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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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COLUNA CINESTESIA

Filme de sobrinha de Carlos Marighella faz registro histório de líder

Imagem do documentário

Imagem do documentário "Marighella": o guerrilheiro e família

É tempo de manifestações populares mediadas por doses exacerbadas de ufanismo, que deixaria Policarpo Quaresma, de Lima barreto, maravilhado. Euforias à parte, este ofício de escrever em coluna me trouxe ideias, e com elas alternativas sobre o tema oportuno deste presente texto. Impossível em tal condição não pensar na história deste país, seus heróis conhecidos, e principalmente, na filmografia que pode registrar total ou fragmentadamente esta história.

Me deparei com Carlos Marighella. Podia ter sido Zumbi dos Palmares, Antonio Conselheiro, Frei Caneca, Balaio...foi Marighella. A culpa é de Isa Grinspum Ferraz, sobrinha do guerrilheiro, que em 2012 foi responsável por roteirizar e dirigir o documentário homônimo do líder da Ação Libertadora Nacional.

A estrutura narrativa de Isa é interessante. Ela divide seu filme em “pistas”, que são separadas por sua narrações, que recordam os flashs da infância em que o tio está presente. O teor lúdico de se dar o volante nas mãos de uma criança é válido, no entanto a pouca convivência, ou memória, da diretora com Marighella, tornam a narração desinteressante em algum ponto da longa.

As “pistas” se dividem em depoimentos, na sua maior parte de ex-membros do PCB e da ALN. Também há espaço para algumas gravações de áudio do próprio Mariguella e intervenções de Lázaro Ramos, interpretando o guerrilheiro urbano.
Acredito que a pesquisa em si já valha a exibição. Tal êxito se deve a proximidade da diretora com o personagem retratado.

Desta forma ela expõe a trajetória que levou o filho de um italiano anarquista e uma negra hauçá a se tornar o líder comunista com status de principal inimigo da ditadura militar brasileira, quando rompeu com o partidão e investiu toda sua energia na guerrilha urbana. Levando até as últimas consequências os conceitos de ação direta, e literalmente a famigerada dicotomia “independência ou morte”,que se fez lema do 7 de setembro.

Mas um trabalho assim requer atenção quanto a seleção do material pesquisado, é aí que em alguns momentos o longa parece ser inadequado. Tendo-se em alguns depoimentos a sensação evidente de se estar vendo uma homenagem nos moldes de Raul Gil e Domingão do Faustão, chato e pouco verossímil.

Enquanto registro histórico, Marighella tem grande valor. É uma parte relevante da história brasileira, uma história digna e bonita, com importantes levantes populares. Serve para negar afirmações equivocadas quanto a cultura do nosso povo, que seria acomodado, alienado por natureza.

Sobre Carlos Marighella, outros filmes também o retratam, como o Batismo de Sangue, 2006, de Helvécio Ratton, e o caricato O que é isso, companheiro?, 1997, de Bruno Barreto. Wagner Moura, pretende estrear na direção em 2014 tendo no centro de sua tela o mesmo revolucionário. Conseguirá Moura fazer do esquerdista um herói tão popular quanto foi o seu Capitão Nascimento? Eis o seu desafio. Talvez com a direção de Moura, a Globo Filmes se interesse na distribuição, assim o guerrilheiro, que tomava bancos, poderá tomar de assalto as grandes salas de cinema. Parece paradoxal? Então ainda não viu o mea culpa do O Globo pelo apoio ao Golpe de 64.


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