o lugar tem a oferecer. É o caso do Pedra 90.

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Toda quinta-feira à noite e domingo de manhã, a Praça Cultural do bairro recebe a feira livre, que além de frutas e verduras, também oferece aos transeuntes tapioca, água de coco, sucos, batata frita, roupas de todos os tipos, bijuterias, DVDs, dentre outros. As barracas são montadas na rua lateral da praça, formando um ”corredor do comércio”. Lá, famílias, casais, adolescentes e crianças passeiam olhando os produtos e beliscando algo de comer.



Isaías Barbosa da Silva e sua esposa, Flávia Renata da Silva, têm uma barraca de tapioca e batata frita na feira livre há 10 meses. Com seu falar tímido e movimentos contidos, Isaías conta que os domingos são mais agitados na venda de verduras, leites e frutas, mas as quintas-feiras lotam pelas opções de lazer. Sentado atrás de seu balcão temporário, o comerciante conta que gosta quando a feira é agitada, pois conhece pessoas, conversa sobre os casos da região e ouve histórias.

De fato, as mercadorias não são a principal atração da feira livre. Na verdade, o forte do local é a interação social. Assim como na Praça Popular, ponto de encontro da classe social mais alta de Cuiabá, a Praça Cultural do Pedra 90 é rodeada de estabelecimentos, sejam eles restaurantes ou lojas. Mas a diferença entre as duas, além dos preços, é que, no Pedra 90, os eventos, encontros e real agitação é, realmente, no meio da praça.



E isto é verdade principalmente na quinta-feira, quando outra programação torna o local mais atrativo. Um DJ da comunidade, conhecido apenas como “Saci”, desenvolve um projeto cultural com os jovens. Neste dia em específico, o DJ traz algum evento, geralmente shows no palco próprio da praça, para a população. Tocam funk, sertanejo, samba, dentre outros. Este projeto já faz tanto sucesso no Pedra 90 que pessoas de outros bairros vão à Praça Cultural para participar.

Por volta das sete horas, o movimento começa. No meio da praça, há, nos olhos das crianças, um parque de diversão. São camas elásticas, escorregadores infláveis, navio pirata, motocas infantis. Os pequenos pedalam suas bicicletas de um lado para o outro pelo espaço aberto. Correm, brincam entre si e fazem a festa. Ao lado da feira, alguns estabelecimentos montam mesas e oferecem diversos tipos de comidas. E é de lá que os pais, com seus olhos vigilantes, observam os movimentos de suas crianças.



Para além dos brinquedos e do frenesi infantil, outro tipo de agitação: Próximo às quadras e ao palco, os adolescentes começam a se reunir para esperar o evento desta quinta. Alguns jogam vôlei, outros sentam-se no palco em grupos e terceiros andam de skate. Um cheiro forte de maconha indica que um ou outro estão se entretendo com substâncias ilícitas. Mas a maioria aproveitava a energia típica juventude com esportes.

Na quinta-feira em que esta reportagem foi feita (30 de janeiro), o evento estava ameaçado de não ocorrer por conta de uma chuva iminente. De fato, o DJ Saci não havia chegado para o evento às oito horas. Bruna Weiler participa destes eventos toda semana, mas como comerciante.



Longe da feira livre, mas junto ao local onde os adolescentes se concentram, Bruna monta uma barraca de bebidas. De acordo com ela, este projeto cultural se desenvolve da seguinte maneira: O DJ Saci liga um carro de som, anuncia e divulga projetos e acontecimentos da região e depois passa a vez para algum cantor ou grupo musical, que agita cerca de 300 pessoas. Durante o período de férias, os eventos deixaram de acontecer. Mas agora prometem voltar com a mesma animação de antes. Todas as quintas.