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Notícias / Comportamento

Ex-chacretes falam dos tempos de palco e da vida longe dos holofotes com Elizabeth Savalla

O Globo

V ai para o trono ou não vai? Ninguém melhor do que musas do Velho Guerreiro nos anos 1970 como Índia Potira, Regina Pintinha, Sandra Pérola Negra e Beth Boné para avaliar a performance de Elizabeth Savalla como a ex-chacrete Tetê Para-choque e Para-lama em “Amor à vida”. Num encontro com a atriz, o quarteto jura que ela não levaria uma buzinada do Chacrinha, como os calouros reprovados no palco do comunicador.

— Ainda bem que vocês estão gostando. Porque tem gente que está metendo o pau, né? — comenta Elizabeth, sobre a polêmica envolvendo algumas ex-chacretes descontentes com o passado de prostituta de Tetê.
Índia completa: acha a homenagem bonita e diz saber que isso tudo é ficção.

— Essas chacretes estão falando mal porque elas querem aparecer. Eu estou amando.

Distantes da fama como a dançarina que se tornou vendedora de cachorro-quente criada por Walcyr Carrasco, as quatro revisitaram o passado logo que botaram os pés no Projac — apesar de nunca terem trabalhado lá — para encontrar Elizabeth. Enquanto esperavam a atriz, elas pareciam se sentir em casa. E, no fundo, estavam.

Conviveram com celebridades e também experimentaram o sucesso nos tempos em que brilhavam usando botas longuíssimas e maiôs típicos das mais de 500 moças que foram assistentes de palco na “Buzina”, na “Discoteca” e no “Cassino”, principais programas do apresentador exibidos em diferentes épocas e canais.

— Ainda somos reconhecidas nas ruas. Às vezes, me falam “Nossa, esse rosto não me é estranho...” — conta Beth Boné, orgulhosa.

E foi a ex-chacrete mais em evidência hoje que contribuiu com a criação de Tetê. Elizabeth contou às quatro sobre as conversas que teve com Rita Cadillac (que está no reality “A fazenda”, da Record) e destacou que o objetivo era entender o sentimento dela em relação ao posto e tentar reproduzir isso.

— Minha intenção não era fazer uma caricatura — frisa, emendando com uma revelação que ouviu de Rita: — Ela me falou uma coisa que me deixou emocionada e, ao mesmo tempo, chocada. Que a única arma que ela conheceu na vida foi a sedução. Nós todos temos armas. Um pai, uma mãe, uma avó que nos ajudou, uma estrutura familiar, um marido que nos deu uma força. E há pessoas que não tiveram nada. Só puderam contar consigo mesmas.

Índia Potira, que ficou quatro anos presa por ter se envolvido com um traficante, se enxergou na constatação de Elizabeth:

— É uma verdade, Rita não mentiu. A única arma que eu tinha era a sedução mesmo. Quando acabou o glamour, acabou tudo.

Índia Potira vai além e compara as chacretes às assistentes de palco de hoje em dia:

— Não éramos mulheres preparadas como as dançarinas de hoje, do Luciano Huck ou do Faustão. Não tínhamos cultura, oportunidade. Sabe quanto nós ganhávamos? Cinquenta cruzeiros (cerca de R$ 100) por programa do Chacrinha. E eu tinha dois filhos para criar...

Elizabeth faz as contas mentalmente e diz para Índia, arrancando risadas de todas:
— Você está dormindo no formol?

A passagem do tempo também foi tema da conversa.

— Há uma ditadura grande da juventude. Todo mundo está fazendo plástica, todo mundo está com cara de peixe, porque ninguém quer envelhecer — observa Elizabeth, que, aos 58 anos, não se rendeu às plásticas ainda, mas diz que quer fazer “na pálpebra, que está com muita pele”: — Mas só depois da novela, porque a Tetê não tem dinheiro, é pobre, pobre.

O tópico deixou as chacretes, referências de beleza de uma geração, cheias de opinião.

— Temos que saber envelhecer. Eu sei. Me acho linda, maravilhosa. Quando estou meio gordinha, malho — ensina Índia Potira, bisavó aos 66 anos.

— Eu faço academia e me orgulho da idade — completa Beth Boné, enxuta aos 64.

Sandra Pérola Negra e Regina Pintinha também são verdadeiras atletas. Sandra, cheia de energia aos 65 anos, é uma espécie de maratonista: percorre as ruas do Méier, onde mora, vendendo as empadinhas que faz. Regina, esbanjando molejo aos 62, ensina passos de dança a senhoras num projeto sociocultural na Delegacia do Idoso, em Copacabana.

Como o papo era mulherzinha, elas quiseram saber sobre a caracterização de Tetê/Márcia.

— Levo duas horas e meia para ficar pronta: uma hora e meia só no cabelo. Mas fui eu que inventei esse cabelo, não posso xingar ninguém — brinca Elizabeth. — Vi umas fotos antigas minhas como a Mariazinha Moreno, uma personagem que fiz na novela “De quina pra lua”, do Alcides Nogueira (de 1985). Ela tinha o cabelo crespo, usava uma flor na cabeça e calça fuseau. Na época, tinha 30 anos. Resolvi fazer uma homenagem e envelhecer a Mariazinha.

Elizabeth está mesmo feliz com a personagem. Tetê é uma das mais populares de “Amor à vida” e as críticas de algumas ex-chacretes ao passado nebuloso da personagem ela vê com certa tranquilidade:

— É falta de assunto. Todo mundo sempre falou muito mal da profissão de atriz. É que hoje em dia virou moda, mas antigamente, bailarina e atriz eram prostitutas, e ator era homossexual. Antes da regulamentação de 1978 inclusive, a nossa carteirinha era igual a de prostituta. E isso não queria dizer que todas as atrizes eram prostitutas. E nem que quem era prostituta era atriz — observa, destacando sua simpatia pelas chacretes. — O Chacrinha fez um trabalho muito interessante com vocês, tanto que todas são apaixonadas por ele.

— Ele era um pai — completa Beth Boné sobre o eterno patrão, falecido em 1988.

Mas não dá para falar de Tetê/Márcia sem lembrar de sua filha Valdirene (Tatá Werneck). A atriz tirou o jeito “carinhoso” de chamar a filha de uma experiência pessoal.

— Porque ninguém põe o nome na filha de Valdirene se não for para ecoar pelos ares, não é? Esse laboratório eu fiz quando os meus filhos eram pequenos. Tive quatro meninos e herdei dois do meu marido. E quando eles estavam brincando no playground e eu chamava para subir pelo interfone, eles sempre ignoravam. Só atendiam quando eu gritava os nomes deles da janela. Subiam na hora dizendo “que mico, mãe”.

Riso geral mais uma vez. Para terminar, a atriz quis saber se as chacretes da vida real tinham alguma dica para a da ficção. Índia Potira logo sugeriu:

— De vez em quando, você podia fazer umas poses e falar coisas como “Ah, meus tempos”.

— Vou anotar e usar — promete Elizabeth. 
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