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Notícias / Arquitetura, décor e design

Paredes da Casa de Bem-Bem ‘contam’ detalhes de construção histórica; material derruba temperatura em 10ºC

Da Redação - Wesley Santiago

O desabamento ocorrido na Casa de Bem-Bem (também conhecida como Casa de Nhô Nhô de Manduca), em 2018, causou um prejuízo bastante grande no patrimônio histórico de Cuiabá. Porém, o fato também propiciou que as próprias paredes do imóvel contassem um pouco mais de sua história e de períodos antigos da capital mato-grossense. Os materiais utilizado nestes casarões conseguem reduzir a temperatura em até 10ºC.

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Em visita realizada pelo Olhar Conceito nas obras emergenciais que estão sendo feitas na casa, o técnico em restauração, Adão Rodrigues Costa, contou que a Casa de Bem-Bem, quando foi construída, não tinha tantos cômodos. “Ela não era deste tamanho. O piso e o material nos dizem que o utilizado em um cômodo, não foi colocado em outro. Foi tudo mudando, a casa foi se transformando, os moradores expandiram o imóvel. Na parte de trás, possivelmente a gente tinha uma varanda, que era comum à época”.
 
A ‘missão’ de Adão neste início de obra já está estabelecida pelo próprio. “Quero descobrir onde era a cozinha desta casa, onde ficava a fornalha. A própria parede vai poder responder isto. Na próxima intervenção, na hora de refazê-las, saberemos se tinha oratório, fornalha. A história também vai ser contada através destes materiais”.



Quem visita o local ainda pode ver objetos sem nenhuma intervenção, como portas que estão do mesmo jeito que foram feitas. Além disto, foi possível notar que a Casa de Bem-Bem não passou por centenas de mãos de tinta, sendo possível notar apenas três camadas, o que mostra o grau de preservação que seus moradores tinham com ela.
 
Fato curioso sobre a reforma é que quase toda a argila, terra e materiais que desabaram da casa serão reaproveitados em sua restauração. Tudo está sendo separado para, posteriormente, ser utilizado.
 
“Chama a atenção também que estas paredes, junto com as telhas de barro, deixam o ambiente com dez graus a menos do que lá fora. Era bem fresco, feito justamente para isto, já que aqui é muito calor e não tinha ar condicionado na época. Podem notar que o reboco é todo original, o barro foi passado a mão, misturado com esterco de gado. A casa é muito bem preservada”, disse Adão.

 
Por fim, Adão afirma que a ‘culpada’ pelo desabamento foi a água que se infiltrou no local. “Em toda casa antiga, nunca uma parede desta desmorona se não for água. Se penetrou água no solo, em até dois anos, vem abaixo. A parede desce e sofre um esmagamento, a base é comprometida. No nosso trabalho aqui, vamos desmanchar tudo e refazer com o mesmo material”.

Fêmur encontrado
 
Os trabalhos de arqueologia realizados na Casa de Bem-Bem (também conhecida como Casa de Nhô Nhô de Manduca), que desabou em 2018, após fortes chuvas que caíram sobre Cuiabá e passa por restauração, fizeram ‘brotar’ importantes peças que contam a história do passado da capital mato-grossense. Diversos objetos como louças, frascos de remédios e até um ‘kit saúde’, fora localizados nos trabalhos emergenciais que estão sendo feitos no imóvel. Além disto, também foi encontrado um pedaço de fêmur, que estava em uma das paredes do local.
 
A arqueóloga Olivia Bini Pereira Rosa, responsável pelo trabalho de ‘formiguinha’, como ela mesma define, disse que estas obras de restauração são uma oportunidade de saber ainda mais sobre o passado da tricentenária Cuiabá, em um ponto que era altamente frequentado pela cuiabania.
 
Um fato curioso que chamou a atenção é que, de uma das paredes da Casa de Bem-Bem, foi retirado um pedaço de fêmur. “Ainda não tive tempo de analisá-lo”, disse a arqueóloga, sem confirmar se o osso poderia ser humano.



A Prefeitura de Cuiabá iniciou, na  quarta-feira (28), uma visita técnica às obras de restauração da Casa de Bem-Bem (também conhecida como Casa de Nhô Nhô de Manduca), que desabou em 2018, após fortes chuvas que caíram sobre a capital mato-grossense. A intenção é mostrar o trabalho que está sendo feito para preservar a história do imóvel e também para que a população em que pé estão os trabalhos.

A restauração faz parte do PAC Cidades Históricas e é financiado com recursos municipais, já que é considerada uma prioridade no Centro Histórico.

As visitas técnicas, em grupos de até 15 pessoas, serão feitas toda quarta-feira, a partir das 8 horas. Para se cadastrar, os interessados devem entrar em contato com a prefeitura de Cuiabá, através de um e-mail que ainda será divulgada pelo município nesta semana.
 
Casa de Bem-Bem
 
A Casa de Nhô Nhô de Manduca (Casa de Bem-Bem)  é conhecida como um dos mais tradicionais e confortáveis locais tipicamente cuiabanos. Retratava na sua majestosa construção todo o aconchego e receptividade do povo da capital mato-grossense.
 
Dona Bem-Bem, ou Constança Figueiredo, era entre os 13 irmãos Novis Figueiredo, a mais popular.  Os festeiros de São Benedito realizavam as festas isoladas em suas residências com muita fartura.
 
A partir de 1974 resolveram escolher a mais típica casa cuiabana, a casa de Dona Bem Bem para realização anual, em conjunto, da festa do glorioso Santo, o que permaneceu até 1981. A sua Construção data de 1850 e é em estilo Colonial. Foi tombada pela Portaria Estadual nº 10/98 D.O. 08/06/98 e Portaria Federal nº10/92 D.O.U. 06/11/92 como Patrimônio Histórico.
 
O casarão desabou em 2018, após fortes chuvas. Na época, a 17ª Promotoria de Justiça da Capital requisitou informações do município sobre as medidas de urgência que seriam adotadas para a sua proteção. No Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público Estadual, foi estabelecido o prazo de 30 dias para o município elaborar projeto com medidas emergenciais para evitar a ocorrência de novos danos.
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