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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

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Canibalismo: quem come quem?

Filmes de terror, na maioria da vezes, são menosprezados de grandes premiações, como o Oscar e Globo de Ouro. Críticos consideram essas películas apenas como entretenimento rápido, sujo e sem valor artístico. Se eles têm razão? Infelizmente, sim! São poucos os filmes de terror que são levados a sério artisticamente. A enxurrada de assassinos mascarados dos anos 80 e de adolescentes estúpidos que imploram por ser mortos em lugares ermos fez com que o gênero virasse uma categoria descartável.

No entanto, há exceções que merecem ser vistas até pelos cinéfilos mais cults. Um exemplo é o filme “Holocausto Canibal”, de 1980, que não ganhou prêmios e só garantiu dores de cabeça ao diretor Ruggero Deodato. A produção italiana, filmada na Amazônia, conta a história de um grupo de documentaristas a fim de filmar indígenas. Meses mais tarde, um antropólogo vai até a selva investigar o que aconteceu com cada integrante da missão, já que nunca mais deram sinal de vida.



Quem assiste “Holocausto Canibal” deve estar ciente que deve ter estômago de ferro para assistir cenas de estupro, empalamento,tortura e até castração. Para dar mais realidade ao filme, o diretor optou por matar a sangue frio animais de verdade. E quem “pagou o pato” foram uma tartaruga, um pequeno roedor e uma jibóia, que segundo enredo do filme, era uma serpente muito venenosa. Porém, o senso crítico da obra não pode ser descartado. Os documentaristas, na realidade, são pessoas arrogantes e ambiciosas, que em primeiro contato com os índios, fazem de tudo para promover a ira dos nativos e mostrá-los como ogros selvagens.

Em época de desintrusão de áreas indígenas e intolerância de uma pátria que nasceu em solo invadido, podemos identificar que o homem branco ainda faz o mesmo desfavor com os “peles vermelhas”. Ao estrear na Itália, o filme foi censurado por ser obsceno demais. Pouco tempo depois, o diretor teve que provar à corte que todos os atores da trama estavam vivos por causa das cenas realísticas de morte. Isso fez com que “Holocausto Canibal” virasse um artigo raro em locadoras.

A melhor cena, na minha opinião, é quando o antropólogo descobre que os índios apenas defenderam o território e sua honra após terem sua aldeia incendiada pelos documentaristas. “Quem são os verdadeiros selvagens?”, ele questiona numa reflexão sobre todo o conceito de uma sociedade do espetáculo. O que esperamos ver de estereótipos? Que eles encenem o papel superficial e fajuto que nos foi ensinado.

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