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Domingo, 28 de abril de 2024

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PÃES, GELEIAS E MASSAS

Inspirada em doces da mãe, cozinheira de MT abre negócio após passagem por restaurante de jurado do Masterchef

Foto: Reprodução

Maria Elisa nasceu em Alto Araguaia, mas trabalhava na área de pesquisa e desenvolvimento de biopesticidas na zona rural de Rondonópolis

Maria Elisa nasceu em Alto Araguaia, mas trabalhava na área de pesquisa e desenvolvimento de biopesticidas na zona rural de Rondonópolis

Sintomas de burnout (estafa) fizeram com que a bióloga Maria Elisa Crispim, de 31 anos, repensasse a carreira profissional e lembrasse os momentos felizes em que observava a mãe preparar tachos de doces ou pães artesanais que ela ajudava a sovar ainda criança. Inspirada pela mãe, ela decidiu começar a fazer geleias, pães e massas frescas. No começo, vendia apenas para os amigos, mas não demorou para que a "Cozinha Maracajá" nascesse. 

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Ainda morando em Rondonópolis (a 214 km de Cuiabá), Maria Elisa começou a testar algumas receitas antigas da mãe. As geleias e os antepastos caseiros fizeram sucesso, mas ela decidiu que precisava mergulhar ainda mais no universo da gastronomia. Depois de cinco anos trabalhando em um laboratório na zona rural da cidade, Maria Elisa deixou o emprego e se mudou para Cuiabá. 

“Foi quando decidi mesmo que a Biologia ficaria em segundo plano. Vim para Cuiabá para trabalhar nos restaurantes, porque aqui existem mais possibilidades. Trabalhei no Paris 6, no Verso e no Salamanco”. 

Depois da temporada nos restaurantes cuiabanos e certa de que queria atuar como cozinheira, ela voou ainda mais longe. Em São Paulo (SP), Maria Elisa fez um curso de panificação na Le Cordon Bleu, já que pretendia comercializar pães artesanais em Cuiabá.

Durante a passagem pela capital paulista, seu caminho e do renomado chef Rodrigo Oliveira, o “Mocotó”, que comanda o “Balaio”, se cruzaram. Ela define a passagem pelo restaurante de Mocotó como determinante para a mudança de carreira. 

“Fui lá um dia para almoçar e conhecer. Ele [Rodrigo Oliveira] estava lá, fiquei perdidamente apaixonada pelo lugar e ele foi um querido. Conversou comigo, disse que era um prazer cozinhar para cozinheiros, levou uma sobremesa de presente e me chamou para conhecer a cozinha. Ele deixou o convite [do estágio] em aberto e eu voltei. Foi uma passagem rápida, mas muito valorosa”. 

No Balaio IMS, que fica dentro do Instituto Moreira Sales (IMS), na avenida Paulista, coração de São Paulo, Maria Elisa teve a experiência de conhecer um pouco da rotina de um restaurante que está entre os Bib Gourmand na Estrela Michelin de São Paulo.

“É correria mesmo, tem bastante movimento, até pela localização. No começo fiquei na cozinha de produção, depois acompanhei um pouco a praça de saída. Gostei muito, claro que a primeira semana em qualquer lugar é difícil, mas compensou muito”. 

Rodrigo ficou conhecido como Mocotó por conta do restaurante fundado pelo pai e que funciona até hoje. Assim como Maria Elisa, o chef possui forte ligação com a cozinha familiar. 

Maria Elisa fez curso de panificação na francesa Le Cordon Bleu, em São Paulo (SP), e agora aplica as técnicas em Cuiabá. (Foto: Reprodução)

Gastronomia com sabor de infância 

Maria Elisa brinca que, para ela, a mãe é a melhor chef de cozinha do mundo. Em casa, ela sempre fazia os melhores pratos e, enquanto observava a mãe, prestava atenção nas técnicas de preparo, principalmente quando pão era o prato escolhido. 

“Muito por influência da minha mãe, que é a melhor cozinheira. Cresci com essa influência forte dela, que cozinhava de tudo sempre em casa. Eu sempre acompanhei minha mãe fazer pão desde criança. Sempre acompanhei aquele passo a passo dela. Quando eu estava lá não percebia que estava aprendendo e quando comecei a fazer foi natural”. 

Ela conta que a mãe pedia para que ela segurasse uma bacia enquanto sovava a massa. Ainda pequena, a bióloga já sentia afinidade pelo ato de cozinhar. Maria Elisa também assistia a mãe fazendo doces clássicos de compota em grandes tachos no fogão.

O preferido dela é a receita de doce de caju da mãe, que em breve também chegará ao cardápio, que também conta com opções de abacaxi com pimenta e mamão com laranja. 

“Até hoje minha mãe é uma das grandes chefes de cozinha para mim. Essa coisa de fazer doces é bem dela, o tempo todo ela estava no tacho fazendo doce de compota. Cresci comendo muita geleia e doce. O caju é um clássico dela que também vou colocar no cardápio. Ela não trabalha com isso, mas sempre cozinha em casa”. 

Foram essas lembranças que a ajudaram quando os primeiros sintomas de burnout se manifestaram. Como trabalhava com pesquisa e desenvolvimento de biopesticidas, além de outros produtos biológicos, Maria Elisa passava muito tempo sozinha e dentro do laboratório de uma fazenda na zona rural.

Aos poucos, ela começou a perceber que, apesar de gostar da área de formação, não estava mais realizada profissionalmente. 

“Realmente estava ficando difícil de levar o trabalho, são várias questões. Acordava todos os dias de madrugada para pegar ônibus, ficava o dia lá trancada com os insetos, porque criava os insetos. Foi uma mudança boa. Todo dia depende de mim, estou me movimentando e fazendo coisas novas. É uma rotina nova e mais agitada”. 

Geleias e antepastos comercializados por Maria Elisa foram inspirados nas receitas da mãe. (Foto: Reprodução)

Aos poucos, Maria Elisa também passou a reinventar as receitas que aprendeu em casa. Com as técnicas que tem aprendido ao longo do tempo, incluiu novos doces como cheesecake e tarletes ao cardápio. 

Apaixonada por pães, ela brinca que a experiência dos laboratórios a ajuda a entender o processo químico de fermentação dos pães. Em breve, ela também pretende comercializar massas frescas e molhos artesanais. 

“No começo cheguei a pensar que estava indo para um rumo totalmente diferente da Biologia, que não conseguiria aproveitar o que aprendi nos cinco anos… Mas não é bem assim, o pão é um processo químico, tem as medidas corretas, proporções. Vi que não estava tão longe assim da área”. 

Maria Elisa conta que, no primeiro momento, os pais estranharam a decisão dela de deixar a carreira sólida de cinco anos em pesquisas na área do agro, mas que todos entenderam que o amor pela gastronomia falou mais alto no final. 

“Eles ficaram meio temerosos, porque estava há cinco anos em uma carreira, fazendo pesquisas... Mas eles entenderam. Lá em casa isso é algo muito forte, todos cozinham. Já estava muito nessa vibe. Então quando decidi, eles entenderam e apoiaram”. 

O nome escolhido para o próprio negócio também foi inspirado pela parte bióloga de Maria Elisa. Ela explica que Maracajá é o nome de um gato selvagem que está na lista de animais em extinção. A princípio, a bióloga e cozinheira tem buscado parcerias em Cuiabá para disponibilizar os produtos para a venda. 

As geleias artesanais de Maria Elisa já podem ser encontradas na Padaria Damasco e no restaurante do chef Davi Melo. Apesar de ter apenas seis meses de existência, a Cozinha Maracajá & Café tem rendido bons feedbacks para ela, que se alegra cada vez que um dos pratos é elogiado. 

“É um supra sumo, a melhor coisa que existe: oferecer a comida e a pessoa ficar contente. Sou muito exigente, quero sempre saber se ficou bom. Tenho recebido bons feedbacks. A parceria com o David Melo me encheu de alegria, porque ele é um chef reconhecido e elogiou bastante o produto. É importante, porque estamos engatinhando ainda e aparecer alguém da área elogiando não tem preço”. 
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