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Domingo, 28 de abril de 2024

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Contos de um remetente desconhecido: Um presente inesperado de um sentimento

Arquivo Pessoal

Na última sexta-feira recebi em minha casa um presente um tanto inesperado. Não era exatamente um presente tradicional, um pacote com papel colorido de fundo azul com bolinhas laranjas e com uma fita amarela formando um laço na parte de cima, com um pequeno cartão ao lado para explicar o que aquilo poderia significar e guiar nossa imaginação. Ao contrário, se formos buscar por semelhanças, o máximo que iremos conseguir é dizer que era um pacote, mas, mesmo assim não estaremos sendo fieis aos fatos.

O que recebi foi nada mais que um envelope de carta branco, com praticamente nada escrito, apenas tendo as inicias F.S.A como remetente. Estava com a aba devidamente colada, para impedir que o que estivesse dentro se perdesse com facilidade. Mesmo com toda essa simplicidade e com um certo quê de mistério, ainda considero como um presente, pelo que o envelope continha.

Peço que não se apresse, leitor, e que não crie expectativas fantasiosas, pois o que encontrei foi apenas uma carta, que a transcreverei abaixo. É uma pena que não seja possível transcrever também as letras apressadas, que tanto queriam ir de encontro ao papel, como se a mão quisesse escrever mais rápido que o pensamento.

Quando a ler, sinta-se livre para desprezá-la e queimá-la se assim considerar como o fim mais justo para esta folha errante, ou para abrir uma gaveta da escrivaninha e guardá-la, se quiser tê-la sempre consigo.



São Paulo, 14 de março de 2009.

Meu amor,

Desculpe-me por não ter respondido sua última correspondência, estive ocupado nas últimas semanas. Foram muito extenuantes, sobretudo esses últimos dias, em que o emprego ficou mais cansativo. Espero que não entenda meu silêncio como desapego, ou mesmo uma falta de paixão. Eu ainda a amo, e esse sentimento será para sempre presente, não importa a distância que haja entre nós.

Todos os momentos por que percorro o dia, tenho comigo sempre você em minha mente, em uma saudade inquieta que deseja a ter aqui e agora, para que esse sofrimento não mais exista, não mais aconteça. Para confortar essa minha saudade, carrego comigo todos os dias o anel de nosso namoro, que já tem seus três anos e (quase) meio de existência.

Nunca lhe falei isto, mas, desde nossa separação imposta pelo destino que me trouxe a essa cidade cinza, estive usando-o pendurado em um colar, para deixá-lo (e deixar-lhe) mais próximo do bater de meu coração, sobretudo quando a saudade abala minhas forças. Andando pelas ruas desta cidade, tomando o metrô lotado da Sé às seis da tarde, passando na padaria para um rápido lanche, ou mesmo quando chego em casa já à noite, em todos os momentos sinto você me impulsionando a andar, a respirar, a continuar a existir.

Começo a ouvir sua voz ao pé do meu ouvido se fico mais desanimado, e logo ela me conforta e me faz ter ânimo para abrir os olhos novamente, olhar para o horizonte e andar em uma insegurança tranquilizada, sentindo minha mão sendo guiada pela sua. Não saberia o que fazer se não fosse você aqui comigo, ondulando junto do ritmo de meu coração, abraçando-o, trazendo-o ao colo e reconfortando-o, dizendo-lhe palavras delicadamente ternas e calmas.

Gostaria de abraçá-la, de pegá-la pela mão e sair correndo em um dia de chuva, de beijá- la sob os pingos do céu... Consigo imaginar seu leve sorriso tímido lendo esta carta, e como eu queria poder vê-lo...! Sinto saudades, meu amor, que me invadem o peito e me angustiam. Espero que eu possa vê-la em breve, quando a distância entre nós não for maior do que um abraço.

Com o carinho de mil pétalas de rosa,
Fernando


*Augusto Iglesias é estudante de Medicina e ora ou outra se atreve a escrever. No anseio de ambas as profissões, vai vivendo o dia a dia. Contato: augusto.iferreira@gmail.com


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