Imprimir

Notícias / Perfil

Família e amigos exaltam legado de Dona Eulália durante velório: 'nos alegra ter sido reconhecida em vida'

Da Redação - Bruna Barbosa / Do Local: Mayara Campos

Para a família de Eulália da Silva Soares, a Dona Eulália, o fato da trajetória da quituteira ter sido exaltada enquanto ela ainda estava viva, com prêmios e homenagens que a transformaram em um dos ícones da gastronomia regional, é motivo de alegria para os filhos, netos e bisnetos. Dona Eulália morreu nessa segunda-feira (28), após sofrer uma parada cardíaca enquanto estava internada na UTI de um hospital particular de cuiabá. 

Leia também 
Aos 90 anos, Dona Eulália morre após sentir dores e ter parada cardíaca em Cuiabá

No velório de Dona Eulália, na manhã desta terça-feira (29), uma das netas, Danielle Soares, lembrou da felicidade da avó em cada um dos momentos de reconhecimento. Em 1965, a quituteira deixou a zona rural para morar em Cuiabá e, como o marido era pedreiro, ela começou a pensar em formas para ajudar na renda de casa, transformando uma receita de bolo de arroz da tia no que hoje é o sustento de três gerações da da família. 

"Mais do que esse reconhecimento dela agora, em luto, o que nos alegra é saber que ela foi reconhecida em viva, ela participou de todo esse processo, moções, premiações... Ela participou de muita coisa que encheu o coração dela de alegria, uma mulher simples, humilde, que não tinha formação e escolaridade. Ela falava: 'Eu não sou nada, paro para pensar olha e o que conseguimos'. Era muito bonitinho ver o brilhinho no olhar dela por ver a conquistava que ela teve". 

Hoje o Eulália e Família, que funciona na casa em que Dona Eulália morava no bairro Lixeira, em Cuiabá, é comandado pelas novas gerações, já que à medida em que envelheceu, a matriarca começou a precisar da ajuda das novas gerações para continuar preparado o tradicional chá com bolo. Daniella ressalta que o lugar vai continuar funcionando. 

"Até acontecer a gente nunca pensa, a gente fala para deixar para sofrer quando tiver que sofrer, que no caso é agora. Eulália e Família, hoje Eulália não está, mas a família permanece, com amor ela começou e com amor a gente vai continuar". 

Bolo de arroz e memória afetiva 

Assim como para muitos cuiabanos, o bolo de arroz de Dona Eulália se tornou uma memória afetiva para os oito filhos, 37 netos e bisnetos da quituteira. Danielle foi uma das que quando ainda era criança, se apressava para colocar um tijolo embaixo dos pés para alcançar o pilão onde a avó socava o arroz para preparar as receitas. 

"Todos os netos, só os que saíram da cidade, cresceram próximos dela, nessa realidade. Lembro que a gente era pequeno, na época que socava ainda o arroz no pilão, porque hoje em dia não é mais, é na máquina, o pilão era grande para gente. Nós pequenos para ajudar a socar o arroz, colocávamos um tijolo perto para conseguir subir e socar, mas todo mundo queria fazer parte, ela sempre deixou a gente participar". 

Apesar da idade, Danielle conta que a avó estava bem nos últimos dias, controlando uma condição cardíaca com remédios e com pouca mobilidade por conta da prótese no joelho, mas não estava doente ou acamada. Mesmo morando sozinha na casa em que o chá com bolo tradicional era servido, Dona Eulália viveu rodeada por filhos, netos e bisnetos. 

"Como ela mora onde faz o bolo, era um revezamento de filhos para ficarem com ela de dia e de noite, ela morava sozinha, porém nunca ficava sozinha. Não participava mais por conta da fragilidade física, mas ainda era consciente, embora com 90 anos tinha já lapsos de memória recente, não do passado, ela era muito comunicativa, sempre estava no meio da gente quando não estava no quarto dela fazendo o tercinho dela". 

Nora de Dona Eulália, Onesiony Silva, entrou para a família há 27 anos e encontrou afeto materno na quituteira logo após perder a mãe quando se casou com Claudinei. "Aprendi muito, também ensinei muito, tivemos um filho, o Yuri, Deus levou meu filho nove anos depois, foi a primeira perda da família, Dona Eulália sofreu muito, a gente sofreu muito, mas graças a Deus ele pôde estar com ela esses nove anos. Não tem palavras para descrever Dona Eulália, é uma pessoa caridosa, que sofreu muito, fez muito pela sua família". 

Para a nora, o legado deixado por Dona Eulália, que era devota de São Benedito, também é de amor e caridade. "Hoje, o que a família tem foi ela que começou. Hoje ela é considerada um ícone da culinária cuiabana, patrimônio histórico de Cuiabá, só temos que agradecer a Deus, chegou a hora, todos nós sabemos que temos uma data de validade. Saudade e o que ela deixou, o legado maior dela: amor e caridade". 

Veja vídeo:

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação partilhada por Olhar Direto (@olhardiretooficial)


 
Imprimir