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Notícias / Artes visuais

José Medeiros aprendeu com os índios e agora quer retribuir tornando-os profissionais da fotografia

Da Redação - Lidiane Barros

Fotógrafos indígenas e 40 imagens de autoconhecimento. Um depoimento visual, um registro histórico. A ideia do projeto Olhar Indígena, idealizado pelo artista José Medeiros, se depender de apoiadores, é capacitar índios ikpeng para que em dois anos de aprendizado tornem-se profissionais da fotografia. As aulas, previstas para iniciarem em julho, estão programadas para dez dias mensais até 2015. Depois, mais quatro etnias devem ser contempladas para que Medeiros atinja o sonho de realizar todo o projeto em dez anos. Os ikpeng foram escolhidos para endossar o projeto-piloto.

A faceta urbanizada de Cuiabá é foco da lente sagaz de um cacerense

Antes que as idealizações do fotógrafo se consolidem, é necessário que uma ação seja desenvolvida para despertar a cultura do apoio a projetos de inclusão social por meio da arte. O “Adote um Índio” é um chamado para a aquisição dos oito kits necessários, que devem conter 1 câmera semi-profissional, cartões, bateria e flash. A Prefeitura de Feliz Natal já se comprometeu com a doação de um kit, além de subsidiar logisticamente a empreitada. Deve contribuir ainda com combustível, carro, barco e avião. São oito horas da cidade até a aldeia.

A escolha pela etnia se deve à intimidade que Medeiros tem com este povo, pois em 20 anos que retratou várias etnias, passou dez deles junto aos ikpeng quando desenvolveu o projeto Já Fui Floresta, no Xingu. “Aprendi muito com eles e agora sinto a necessidade de retribuir”. Os índios confiaram ao fotógrafo o registro do ritual de iniciação moygu. Até agora ele é o único a conseguir esse feito.

Ele se ampara na curiosidade que os índios possuem em relação à fotografia e talvez, no desejo que tem de perpetuar sua história, tão atrelada à arte. “Percebi que todos são muito curiosos para a fotografia, foi então que surgiu a ideia de formar um bom fotógrafo. Um profissional”, diz. E ele ressalta que não há intenção de realizar um curso básico. “Tenho a pretensão, a proposta de mostrar o olhar do índio, ensiná-lo a sentir, captar. Imagina um índio com olhar apurado para a arte e que vai registrar o cotidiano, sua cultura. Fazer ele se expressar. O que esse olhar pode nos ensinar?”.

Ele brinca que ele está obstinado. “Nem que eu chegue aos 90 anos. Eu só saio de lá quando esses índios estiverem fotografando bem. É um curso de capacitação profissional”. Ele também deseja que os índios, assim como ele, possam viver daquela arte também. “Vai ser uma nova forma de ver a floresta. Ele não pesca, ele não caça, ele capta a arte da floresta”.

Já no primeiro ano de projeto, o primeiro resultado: Zé Medeiros quer que os visitantes vejam com os olhos indígenas. Ele idealiza a reprodução de 40 fotos em painéis de 3 x 6 distribuídos por Cuiabá. “Não quero só tirar dos povos indígenas, eu quero deixar algo para eles. Eu estou buscando padrinhos para conseguir o equipamento fotográfico que custa em torno de 8 mil reais. Que empresário não tem esse dinheiro para retribuir? E imagina o barulho q esses indígenas farão na copa?”, dá a deixa.

A proposta ainda prevê que os próprios índios administrem o projeto e que recebam por ela, como acontece com as fotos de “Já Fui Floresta”. “O que eu ganho eu divido com eles. O dinheiro recebido com a venda de fotos deles são 50% para mim, 50% para eles”.



Prêmios e novidade

Zé Medeiros está de morada nova, ainda improvisada. Está instalado em uma casario antigo em plena Praça da Mandioca. O lugar tomado por quadros, máscaras do Carnaval de Guiratinga e apetrechos indígenas, entre outros, está prestes a se tornar uma galeria para comercialização das obras do fotógrafo. Ele deseja manter a arquitetura original e por conta da temática indígena que deve ser amplamente explorada, poderia até ficar caracteriazada como a oca do Zé Medeiros. São dezenas de fotos do projeto Já Fui Floresta, prestes a tomarem as paredes do lugar. A propósito, esse ganhou a chancela de três prêmios. Um deles foi do Instituto Internacional de Fotografia, em São Paulo.
 
A segunda boa notícia veio por conta do 10º Leica-Fotografe. Ele foi finalista com quatro fotos. Duas delas faturaram o segundo - na categoria Colorida - e terceiro lugar, na P&B no mesmo ano, um feito até então inédito. Vale ressaltar, foram duas finalistas na categoria colorida e duas na categoria P&B. As fotos são parte dos projetos O Pantanal de José Medeiros e Já Fui Floresta. 
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