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Segunda-feira, 07 de outubro de 2024

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diagnosticado com alzheimer

Plantões noturnos e canabidiol para crises: família se une para cuidar de cachorro de 15 anos

Foto: Reprodução

Plantões noturnos e canabidiol para crises: família se une para cuidar de cachorro de 15 anos
Há dois anos, Max, da raça Shiba Inu, foi diagnosticado com Síndrome da Disfunção Cognitiva Canina, popularmente conhecida como Alzheimer canino pela semelhança de sintomas, após os tutores notarem mudanças de comportamento. Atualmente, Max está com 15 anos, mas chegou na família Neres ainda filhote quando eles moravam nos Estados Unidos. 


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O empresário Josué Neres, a esposa Rosires da Silva Neres e o filho do casal Erick Neres, se dividem na rotina de cuidados na casa em que moram com Max, em Rondonópolis (MT). Por conta da doença, ele perdeu a autonomia de realizar necessidades básicas como se alimentar e beber água. 

Em uma prancheta, Josué, Rosires e Erick anotam os horários em que a água é oferecida para Max em uma seringa, já a alimentação precisa ser acompanhada de perto. O empresário conta que eles colocam os grãos de ração na mão para que o cachorro consiga comer. 

“Nós estabelecemos rotina para tudo, hora do remédio, tomar água, comer e levar ele para fazer as necessidades. Uma das coisas que nos impactou muito é que ele chegava diante da comida, estava com fome, olhava, olhava, e não conseguia comer sozinho. O mesmo com a água, ele ficava olhando, as vezes entrava dentro da vasilha, tropeçava e não conseguia tomar. O quadro dele se agravou muito rápido”. 

Família se reveza para dar qualidade de vida e conforto para Max, que hoje tem 15 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Antes do tratamento ser ajustado, com ajuda de Erick que é médico e atua na área de medicina integrativa, Max chegou a ter crises que duravam até 12 horas. Erick começou a pesquisar sobre a Alzheimer canina e conversar sobre o caso de Max com outros amigos veterinários, até que encontrou o veterinário Alexandre Lacerda, especializado em medicina integrativa. 

“Somos dois profissionais conversando a mesma língua de áreas diferentes. Discutimos sobre as medicações e o que fazer, agora vamos entrar um pouco mais forte com o canabidiol, fazendo algumas mudanças, para ver se melhora as crises dele. Antes ele tinha crises todos os dias, de até 12 horas, latindo sem parar, era toda noite”, explica. 

“Depois começou a reduzir para uma ou duas vezes na semana e não é mais 12 horas, é uma ou duas horas e ele não late mais, fica resmungando, como se algo tivesse incomodando ele, ele caminha para lá e para cá, ficamos cuidando das necessidades que ele tem. O canabidiol que estamos usando não é um que é muito específico para o caso dele, mas já ajudou”, continua. 

Em breve o tratamento com canabidiol de Max vai passar por uma nova mudança, como conta o médico. O objetivo é reduzir as crises em até 100% e fazer com que o cachorro volte a dormir. “Se conseguirmos que ele durma a noite inteira, será sucesso para nós”, resume Erick. 
 

A chegada de Max 

Max entrou na família Neres em 2008, quando eles passaram uma temporada em Austin, no Texas (EUA). Na época, Erick tinha 14 anos e, se sentindo sozinho em um novo país, pediu aos pais para ter um cachorro. Desde então, o médico já viveu “metade da vida” ao lado do Shiba Inu que nasceu no Arizona (EUA). 

“Quis muito ter o Max, fiquei muito feliz, porque estava meio sozinho lá, queria um parceirinho para mim, para brincar comigo e meus amigos. Quando ele chegou fiquei animado para caramba, lembro que tem algumas fotos minhas com ele no colo, ele era bem pequenininho, mal cabia no meu tronco”. 

Erick lembra que sempre que saía, levava Max junto “para cima e para baixo”. Para ele, a chegada do cachorro lhe deu noções de responsabilidade e cuidado, já que ele se responsabilizava por passear com Max e não deixá-lo sozinho. 

“Fiquei muito feliz, porque finalmente tinha o parceirinho que queria. Cuidava dele naquela coisa de já ser pai, um treino para ser pai. Pai aos 14 anos. Me deu noção de responsabilidade, acordava antes de ir para escola para levar para passear, brincar com ele, no final do dia já estava doido para voltar para casa e levar ele para brincar”. 


Max entrou para a família Neres em 2008, quando eles moravam em Austin, no Texas (EUA). (Foto: Arquivo pessoal)

Foram sete anos nos Estados Unidos até que a família decidiu voltar para o Brasil, mais especificamente para Maringá (PR). Max, claro, veio junto e se tornou sensação em uma das praças da nova cidade. 

“O Erick conseguiu ensinar muitas coisas para ele, coisas impressionantes, ele mandava espirrar, o Max espirrava, pegava bolinha, fazia coisas que parecia que estávamos conversando com ele e ele entendendo tudo”, lembra Josué. 

Quando chegou o momento de Erick começar a faculdade, ele precisou tomar uma decisão difícil e deixar Max com os pais, já que os próximos anos seriam na rotina de universitário em uma nova cidade. 

“Visitava ele nas férias quando ia ver meus pais. Um mês antes mais ou menos ele já começava a falar para o Max que eu estava chegando, na quinta-feira ele ficava na porta de casa esperando eu chegar, as vezes eu chegava só a noite, mas ele ficava na porta esperando. Toda vez que chegava em casa, ele sempre dava um sorriso, fazia aquela festa”. 

“Como trabalho muito online, o Max era o parceirinho que ficava ali do meu lado, acompanhava tudo, é um cachorro bem parceiro e apegado à família”, completa Josué. 

O pai de Erick explica que um dos sinais que acenderam um alerta sobre o comportamento de Max foi a ausência de festa quando o médico ou Rosires chegavam em casa, algo que antes era corriqueiro. Além disso, o cachorro também começou a ter dificuldade para se locomover entre os móveis da residência, tropeçando algumas vezes. 

“Os sinais começaram quando ele tinha 12 anos, há dois anos, ele começou a bater nas coisas em casa, no vidro, tropeçava em algumas coisas, começamos a pensar que ele estava velho, que estava cego e não estava mais interessado. Ele perdeu mesmo o interesse pelos brinquedos. Todo mundo achou que era assim mesmo por conta da idade”. 

Max, então, passou por uma cirurgia de catarata, opção apresentada à família para proporcionar mais qualidade de vida para o cachorro. No entanto, Erick explica que, algum tempo depois, eles descobriram que a anestesia e a sedação aceleraram o avanço dos sintomas de Alzheimer. 

“Falando com o veterinário que nos acompanha, o dr. Alexandre Lacerda, ele diz que tem algo relacionado com a anestesia e sedação que foi usada no procedimento cirúrgico. Não é a cirurgia do olho em específico, mas qualquer procedimento cirúrgico que tenha essa sedação e anestesia muitas vezes desencadeia esse tipo de sintoma em outros cachorros. Ele estava tranquilo, depois disso piorou”. 
 

Qualidade de vida após o diagnóstico 

O diagnóstico de Alzheimer canino chegou algum tempo depois e Josué ainda se lembra de como passou quase 12 horas buscando informações sobre a nova situação de Max. Assim como a esposa e o filho, ele não sabia que cachorros poderiam ter a doença. No início, por conta da falta de informação, o empresário chegou a se sentir culpado por não estar proporcionando o que o Shiba Inu precisava nos momentos de crise. 

“Começaram as crises de latidos frequentes e contínuos, dormia o dia todo e a noite, por volta das 22h, começa a latir, como se ele tivesse tendo um episódio de desespero e pânico. Como acontece com os seres humanos. Na época, a minha esposa começou a cuidar dele, levantava às 22h e ficava com ele até o dia amanhecer”. 

“Depois fui compreender que todos os sintomas que ele tinha eram relacionados ao Alzheimer e que ele não fazia aquilo porque queria, por isso fiquei com aquele sentimento de culpa. Comecei a compartilhar os vídeos dele, porque hoje o Erick tem mais ocupações, minha esposa tem uma clínica de estética, também tem que ir todo dia, eu que fico mais em casa, então voltou a nossa parceria de antes, cuido dele com muito carinho”, continua. 

Max foi diagnosticado com Alzheimer canino há dois anos quando uma cirurgia agravou os sintomas da doença. (Foto: Arquivo pessoal)

O primeiro vídeo publicado no Instagram de Josué é de quando Max ainda não havia sido diagnosticado e as crises noturnas eram intensas. Preocupada com a vizinhança e com a saúde do cachorro, a esposa do empresário costumava passar a noite em claro. 

“Conversei com ela e fui gravando, ela calminha dizendo que estava incomodando os vizinhos, fui insistindo, perguntei se ela não achava que era excesso de amor, mas ela negava, disse que tinha que cuidar do cachorrinho. Postei nas redes sociais, imaginei que as pessoas iriam falar que ela estava exagerando, mas foi o contrário, o vídeo viralizou e todo mundo dando apoio. Logo em seguida chegou o diagnóstico de Alzheimer”. 

Desde então, os vídeos da rotina de Max alcançaram milhares de visualizações no Instagram e no Tik Tok. A maioria dos comentários são de pessoas que também não sabiam que cachorros podem ter Alzheimer. Hoje, o objetivo da família é alertar sobre os sintomas para que eles sejam identificados ainda nos primeiros sinais. 

“A gente achava que estava passando por uma coisa que era única, que só a gente tinha esse problema, mas descobrimos milhares de pessoas passando por isso e que se identificam. Algumas pessoas notaram os sintomas nos cachorros, levaram no veterinário e receberam o diagnóstico de Alzheimer. Fico feliz por poder ajudar”, conta Josué. 

Alguns dos comentários também questionam a família por não considerarem a eutanásia de Max. O empresário explica que a decisão não seria fácil, mas que eles fariam em caso de sofrimento extremo do cachorro, mas Josué, Erick e o veterinário responsável pelo acompanhamento consideram que Max tem qualidade de vida. 

“Não seria fácil, mas seria possível se ele estivesse em sofrimento, se a gente não pudesse dar qualidade de vida, porque é a nossa dedicação por ele é feita de coração, de amor, ele se tornou um velhinho bebê, é como se fosse um bebezinho. Não vejo como se fosse um sacrifício”, explica Josué. 

“O nosso sofrimento não justifica a eutanásia, o sofrimento dele, sim. Como ele não tem esse sofrimento, então não é uma opção para nós a eutanásia. Acho que ninguém questionaria se eu estivesse cuidando do meu pai nessa condição, para nós é mais ou menos a mesma situação”, completa Erick. 
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