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O futuro dos filmes: a Netflix se tornará o próximo grande estúdio de Hollywood?

Rolling Stone Brasil

Sem dúvidas, você já ouviu falar bastante do retorno de Arrested Development para uma quarta temporada, desta vez na Netflix, que pagou para ressuscitar a série da Fox com 15 episódios disponíveis somente para streaming. A série veio logo depois da produção original Netflix House of Cards (foto), bem-sucedida e muito comentada, que ficou disponível em fevereiro. E talvez você também tenha ouvido falar das próximas séries originais da Netflix, ao longo dos próximos anos, criadas por alguns dos nomes mais respeitados da TV e do cinema.

Entrevista: Arrested Development retorna – Michael Cera, Jason Bateman e outros integrantes do elenco falam sobre a série.

O que você talvez não tenha notado, contudo, foi a estreia do primeiro filme em longa-metragem da Netflix. A comédia, chamada Shotgun Wedding, estreou no dia 1º de abril com pouco barulho. Mas e se esse debute apontar para uma nova direção da gigante do home video? A Netflix já se tornou um estúdio de TV que exige comparações a empresas como HBO e Showtime. Será que agora desafiará Hollywood e se tornará um estúdio de cinema também?

Shotgun Wedding, na teoria, não parece grande coisa. É o primeiro filme do diretor Danny Roew. No estilo “found-footage”, a comédia de humor negro mostra padrinhos e madrinhas determinados a dar continuidade a um casamento mesmo depois que o noivo acidentalmente atira na cara de uma das madrinhas. O elenco é formado por atores que você talvez reconheça de aparições especiais na TV e o custo da produção, provavelmente, foi ínfimo. O crédito de produção, na verdade, é atribuído à Fox Digital Studio, sendo que a Netflix comprou os direitos de distribuição.

Ainda assim, é como se a empresa estivesse colocando um pé no oceano da produção cinematográfica. Desde que House of Cards estreou, foram feitas muitas comparações entre a Netflix e a HBO, que serve como um modelo para séries de qualidade feitas por gente conhecida – programas sem restrições ao conteúdo por funcionar por meio de assinatura. House of Cards e Arrested Development são séries com visibilidade que ajudaram a transformar a Netflix, na mente do usuário comum, de uma empresa que alugava DVDs por correio em um serviço de streaming provedor de conteúdo inédito. Graças a ela, qualquer dispositivo com tela que você possuir agora pode se tornar um cinema ou uma TV on-demand.

Uma das razões pela qual a Netflix pode ter ficado um pouco relutante de abraçar a produção de longas e dar preferência a séries é simplesmente o custo de cada uma dessas coisas. Claro, é caro fazer uma série de qualidade; a Netflix gastou, estima-se, US$ 100 milhões em duas temporadas de 13 episódios de House of Cards. Ainda assim, a medida gerou um aumento de mais dois milhões de assinantes novos. Por US$ 8 por mês (no Brasil, R$ 16,90 – os valores são correspondentes aos US$ 8 dos Estados Unidos em todo o mundo), esses novos assinantes bancaram House of Cards em pouco mais de seis meses.

Um longa-metragem de qualidade, contudo, com atores de primeiro escalão, roteiro e diretor de ponta etc., pode chegar a algo entre dezenas e centenas de milhões de dólares. Isso sem contar que um filme de duas horas não terá o mesmo poder de atrair novos assinantes quanto uma série de 13 horas e gerará somente um disco para o mercado de DVDs, posteriormente.

Dito isso, as séries da Netflix estão se tornando mais cinemáticas. Recentemente, tivemos o lançamento de Hemlock Grove, criada pelo diretor de filmes de terror para a telona Eli Roth (O Albergue). Apesar de os críticos não terem gostado muito, o trabalho assinado por Roth acabou se tornando ainda mais popular do que House of Cards. O serviço está prestes a lançar a bastante aguardada nova série de Jenji Kohan (Weeds), Orange Is the New Black (que estreia em 11 de julho). E, no ano que vem, a Netflix estreia a ficção científica Sense8, dos Wachowski, os irmãos por trás de Matrix. Os Wachowski costumam lidar com visuais chamativos e criativos, coisas que não saem barato.

Além disso, existe a maneira como assistimos às séries da Netflix: tudo em um gole só. O serviço só tem incentivado assistir em maratonas; em vez de lançar suas séries com um episódio por semana, como a HBO e as outras redes tradicionais, fazem, o lançamento é feito na íntegra, de uma vez só. Sem os ganchos tradicionais ao final de cada episódio, House of Cards parece um só filme muito longo.

E talvez seja dessa forma que a Netflix se tornará um estúdio de cinema: mudando a nossa definição do que é um filme. Não será uma história de duas horas que se sustente sozinha e que você vê na telona, mas uma trama de duração em aberto que você assiste quando for mais conveniente e na tela que estiver mais perto de você.
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