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Domingo, 28 de abril de 2024

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Crítica de cinema por Felippy Damian: 'Apenas cores em Almodóvar'

A relevância do diretor Pedro Almodóvar é inegável para o cinema espanhol. Conhecidamente um dos diretores que ainda faz cinema de autor, com mais apelo comercial e nem é americano como Quentin Tarantino. Homossexual assumido tem como características primas de seu cinema as cores vivas, roteiros melodramáticos e protagonismo da figura feminina.
Todos esses requisitos agregam credibilidade ao espanhol e, consequentemente, dão conforto para ousar mudar. Neste prisma é que surge seu Os Amantes Passageiros, lançado recentemente no Brasil, onde Almodóvar propõe uma comédia híbrida, entre o escapismo e a metáfora crítica.

O filme se passa nos ares, dentro de um avião, que parte da Espanha rumo ao México, e que por problemas técnicos, não consegue seguir seu destino inicial, rondando alguns aeroportos espanhóis sem saber quando e em qual deles receberá permissão para pousar. Os personagens são integrantes da primeira classe e da tripulação que se esbaldam em mescalina e sexo. Boa parte destas relações são homossexuais e envolvem os comissários de bordo e os pilotos.

É difícil ver, mesmo com esforço, uma consistência narrativa imprimida na escrita do roteiro e na direção. A tentativa de Almodovar de satirizar a crise espanhola, que também não sabe seu rumo, se esvai. O resultado fica exorbitantemente distante do que fez outro espanhol, Luis Buñuel, com a burguesia daquele país. Em nenhum momento há o sentimento de imersão na história ali contada, ou a tensão por não saber o destino daqueles personagens.

O diretor disse à Carta Capital que intencionava fazer uma comédia escapista e se viu envolto numa metáfora crítica, acabou alcançando com muito mais êxito seu intento primário. Expõe um filme meio bobo, uma piada mal contada, ou mesmo, apenas engraçadinha. Sorrisos amarelos tentam disfarçar o constrangimento de ver um artista admirável fazendo papel de ridículo.
Suas cores marcantes estão todas lá. O que não está é todo o resto do leque de atributos que caracterizam sua notável filmografia. Almodóvar não está lá. Não é mais necessário o constrangimento de outrora.

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