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Notícias / Artes visuais

“Provocação à família” ou “velho moralismo carola”; entenda a polêmica sobre exposição fotográfica

Da Redação - Isabela Mercuri

‘Uma provocação à família tradicional’. É assim que o Bispo Aroldo Telles, da Igreja Missão Viver em Cristo e membro do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (FENASP), enxerga a exposição ‘Cinco Elementos do Cerrado’, retirada do Goiabeiras Shopping no último domingo (13), após diversas denúncias.

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De acordo com o bispo, que escreveu um artigo na sexta-feira (10) criticando as fotos, o problema é o local onde elas foram expostas, por ser um lugar ‘público’ que não daria escolha aos passantes de ver ou não as imagens. “Não sou um expert em arte, sou um bispo, faço parte do FENASP e nós estudamos comportamento. Penso que o problema é o local onde foi exposto, para provocar a sociedade conservadora, as chamadas ‘famílias tradicionais’”, afirmou, em entrevista ao Olhar Conceito.

Na noite do último domingo (12), a Polícia Militar foi acionada para atender uma ocorrência no Shopping Goiabeiras: uma exposição estava com imagens inapropriadas para o público infantil. De acordo com a assessoria da PM, a guarnição foi até o local e viu que se tratava de imagens de mulheres nuas, logo, entrou em contato com a organização do shopping e informou o descontentamento de alguns clientes. Os organizadores optaram pela remoção.

Depois da retirada, diversas pessoas – contra e a favor da escolha do Shopping – se manifestaram nas redes sociais. Uma delas foi o advogado, defensor da cultura e ex-presidente da Academia Mato-Grossense de Letras (AML) Eduardo Mahon. Em uma postagem no Facebook, ele afirmou: “Uma patota de carolas, inspirada no velho moralismo, pressionou o Shopping Goiabeiras a desmontar uma linda exposição fotográfica”. Em outra, publicou imagens de artistas renomados que já trabalharam com o nu. Em entrevista ao Olhar Conceito, ele mantém o ponto de vista:

“Fiquei tão feliz quanto triste ao saber da exposição fotográfica: feliz por ver a arte sendo valorizada e triste ao vê-lapatrulhada. É muito triste que algumas pessoas não consigam enxergar expressão artística no corpo humano. Fico pensando que tristeza é para crianças não poderem frequentar um Louvre, um Prado, um MoMa que expõe constantemente muitos nus de Picasso, Gauguin, Dalí ou Portinari, por exemplo. Fico me perguntando, por outro lado, como esses pais explicam a seus filhos a expressão de um Irigaray ou um Adir Sodré aqui em Mato Grosso. É uma tristeza ver a juventude metida em cabrestos moralizadores, privada dos grandes mestres das artes plásticas, preteridos por juízos de valor tão ultrapassados quanto preconceituosos”, afirmou.

Para o Bispo, no entanto, havia muito mais a ser mostrado. “Nosso cerrado tem tanta coisa, e colocam mulheres nuas? Hoje estamos testemunhando a luta pelos direitos das mulheres pelas feministas, e aí quando é pra falar sobre o cerrado, escolhem colocar o corpo de uma mulher? Nosso cerrado tem tanta coisa, jaquatirica, arara, tatu, vai colocar mulher nua?”, reclamou.

Outra questão apontada pelo líder religioso é o fato de em uma das fotos a mulher estar em frente à Igreja Matriz. “Isso é ou não uma apelação? Tem que respeitar o nosso espaço”.

Na segunda-feira (13) à noite, a Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT) afirmou que vai abrir as portas para a exposição, também no Facebook. Como consequência, sua página foi denunciada e saiu do ar por algum tempo, mas o órgão manteve a decisão.

As fotos de “Cinco Elementos do Cerrado” serão expostas na Galeria Silva Freire a partir da próxima semana. Aos fundamentalistas religiosos, restam as propagandas de lingerie.
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