Imprimir

Notícias / Gastronomia

'Gran Parrillero' troca Argentina por Cuiabá e faz churrasco na casa do cliente

Da Redação - Isabela Mercuri

Francisco Coria, 30, nasceu em Buenos Aires, na Argentina. É filho de um engenheiro agrônomo e fazendeiro, e, desde que se lembra, sua vida sempre foi comemorada com churrascos. Há seis anos, veio para Cuiabá a trabalho por uma empresa. Deixou o emprego e nem por isso foi embora. Mas não foi a cabeça de pacu que o prendeu à cidade verde. Foi a carne.

Leia também:
Dom Sebastião lança pizzas com ingredientes nobres como alho negro, queijo burrata e Grana Padano

 “A empresa que me contratou era uma empresa de capital misto, entre Argentina e Brasil. Eu sou formado em administração, aí eles me levaram pra um empreendimento que fica no Manso, Terra Selvagem, e eu fiquei administrando durante quatro anos”, contou o argentino ao Olhar Conceito. Com a crise pós-Copa, ele teve que sair, mas já tinha o projeto de continuar na cidade cozinhando, sua segunda profissão.

“Eu sou suspeito de falar. Não comi cabeça de pacu, mas a sociedade brasileira tem uma coisa... Meu pai sempre fala: ‘Cara, não tem nada atrativo lá em Cuiabá, é quente, não é um lugar bom’. Mas o povo tem uma receptividade, uma energia diferente. Eu me sinto muitas vezes aqui, como em casa. Eu falo do calor, não gosto, mas você chega e as pessoas abrem as portas e te convidam sem te conhecer, já faz um churrasco aqui, outro lá, e isso é muito legal”, justifica. Claro que o amor também pesou: Francisco casou-se com uma cuiabana em 2017.

Enquanto trabalhava na empresa, que ficava em uma ‘prainha’, Francisco sempre preparou ‘costelões’ para os colegas. Com a experiência e conhecimento adquirido em um curso técnico de cozinheiro, que havia feito na Argentina, Francisco abriu um restaurante, chamado ‘Caminito’, na capital mato-grossense.

“Fiquei lá por seis meses. Eu criei tudo, aí depois vendi a minha parte na sociedade e elas arrendaram para outras pessoas e foram tocando”. Paralelo ao restaurante – onde eram vendidos, além dos cortes argentinos, as famosas empanadas – o parrillero já fazia eventos.

Foi no ano passado, com o ‘boom’ dos grandes eventos de churrasco, que ele decidiu investir mais na carreira. Desde então, ele já assou nas duas edições do ‘Braseiro’, no ‘Showrrasco’ de 2017 e de 2018, e, em breve, quer ir para Salvador e para a ‘Churrascada’, em São Paulo.

Por aqui, ele também faz churrasco a domicílio. “Tem várias modalidades. Eu faço eventos onde levo tudo, faço eventos onde contratam só a mão de obra, e faço eventos só para eu te assessorar a comprar a carne”, explica. “Porque do que se depende que o churrasco saia não é só da habilidade do churrasqueiro, é também da matéria-prima”.

Francisco também oferece cursos. O primeiro módulo, que já teve uma turma, e terá outra no próximo dia 11, ensina a fazer os cortes e preparos argentinos. “O grande diferencial é que ele é único. São seis parrillas, grupos de 4 a 5 pessoas por parrilla. Eu trago dois lombos grandes de boi, e eu marco e falo pra pessoa cortar. Porque eu sou da opinião de que: aquilo que eu escuto, eu esqueço; aquilo que eu vejo, eu lembro; e aquilo que eu faço, eu aprendo. Não tem como você aprender sobre carne sem colocar a faca, cortar, ver o nervo”. No segundo módulo do curso, ele quer trazer um churrasqueiro de Rondonópolis e outro de Mendoza, Argentina, para ensinar a fazer cordeiro patagônico, varal de aves e costela de chão.



Apesar das diferenças entre o churrasco brasileiro e o argentino, o ‘Gran Parrillero’ conta que estuda para se reciclar. E as diferenças não são poucas. “O espeto, por exemplo, qual é o problema? Você já fura a carne e está quebrando fibra, e perdendo suco, perdendo qualidade. O espeto também faz com que a gordura pingue na brasa e faça aquela labareda. Tudo isso se evita na parrilla. [Na parrilla] a gordura desliza e vai para uma valeta. Tem uma série de vantagens. Mas falar se é melhor, é gosto. Você pode ter comido a vida toda picanha em espeto e falar: ‘pra mim é melhor’, e não adianta. O gosto é relativo”.

Outras diferenças estão nos acompanhamentos e na forma de servir. “O churrasco brasileiro é carne, arroz e mandioca. O churrasco da Argentina é só carne e pão. O churrasco brasileiro tem o popular ‘tira gosto’, [que você] tira a picanha, pica bem fininha, e vai comendo e bebendo. O churrasco argentino é diferente. Tem a picada de entrada, que é um salaminho, um queijinho; tem as empanadas, e aí você já vai enganando [a fome]. Aí chega a carne, e é uma posta de bife de chorizo inteira. Por isso um churrasco daqui você come em 40 minutos, e já entra na cachaça. O argentino não. É lento, é uma cerimônia”.

Francisco já se adaptou ao churrasco brasileiro, e sabe fazer se o cliente quiser. Mas, se o ele preferir um autêntico churrasco argentino, também tem essa opção. Neste caso, ele pode, ainda, levar a sommelier perceira, Kézia Giugni, e uma seleção de vinhos portenhos para harmonizar. “A pessoa só me diz o quanto ela quer gastar com vinhos, e pronto”, finaliza.  

Serviço

Francisco Coria – Churrasqueiro Gourmet
Telefone (65) 99252-4222
INSTAGRAM / FAN PAGE
Imprimir