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Domingo, 28 de abril de 2024

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O garimpo de Heitor Dhalia

Que todo diretor é um generalista não se pode negar. O cinema é uma espécie de arte total, onde outras artes são acopladas, como teatro, fotografia e música. Heitor Dhalia é, no entanto, ainda mais generalista. Seus filmes são bem distintos e a unicidade entre eles é discreta se comparada com outros autores, lembra por essa característica, Fernando Meireles.

A filmografia de Dhalia, embora curta, tem trabalhos relevantes, destaque evidente para O cheiro do ralo (2007), texto riquíssimo de Marçal Aquino com atuação fabulosa de Selton Mello. O filme Nina (2003), também roteirizado por Aquino, traz referência estética dos quadrinhos, e À Deriva (2009), tem um drama consistente envolto sob conflitos familiares.

Serra Pelada (2013) versa sobre a relação interpessoal de Juliano (Juliano Cazarré) e Joaquim (Júlio Andrade) que partem de São Paulo rumo ao garimpo de Serra Pelada, na Floresta Amazônica, durante os primeiros anos da década de 80. Eles rapidamente ascendem socialmente no lugar e passam a conflitar em decorrência da influência exercida pelo ambiente.

A locução off, enquanto recurso narrativo, é quase sempre uma muleta, utilizada, com raras exceções, para corrigir equívocos. Mesmo que o filme se valha pouco deste recurso, é dispensável e “emburrecedor”. Talvez a escolha por simplificar a narrativa venha de José Alvarenga Jr., representante da Globo Filmes na produção, afim de vender mais bilhetes. Erro consequente pode ser acusado na inserções da frase “este lugar piora as pessoas”, dita por Joaquim, e posteriormente, por Juliano, já que a trama evidenciará esta constatação de forma inequívoca.

Os cenários que recriam as gigantescas crateras do garimpo são fantásticos, e dão um tom épico aos maiores enquadramentos. A dicotomia entre as luzes do dia e noite são notáveis. De dia o sol escaldante deixa essa luz em seu limite, potencializando ainda mais a aridez dos lugar e dos trabalhos de sísifos, enquanto a noite oferece uma luz que ilumina os bordéis e botecos, são oásis de prazer. Confere crédito extra a trilha sonora simples e certeira baseada no brega.

Mateus Nachtergaele e Wagner Moura, conseguem imprimir atuações impressionantes a personagens secundários. Sobre Moura, é importante apontar as distinções entre esta atuação e de Elysiun (2013),comentada recentemente nessa coluna. Em Serra Peladao ator imprimiem sua interpretação elementos muito distintos daqueles que o consagraram enquanto Capitão Nascimento, e que também se pode ver no sci-fi mencionado.

Serra Pelada, não tem a pretensão de ser um filme sobre o garimpo, mas tem este como cenário, portanto não deve ser julgado enquanto obra ou versão definitiva sobre o assunto. Apresenta uma curiosa aproximação de estruturas hierárquicas com a sociedade em geral, onde alguns exploram muitos, comercializando a força de trabalho. É extremamente oportuno, e ainda possui elementos que agradam em blockbusters, ligados a violência e ambição financeira.


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