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Domingo, 28 de abril de 2024

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Um monstro ainda vivo

O heavy metal teve suas estruturas implodidas, no começo dos anos 80, com o advento do thrash metal. O peso e a velocidade inseridos no rock serviram de referência para boa parte das bandas e subgêneros do metal que surgiram depois. É natural a percepção do legado de Megadeth, Slayer, Anthrax e Exodus ao ouvir bandas de subgêneros posteriores.

No entanto a banda que mais tem influência exerceu e que mais obteve sucesso comercial foi a californiana Metallica, principal responsável por levar o thrash do underground para o mainstream. Prova cabal é o fato de ser eles a atração principal do dia do metal no Rock in Rio 2013, a apresentação será nesta quinta-feira (19). Sobre a banda os diretores Joe Berlinger e Bruce Sinofsky realizaram o documentário Metallica: Some Kind of Monster, lançado em 2004.

Versando primariamente sobre a produção do álbum St. Anger (2003), após 6 anos sem um trabalho de músicas próprias, o documentário também aborda de forma interessante e, logicamente, ainda mais interessante para os fãs, a saída do baixista Jason Newsted, a reabilitação de James Hetfield das drogas, o confronto judicial com Napster, a famigerada saída de Dave Mustaine, líder do Megadeth, nos primórdios da banda e a entrada de Robert Trujillo. Chama mais atenção, e a direção aponta para isso, o conflito de poder entre o baterista e fundador da banda Lars Ulrich e o frontman Hetfield.

Os conflitos transbordam e se relacionam. Os problemas entre Lars e James serão matriz de outros, como o processo criativo do álbum. As tensões são expostas de forma bastante elaboradas, conservando assim o constante envolvimento do expectador com a narrativa de 140 minutos. No final o público conhecerá melhor as personalidades controversas dos integrantes.

Com o estilo da série The Osborns, os cineastas documentam tudo dentro do estúdio, fazendo várias inserções de cenas externas que, em sua maior parte, tratam dos músicos separadamente. É visível o distanciamento dos diretores, intencionando interferir minimamente nas ações de seu objeto de observação, o Metallica.

O filme se revela propagandista em alguns momentos, o que não é demérito, nas dadas circunstâncias. Mustaine, posteriormente, reclamará da forma como a conversa com Lars foi editada, deixando-o em posição inferior em relação à sua ex-banda.

Nesta pretensão propagandista, que de fato não se prova, pois o álbum sai antes do documentário, o longa acena para a redenção da banda. Redenção que ocorrerá em alguns pontos como na reabilitação do vocalista Hetifield, a resolução dos conflitos internos de poder e o carismático Trujillo.

Era, todavia, central para o documentário o álbum St. Anger, o que de certa forma escapava das mãos dos realizadores do filme. O álbum é preterido por boa parte dos fãs embora tenha vendagem relevante, e premiações, o que não tem importância nenhuma para os fãs, como o Grammy.

Aristóteles, em sua estruturação narrativa, no livro Poética, propõe dentre outras questões que no final do terceiro ato o herói retorne com o elixir, objeto que sintetiza sua redenção. O álbum posterior, o Death Magnetic, de 2008, embora supere o St. Anger, não é esta redenção. Ao vivo, no entanto, o Metallica prova que ainda é o mesmo monstro.

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