Imprimir

Notícias / Artes visuais

Autor de obras espalhadas pela cidade, turco esculpe em pedras há mais de 20 anos em Cuiabá

Da Redação - Isabela Mercuri

Ver além das rochas. Retirar de dentro das pedras segredos que elas guardavam há milênios. Este é o trabalho que o turco Yusuf Dogan, 56, realiza há mais de 20 anos em Cuiabá. São de sua autoria, por exemplo, o busto de Marechal Rondon que está na Assembleia Legislativa, e o símbolo da justiça localizado na Casa dos Governadores. Morando no Brasil desde os cinco meses de idade, foi em Chapada dos Guimarães que ele percebeu seu dom.



Leia também:
Obras de 35 artistas integram exposição em homenagem a Nilson Pimenta, João Sebastião e Osvaldina Santos

Dogan nasceu na Turquia, mas veio com a família para o Brasil com apenas seis meses de idade. Os pais, cristãos ortodoxos, decidiram mudar de país por conta de conflitos religiosos, e vieram para Campo Grande, onde já residiam alguns familiares. Nos anos 80, saíram de Mato Grosso do Sul e se instalaram em Cuiabá.

Dogan (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

O filho, no entanto, não ficou. Morou no Nordeste por quase dez anos, até que em 1992 voltou à cidade verde, trabalhando como comerciante. “Eu sabia que mexia com alguma coisa, só que não sabia o que era realmente”, lembra o escultor, ao falar sobre a veia artística que já pulsava em seu peito. “Em 94 a lâmpada acendeu para a pedra”.

Ele estava andando por Chapada dos Guimarães quando veio a ideia de que, a partir daquele momento, seria escultor. Decidiu que só trabalharia com pedras desta região, e passou a aprender absolutamente tudo o que podia sobre elas, sempre sozinho.

Foram dez anos trabalhando somente com as mãos e com pedras calcárias até conseguir comprar seu primeiro maquinário, e ter a opção de lapidar cristais e fazer miniaturas. Aprendeu em um curso a lapidar pedras para que virem joias, mas é na escultura e no entalhamento que se encontrou.

Pedras usadas por Dogan para fazer miniaturas e joias (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Para ganhar reconhecimento e espaço no mercado, também não foi fácil. “Este é o grande desafio”, lamenta. “O artista tem uma dificuldade muito grande de entrar. Às vezes ele quer fazer as coisas, mas não tem condições. Aí vem a parte de que as pessoas que administram a cultura não enxergam esse lado do artista, e fica difícil trabalhar”.

Além do apoio do governio, Dogan também sente dificuldade em encontrar um público cativo. Muitas vezes, os possíveis clientes reclamam dos preços, que consideram alto demais. “Mas todas as esculturas demoram em torno de 5, 6 meses [para ficarem prontas]. Isso se não faltar nada no meio do caminho. Muitas vezes falta um dinheiro que não entra, aí tem que esperar. Vem uma máquina que queima, para um dia... o processo é totalmente diferente do que se fizesse na madeira”.

Para se ter uma ideia, o busto de Rondon, localizado na Assembleia, foi avaliado e R$250 mil, mas, na prática, o artista não recebeu este valor. “E olha que ele demorou uns sete meses pra ser feito. E foi todo feito na mão”, afirma.



Sacrário feito para a comunidade 'Shalom', em processo de entalhamento (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)

Além dos trabalhos sob encomenda, o artista também cria. E são estas as obras mais complicadas de serem pagas, até mesmo quando consegue apoio para expor. “Eles querem te dar R$50 mil pra você fazer uma exposição em três municípios. Como você vai percorrer três municípios? Você pega R$50 mil, tem que fazer as obras, levar em cada município, ficar 30 dias lá, depois mais 30 em outro e mais 30 em outro. Quando acabar, acabou o dinheiro. E eles falam, isso é só pra você divulgar seu trabalho. Não é assim que se vive”, lamenta.

Para conseguir continuar seu trabalho, o artista conta com o apoio da esposa, que financia a compra das pedras e seu sustento, enquanto as vendas não acontecem. “Se não fosse ela, nada disso existiria”, finaliza.

Serviço

Dogan – Esculturas em pedra e artesanato
(65) 98402-2049 / (65) 99912-7555
Email: doganbrasil@gmail.com
Imprimir