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Sábado, 27 de abril de 2024

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O game State of Decay inova os jogos de apocalipse zumbi

O cenário é uma pacata cidade rural do norte dos EUA. O clima é de outono, as folhas em tons de ocre e vermelho se espalham pelo ar. O dia amanhece com uma forte neblina, o sol aparece lá pelo meio dia, depois o tempo fecha e a chuva cai no fim da tarde. De noite, somente a lua, o farol de um carro e uma lanterna são as únicas luzes dessa cidade. Seria tudo tão bucólico se essa cidadezinha não estivesse tomada por mortos-vivos ambulantes.

O início de uma geração pós-game

Eis mais um game de zumbi. Então podemos esperar todo tipo de clichê, certo? Dessa vez, a resposta é um sim e um baita não. Deixe-me explicar. É um game estilo mundo aberto com visão em terceira pessoa. Você controla um personagem por vez. Pode golpear, atirar, dirigir carros, correr, pular, etc. Mas, esqueça aquele personagem heróico, carregado de armas e munição.





Em State of Decay, os personagens precisam de ar após alguns golpes, podem passar dias deprimidos, ficar em estado de raiva, medo, doentes e ficar fora de combate por conta de um ferimento. As armas são poucas, a munição é escassa e é preciso procurar por mais a qualquer momento, já que o importante aqui é “apenas” sobreviver.

O game State of Decay é a história de sobrevivência de uma comunidade nessa cidadezinha rural. O jogo se inicia com ação, nada de tutoriais e missões de aprendizado. O personagem que você controla no início será apenas o primeiro de vários. Você deve conduzir ele para buscar abrigo, um lugar seguro de zumbis. A sua primeira comunidade será em uma igreja e lá você irá conhecer seus novos roomates, alguns controláveis, outros não.

Cada um terá a sua habilidade em luta, condicionamento físico, tiro, percepção e terão características únicas bem diversas (como “bom de copo”ou “craque em jogos de perguntas”. Até agora não descobri a utilidade destas). Uma comunidade sem alguém com habilidades médicas, de construção ou culinária, irá sofrer. E o grande mote desse jogo é como suprir as necessidades básicas dessa comunidade, antecipando-se o máximo que der de imprevistos. Para isso, deve se buscar recursos fora de casa. E deixar o lar exige muita perícia e tática. É bom você levar um bom “vasculhador” para revirar as casas da vizinhança e embolsar medicamentos e material de contrução, porque se ele não for discreto o suficiente, o que é essencial para se voltar vivo, o pior pode acontecer.

Portanto é bom tentar prever as situações que serão enfrentadas e saber fazer as escolhas certas. Explorar a cidade é único meio de obter recursos e escalar pontos altos para identificar possíveis locações ajuda muito. A cidade é repletas de restaurantes, farmácias, postos de gasolinas, construções, veículos disponíveis (a grande maioria é só entrar e sair dirigindo) e casas. Cada local vale uma vasculhada bem cuidadosa.

Discrição é a base de toda saída, os zumbis do game escutam passos de corrida, motores de carro, vasculhadores barulhentos, sons de tiro e outros ruídos. Quanto ao combate, enfrentar um ou dois zumbis pode não ser problema pros personagens mais fortes, mas se você chamar a atenção de uma horda deles, eu recomendo a fuga imediata. Sair à noite ajuda a ser mais discreto, a visão piora, mas a dos zumbis também. No entanto, a tensão só aumenta ao explorar uma casa sem luz apenas com uma lanterninha. Isto pode render sustos memoráveis. Por fim, o importante é voltar pra casa sempre com a mochila lotada ou trazendo consigo algum sobrevivente novo para a comunidade. Mas nada é garantia para tempos de paz.

À medida que as coisas vão dando certo, a comunidade cresce e ganha influência, o que ajuda na troca de mercadorias com outras comunidades e na obtenção de novos espaços. A demanda das necessidades também se torna mais exigente. Será preciso construir um espaço para mais camas, um local para estocar comida, uma enfermaria (um doente dentro da casa pode morrer e virar um zumbi, o que será trágico) ou uma torre de observação. E tudo isso leva tempo. Outro fator interessante que influencia o sucesso no game: os pontos de salvação são automáticos (porém frequentes) e impedem que você volte no tempo, caso morra um personagem, por exemplo. Trágico, porém essencial para o drama da história.

O meu personagem inicial, Marcus, morreu ajudando uns vizinhos (que não tiveram interesse de se juntar à comunidade, mas que eram considerados amigáveis) durante o ataque de uma horda à casa deles. A morte de Marcus deixou a comunidade deprê e seus amigos mais próximos tiveram reações diferentes que os afetaram, como medo ou raiva. A moral abalada da comunidade só foi reerguida quando, Maya, uma das melhores lutadoras, conseguiu trazer novos integrantes e assumiu o papel de liderança da turma. A morte de alguns membros da comunidade é inevitável e pode deixar consequências graves.

Os personagens se desenvolvem conforme enfrentam desafios e ficar sem um grande lutador ou vasculhador, por exemplo, pode ser frustante. Isso leva o jogador a agir com responsabilidade. E o tempo nunca dá trégua. Quando um personagem volta exausto de uma missão é bom ter outros em condições de assumir o posto de personagem principal. Para ajudar nas missões, a comunidade conta com um sistema de rádio e consegue, além de se comunicar com quem está fora de casa por walkie talkie, interceptar conversas da polícia e outras comunidades. Mas não se deve esperar ajuda das pessoas de fora, senão o contrário.

A maioria das pessoas da cidade ou morreu ou enlouqueceu, então é isso o que deve acontecer com a comunidade se for mal cuidada. O jeito é enfrentar os zumbis, por necessidade ou pra aliviar as tensões, o que é sempre emocionante de forma imprevisível. Para os longas trajetos, vale a pena conseguir um carro, mas é bom se preparar para ver zumbis literalmente se atirando em cima do carro, tentando abrir as portas e grudados no capô. Guiar pela cidade é uma atividade meio suicida e os veículos raramente resistem muito tempo, mas quem resiste à tentação de fazer um strike num bando de zumbis? A exploração a pé (onde estão as motos dessa cidade?) é sempre uma opção boa, principalmente em duplas ou trios, mas deve ser planejada e feita com cuidado.

Os fãs da “cultura zumbi” irão gostar de State of Decay, em especial os da série de TV The Walking Dead. São vários os momentos que me lembraram a série televisiva e, com algumas adaptações, bem que esse poderia ser o melhor jogo sobre o programa. Sobreviver, procurar novos abrigos, explorar lugares desconhecidos, fazer aliados, escapar de ataques zumbis, conviver com comunidades “rivais”, lidar com baixas na equipe e preservar a sanidade são atribulações comuns aos personagens tanto da série quanto do jogo. Existem alguns defeitos no jogo, a maioria de ordem técnica, de framerate, mas nada que atrapalhe o desenrolar do jogo, apenas incomodando em determinados momentos. Por duas vezes eu passei por situações, no mínimo, constrangedoras. Numa delas bati de frente em uma cerca, a dianteira do carro embicou e bem devagar o carro foi virando até ficar em 90 graus. Pulei da janela e o carro explodiu. Que vergonha.





Ainda bem que só tinham zumbis olhando. Também senti falta de crianças rebeldes fugindo de casa e animais de estimação. Motos também seriam úteis. Fora isso, um modo multiplayer ou cooperativo online seria ótimo e deve ser esperado numa provável sequência. Mas por ser um jogo que custa menos da metade dos jogos convencionais, o investimento já vale bastante.

Quem jogou Red Dead Redemption: Undead Nightmare, Alan Wake, Dead Rising e Left 4 Dead irá se familiarizar com alguns elementos, mas no quesito originalidade, State of Decay, da Undead Labs e Microsoft Studios é, sem dúvida, o mais criativo e ganha respeito por ser o mais próximo de um game de “Simulação de Apocalipse Zumbi”. State of Decay foi lançado para download na Xbox Live e deve sair em breve para PC.

Acompanhe o trailer abaixo:




* Vinicius Manià é um artista atormentado: a paixão for fotografia atrapalha o vício em videogames

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