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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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"Um brilho sem barulho" é o início da narrativa de John Hershey em "Hiroshima"; jornalismo narra realidade e vira arte

Foto: Reprodução

“Um brilho sem barulho” é o primeiro capítulo do livro-reportagem de John Hershey “Hiroshima” lançado em 1946, pela revista The New Yorker, e que viria a ser uma das mais aclamadas publicações naquilo que se conhece como “New Journalism” que abre caminho para o jornalismo literário.

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Este brilho sem barulho é a bomba atômica que caiu na cidade de Hiroshima, em uma segunda-feira, no dia 5 de agosto de 1945 às 8h15. Hershey acompanha a trajetória de seis personagens que tiveram as vidas afetadas com o bombardeio.

E os que viram o ataque, mesmo há quilômetros de distância, não ouviram nenhum som. Apenas luz. Uma forte luz, que os cegaria, e os tiraria de uma manhã rotineira e calma, para o maior inferno que poderiam vivenciar. O som só pode ser escutado pelas cidades vizinhas à Hiroshima.

A bomba caiu e matou instantaneamente 80 mil pessoas. O saldo total de mortes foi de 250 mil. Era a Segunda Guerra Mundial, e o Japão havia sido atacado pelos Estados Unidos. A bomba atômica redefiniria os caminhos da guerra.



O livro narra as vivências desta fatídica experiência pelos olhos do reverendo Kiyoshi Tanimoto, pela viúva e mãe de três crianças Hatsuyo Nakamura, por um médico proprietário de um hospital privado, Dr. Masakazu Fujii, pelo Padre Wilhelm Kleinsorge, pelo jovem médico da Cruz Vermelha, Dr. Terufumi Sasaki e por uma funcionária administrativa, Toshiko Sasaki.

E a história que Hershey contou chocou o mundo, principalmente, os Estados Unidos, em que a população não tinha sequer noção do que causaria um ataque com uma bomba atômica. A vida de pessoas comuns que tiveram o mundo abalado por uma guerra foi trazida à tona naquilo que tem de mais literário: a própria realidade.

O livro foi publicado à partir de uma reportagem. O conteúdo é inteiramente jornalístico. Mas cada linha da escrita de Hershey faz arrepiar. Porque a verdade contida ali pode ser sentida na pele. O impacto da bomba é narrado pelos personagens como sendo um ‘vácuo’. Uma força que puxa tudo para o seu epicentro, sem deixar rastros para trás.



Um dos trechos mais chocantes do livro é quando um dos personagens (falha a memória para lembrar com exatidão qual deles), passa por cima dos corpos sem vida pelos escombros do que havia sido Hiroshima antes das 8h15 do dia 5 de agosto de 1945. Na cultura japonesa, é muito forte o auxílio ao próximo, e o personagem pede perdão por estar vivo, e não poder ajudar aos que ainda respiram em meio a morte. Perdão por estar vivo. Era melhor estar morto junto com todos os que tiveram as vidas ceifadas pela bomba.

Outra passagem do livro que realmente dá a dimensão exata do que foi a bomba atômica, é sobre as mãos que surgiam daqueles que ainda agonizavam perto do fim. “As peles das mãos se desprendiam como luvas”.

A trajetória dos personagens é narrada antes do ataque, durante e depois. E o resultado disso é uma obra de arte. É a prova de que toda a desumanidade que existiu naquele ataque pode resultar em um grito humano contra a imposição de uma guerra.

“Hiroshima” não foi apenas um dos maiores livros-reportagens já escritos (a discussão aqui não perpassa pela questão dos gêneros, já que jornalismo e a realidade resultaram em literatura da vida), mas foi um alerta para aquilo que os homens colocam à frente de suas vidas. O grito de Hershey é pela falta de humanidade nos motivos que levam a uma guerra, é um grito de morte.
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