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Notícias / Literatura

Cientista social indígena faz ‘vaquinha’ para publicar livro sobre as flautas mágicas do povo Bakairi

Da Redação - Isabela Mercuri

Durante os dois últimos anos de sua graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Eric Timóteo Iwyrâkâ Kamikiawa, hoje com 27 anos, decidiu estudar as flautas mágicas de seu povo Kurâ-Bakairi. Agora, precisa de ajuda para transformar sua monografia em um livro, e por isso lançou uma vaquinha virtual. Quem quiser ajudar pode doar qualquer valor AQUI.

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Natural da aldeia Pakuera, na terra indígena Kurâ Bakairi, Eric ingressou na UFMT por meio do Programa de Inclusão Indígena, em 2012. Desde o início, já pensava em pesquisar sobre o seu povo, mas a ideia inicial seria sobre as pinturas corporais. No final da graduação, optou pelas flautas mágicas e, a partir disso, a música, a noção de pessoa, cosmologia e mitologia.
 
“Quando a gente sai da aldeia, a gente tem um compromisso com a comunidade, com o povo. Quando a gente sai pra estudar a gente tem que dar retorno”, explicou ao Olhar Conceito. Segundo Eric, publicar este livro seria uma forma de gratidão ao seu povo. “Eu penso que depois da publicação do livro muita gente vai ler sobre os Bakairi, a questão cultural, sobre a importância do mito, a cosmologia. Até mesmo para a reivindicação de território, sobre a importância da mãe terra. Acredito que a visibilidade vai ser muito maior, e daqui a dez, vinte anos, quem sabe esse meu trabalho possa servir como referência e ser utilizado por outros estudantes indígenas, outros alunos da minha aldeia possam se incentivar com este trabalho que eu fiz”.
 
O custo de publicação do livro, por meio da editora Appris, é de R$7.257 , e deve ser levantado em três meses. A vaquinha virtual veio como uma opção de pedir ajuda aos amigos, professores e quem mais se preocupa com a causa indígena, já que o cientista não possui o valor neste momento – em que, inclusive, sua esposa está esperando o primeiro filho do casal.
 
A pesquisa
 
A pesquisa sobre as flautas mágicas do povo Kurâ-Bakairi levou cerca de dois anos para ficar pronta. Segundo Eric, sua maior dificuldade foi a barreira da língua. “A gente fala praticamente na nossa língua aqui, desde a alfabetização até se tornar pessoa adulta. Na época eu tive muita dificuldade em traduzir muitas palavras, porque tem algumas coisas que se aproximam, claro, mas essa parte tive que tentar esmiuçar, deixar bem mastigado para que o público, na leitura, pudesse entender”, conta.
 
Segundo Eric, o fato de ser do próprio povo traz diferenças em relação à pesquisa, já que outros estudos sobre os Bakairi foram feitos de forma superficial. “Então eu pensei: quem sabe eu como pesquisador indígena, acadêmico, nascido e criado na aldeia, possa trazer isso mais a fundo”. O trabalho foi feito com orientação da professora doutora em Antropologia Social Sônia Lourenço.
 
A pesquisa teve que ser aprovada em um protocolo interno da aldeia, antes de começar a ser realizada. Assim, quando Eric estava no sétimo semestre, voltou para sua aldeia e conversou novamente com o cacique, que deu o aval. Atualmente Eric é mestrando em Antropologia Social, também pela UFMT, e pesquisa etnoterritório e demarcação de terra.
 
Serviço
 
Quem quiser ajudar na publicação do livro pode doar AQUI.
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