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Filho de garimpeira, ex-engraxate e vendedor de coxinhas: conheça a história do ‘Gato Louco’

Da Redação - Isabela Mercuri

Você já deve tê-lo visto por aí, seja em algum meme nas redes sociais, vendendo caipirinha na Praça da Mandioca ou no Youtube, em sua participação no quadro ‘Se Vira nos 30’, do Domingão do Faustão. Chamando atenção pelos giro de cabeça e o som que faz imitando animais, o ‘Gato Louco’ tem uma história surpreendente.

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Thiago Salles de Almeida, o ‘Gato Louco’, nasceu em Apiacás (968km de Cuiabá), há trinta anos, onde sua mãe trabalhava no garimpo. Viveu durante a infância em Sorriso (398km de Cuiabá), e começou a trabalhar aos oito anos de idade, vendendo coxinhas que sua vizinha preparava. O salgado custava R$0,50, e era vendido principalmente em fazendas e madeireiras.

Aos nove, pediu a um marceneiro que fizesse para ele uma caixa, e começou a trabalhar como engraxate. Pouco tempo depois, veio para Várzea Grande morar com a avó. Ficou deslumbrado com o tamanho de Cuiabá, e com seus prédios imensos, e continuou engraxando também na capital, por alguns anos.

Nesta época, ele já sabia mexer o pescoço. “Desde que eu tinha oito anos de idade! Eu assistia Domingo Legal, e tinha o Fat Family. Aí eu fazia a cabecinha igual deles e dançava break quando era criança”.

Quando chegou à maioridade, Thiago queria trabalhar engraxando dentro do aeroporto, mas não tinha dinheiro para comprar a cadeira que a Infraero exigia. Foi aí que decidiu pedir a ajuda do Walter Rabello. “Ele tinha o programa Olho Vivo na Cidade. Eu engraxava na rua, com a caixinha nas costas, aqui em Cuiabá, e fui um belo dia fui lá e falei que queria assistir ao programa dele. E fui começando a frequentar. Um dia eu perguntei se ele podia me ajudar”. O Walter fez uma campanha, e conseguiu o apoio da loja ‘Móveis Giane’, que produziu a cadeira. Na época, o programa filmou inclusive a entrega do móvel.

Thiago ficou engraxando no aeroporto por oito anos. Lá conheceu pessoas de todo o Brasil, para quem sempre fazia pequenas apresentações. Nesta época, já tinha incorporado ao giro de cabeça e ao break os barulhos de gatinho. Foi aí que um colega, que trabalhava na revistaria do aeroporto, o filmou e postou o primeiro vídeo no Youtube, que teve grande repercussão.

Três anos depois, a produção do Domingão do Faustão fez uma seletiva para o ‘Se vira nos 30’ no Teatro da UFMT. Ele decidiu se inscrever. “Concorri com pessoas de Cáceres, Sorriso, Campo Novo, Sapezal... de Mato Grosso todo. Tinha mais de 500 pessoas”, lembra.

No dia da seletiva, seu vídeo foi gravado e enviado para a produção, no Rio de Janeiro. Ele se lembra até hoje de quando recebeu o resultado. “Me ligaram e eu pensei que era cobrança. Na primeira vez eu não atendi. Aí ligaram de novo... estava eu e minha esposa comendo um cachorro quente na frente do São Gonçalo, e eu atendi o telefone”.

Thiago viajou para o Rio de Janeiro sozinho, e conheceu o Projac. No dia da gravação, as orientações eram que ele – e os outros candidatos – ficassem das 8h da manhã até a hora do programa aguardando no camarim. Mas ele não obedeceu. Fez amizade com os motoristas dos ‘carrinhos de golf’ e passou o dia passeando e conhecendo os famosos. Até mesmo conversar com o Faustão antes do programa – outra coisa que estava proibida – ele conversou. As fotos deste dia, no entanto, se perderam. “Quando eu fui no Faustão eu levei a câmera digital da minha sogra, nem celular digital eu tinha. Porque não tinha dinheiro”, conta. “E a irmã da minha esposa apagou todas as fotos sem querer”.



O ‘Gato Louco’ não ganhou os R$25 mil de prêmio, e não foi daquela vez que a fama chegou. “Não foi minha melhor apresentação. Hoje em dia eu faria melhor”, lamenta. “Na época era pra eu ter dançado lambadão, mas eu não pensei. Dancei um sertanejo, e fiz o gato louco de costas pro público, aí o Faustão ainda falou: ‘o legal que ele mia de costas pras câmeras’”.

Thiago chegou a ir para o ‘Pânico na TV’ no ano seguinte, para participar do quadro ‘Quem rir se ferra’, mas não gostou do resultado. “Lá foi um fiasco. Eu cheguei lá, me colocaram uma roupa de gato muito apertada, fizeram uma maquiagem feia pra caramba, não gostei”.

Popularidade

Dois anos depois do Faustão, Thiago foi surpreendido ao ver seu vídeo viralizar nas maiores páginas de memes do país. “Quando eu cheguei do Faustão, ninguém me conhecia, não virou fama, nem nada. Esse negócio foi resgatado em 2014, depois de dois anos, nas páginas de memes grandes do Brasil. Eles pegaram esse meu vídeo, ganharam dinheiro com ele, fizeram meme e deu milhões de views”.

Foi a partir desse ‘ressurgimento’ que o ‘Gato Louco’ foi convidado pelo Legendários. Lá, ele ganhou um bom prêmio, e foi aí que começou a investir na carreira. Reativou o Instagram antigo de sua esposa, e, aos poucos, alcançou o público com seu personagem.

Há cerca de 40 dias, Thiago foi convidado para participar da campanha do McDonalds no Cheddar McMelt, junto a outros ‘memes’ do país. Também integrou o casting do jingle do Procurador Mauro, e faz propaganda para restaurantes e bares da cidade. No Malcom, por exemplo, está todas as quartas, servindo shots, dançando lambadão no palco e, é claro, fazendo o ‘Gato Louco’.





A maquiagem, quem faz é sua esposa, inspirada na que foi feita lá no Faustão. Hoje ela, que é cabeleireira, também trabalha ajudando na carreira do marido. Thiago tem um filho de sete anos e uma filha de cinco, além de dois enteados, um de quinze anos, e um de doze, que é deficiente auditivo e tem problemas neurológicos e motores.

Hoje, é do ‘Gato Louco’ que Thiago tira a maior parte do sustento da família. Conta ainda com a ajuda da sogra, que é aposentada e vive com eles, e faz alguns ‘bicos’ vendendo caipirinha em festas e jogos de futebol, e trabalhando como cambista.

Para além disso, é grato por ‘poder levar alegria’ aos seus fãs. “O povo gosta de rir. Hoje em dia o povo trabalha tão estressado... muitos têm problemas. Chega em casa e está triste, brigou com a mulher, foi mandado embora do emprego, ou está com alguém da família doente... aí a pessoa chega, abre o telefone e começa a vasculhar. Ela vê aquele vídeo legal e começa a sorrir. Ela esquece o problema. Isso que é legal, fazer o bem pras pessoas”, finaliza.

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