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Do rap nos vagões de SP ao youtube: rapper cuiabana lança seu primeiro clipe

Da Redação - Vitória Lopes

"Desisto, insisto, respiro, engasgo / E eu precisava de um afago mais nem eu quero estar comigo / Todos eu afasto e sozinha eu não consigo / Engasgo de novo tusso escarro". São com esses versos que a rapper cuiabana Flor Costa lançou seu primeiro clipe autoral, no dia 29 de maio, com feat de Lari Marq. Habitué das batalhas de rap e do freestyle nos vaguões, o som "Reflexo de um Caminho" da MC foi produzido por Bruna Muniz, e lançado pelo canal do Wutremclan, coletivo dos rimadores do vagão.
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Morando em São Paulo desde 2016, a rapper vive dos seus versos há um ano e meio, junto com o marido, o também MC Pauê Ovelha Negra. Única integrante mulher do coletivo Wutremclam, os rimadores do vagão, Flor espalha por meio de suas rimas um fortalecimento para as cabeças cansadas do transporte coletivo. Como mesmo coloca seus colegas do grupo, “uma autoajuda no metrô”.

Com um projeto de lançar uma música de cada membro do Wutremclam, a rapper se juntou com a parceira dos vagões e dos “corre” MC Lari Marq. “É um som muito especial pra gente, que fala muito sinceramente do que vivemos e sentimos. Acho que muita gente passa por isso, por essa angústia, de ter seu pior inimigo dentro de si. A ideia do som é falar sobre isso, trazer uma mensagem positiva e de esperança, que é um pouco do trabalho que faço no vagão”, explica.

Antes de partir pra terra da garoa, a trajetória de Flor na cena do hip-hop começou ainda em Cuiabá, na Batalha da Alencastro. Na sua playlist, o rap já figurava nas faixas, junto com reggae e rock. Mas até então, ela só colava nas batalhas como público, e não como artista.

Já morando na capital paulista, as rodas de rap começaram a ser mais frequentes no seu dia a dia, e Flor começou a colar em cerca de três batalhas por semana. Como por osmose, ela absorvia o “rolê” e começou a compor rimas na cabeça, só que mais como um projeto particular de se expressar e entender seus sentimentos.

“Quando colei na quarta batalha feminina, a Dominação, uma moça da organização me inscreveu e eu rimei pela primeira vez num microfone. Parecia uma alma penada rimando, me tremia inteira (risos). Mas foi legal, porque eu já estava rimando na minha cabeça, mas eu achava que nunca ia tirar de lá e transformar em palavras audíveis”, relembra.

Gradativamente, Flor foi se desenvolvendo e revelando seu potencial como MC. Iniciada nas batalhas das minas, ela despontou na sua primeira batalha de conhecimento com um homem, organizada pela Sexta Free. Até que chegou a mandar a letra em uma de sangue, em que o MC deve atacar verbalmente o oponente.
 

Flor na Batalha Dominação
“Foi aos poucos, batalhando, evoluindo a cada rima. Foi treinando, ouvindo e aprendendo, guaguejando. O rap é uma coisa de sentimento, é um ato político e principalmente, superação. As batalhas também. É uma coisa de se superar, ser melhor do que você é todas as vezes. O problema não é perder pro adversário, é perder pra você mesmo, gaguejar e ficar inseguro. O rap também funciona como uma terapia incrível”, conta.

E sua carreira inaugural muito se deve a cena feminina em ascensão no rap e os incentivos as batalhas exclusivamente das ‘minas’. Hoje como a única mulher do coletivo em que participa, ela conta que são nesses espaços que as MCs se fortalecem e abrem seus caminhos. “As batalhas exclusivamente femininas são espaços muito importantes para a gente estudar, melhorar e se fortalecer, se sentir com mais coragem pra chegar nesses ambientes muito masculinos. Essa é a maior dificuldade que eu vejo das mulheres, de começar, se inscrever e botar a cara a tapa naquela roda cheia de homem olhando”.

Sobre a cena feminina do hip-hop cuiabano, Flor saúda Kessidy Kess, nome expoente diretamente do CPA, que ela sempre ouvia na Batalha da Alencastro e é uma de suas inspirações, assim como PachaAna e a RB8. E observa ainda o crescimento das batalhas, da Batalha das Minas e as que ocorrem na periferia, como no Bairro Pedra 90.
 
Confira o som de Flor MC e Lari Marq:

 
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