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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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Escritora cuiabana Ryane Leão espalha poesia em meio ao caos de São Paulo: o grito para se fazer ouvir

Foto: Divulgação

Ryane Leão

Ryane Leão

Palavras, palavras e palavras. Escrever e escrever. O sentido é vomitar a essência do ser, a dor, a melancolia, a saudade, o desespero. É o grito. Escrever é gritar a angústia da alma. E para se fazer ouvir no silêncio das palavras, entre o ensurdecedor barulho do trânsito e o caos infinito de São Paulo, a escritora cuiabana, Ryane Leão, atira sua poesia pela cidade, para tocar os desavisados, para mudar algo no ambiente cinza, de concreto, duro como deve ser a vida.

Como uma metralhadora, trilhando o caminho dos malditos, dos despudorados, Ryane Leão deixa São Paulo com ares poéticos. Desce a Rua Augusta com uma cerveja na mão e o coração em sangue na outra, e assim, entre prédios e ruas, pessoas e sonhos, a escritora deixa a sua marca nas paredes. Pede amor, suplica o perdão, não tem medo de arriscar, nem de ser o que é, e para enfrentar o concreto que cresce aos olhos tristes de quem contempla a cidade, escreve, e traduz o sofrimento e a dor em poesia.

É assim. Escrever é o grito da dor, ela denomina a literatura como a própria vida, que a move, e a faz espalhar um pouco do que é nas paredes frias da cidade em que tanto amou. As intervenções de Ryane Leão trazem para São Paulo, sua literatura quente, triste e revolta.

“Acredito que encontrei uma saída com a escrita. Uma arma, uma solução, um sentido. E isso basta, ou pelo menos tem bastado”, esclarece.

De Cuiabá para São Paulo, e é na maior cidade do Brasil que a literatura de Ryane mora. “A primeira vez que vim para cá depois de mais velha, o taxista disse: ‘cidade suja, né? Olha esses muros’. E eu respondi que achava incrível. Tenho tatuagens que saíram dessa convivência diária com a poesia nas ruas. Eu olho a cidade e vejo a necessidade do grito (em todas as suas formas). E eu preciso gritar ali também”, explica.

Gritar para ser ouvida em meio ao passar incessante de carros, pessoas, desilusões. Nos postes, nas paredes, em qualquer lugar: lá estão seus poemas. “Quando as pessoas veem minha alma espalhada por aí e vem dizer que aquilo mudou alguma coisa nelas, eu vejo que não-posso-parar-nunca. As ruas alimentam meu trabalho e eu as alimento também”, conta.

As intervenções são mais um modo de espalhar aquilo que a aflige, que a consome e a alimenta, e já estuda ampliar isto para Cuiabá e Rio de Janeiro. Além de trilhar as ruas da cidade em busca de um pouco de magia (mesmo que a encontre apenas no fundo de um copo de cerveja), Ryane também disponibiliza suas fotos artísticas e sua literatura, na página do Facebok “Onde jazz meu coração”, que já possui mais de dois mil seguidores. Na bagagem: um romance e um livro de contos prontos e a espera de publicação. Mas Ryane já sabia que não seria fácil.

“Sabe quando alguém diz ‘that’s my thing’? É isso que sinto com a literatura. Preciso escrever para me sentir viva. E uma coisa complementa a outra, porque também preciso viver para escrever”, explica.

Em meio aos sonhos despedaçados, influenciada por nomes como Clara Averbuck, Leminski, Bukowski, Fante, Caio Fernando Abreu, Eduardo Galeano, entre outros, Ryane Leão traça seu caminho em um cenário caótico. “Eu só quero estar viva em meio ao caos”, mesmo que “São Paulo seja a cidade dos olhos cansados”, e “É sempre perigoso sentir vontade de voltar”, até porque “Eu não sou de fingir amor”.

E assim ela espera, entre um gole de cerveja e uma tragada de cigarro, e cita Bukowski: “a escrita é o derradeiro psiquiatra, o mais gentil deus de todos os deuses. a escrita afasta a morte. nunca te abandona. e a escrita ri-se dela própria, da dor. é a última esperança, e a última explicação. é isso que é”.
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