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Crítica Palco Giratório

Diretor coloca sua própria história em palco e transforma espetáculo em documentário

08 Mai 2013 - 10:20

Raquel Mützenberg - Especial para o Olhar Conceito*

Foto: Divulgação

Diretor coloca sua própria história em palco e transforma espetáculo em documentário
O espetáculo “Luiz Antônio – Gabriela” exibido no sábado (5) no Sesc Arsenal surpreendeu a platéia cuiabana não só por sua audácia, mas por sua verdade. O diretor Nelson Baskerville coloca em cena sua própria história, na qual o irmão mais velho, travesti, Luis Antonio, desafia as regras de uma família conservadora dos anos 1960 e parte para a Espanha sob o nome de Gabriela.

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A história tem início em 1953, com o nascimento de Luis Antonio, filho mais velho de seis irmãos, que passou a infância, adolescência e parte da juventude em Santos até ir embora para Espanha aos 30 anos. O espetáculo foi construído a partir de depoimentos do ator e diretor Nelson Baskerville, de sua irmã Maria Cristina, de Doracy, sua madrasta e de Serginho, cabeleireiro em Santos e amigo de Luis Antonio, e narra sua historia até o ano de 2006, data de sua morte em Bilbao onde vivera até então como Gabriela.

O espetáculo é literalmente, um documentário, que não aponta um vilão nem um mocinho. O roteiro foi todo baseado em depoimentos de amigos e familiares de Luis Antonio. No segundo ato do espetáculo, começam a ser projetadas fotos reais em que se pode identificar os personagens assumidamente representados pelos atores.

A intenção da Cia Mungunzá é contar uma história, seja qual for o recurso necessário para isso. Além da sonoplastia muito bem elaborada e executada (apesar dos atores afirmarem que não cantam tão bem assim), o espetáculo conta com um projetor e uma televisão conectados a uma câmera operada pelos próprios atores. O resultado dessa parafernália orquestrada é que o espectador assiste à cena no palco e, simultaneamente, assiste um close daquela cena recortada por um ator que está de fora. Isso tudo bem assumido. Sem grilo nenhum em assumir que está tudo sendo feito ali na hora, o rider da peça apenas exige um espaço sem coxias, sem refletores, sem cortina.

Não há truques, há o efeito sinestésico de tudo o que é assumidamente executado para que a história seja contada numa tentativa de transmitir aquela realidade.Realidade que, segundo a irmã de Luis Antonio, Maria Cristina, foi bem pior do que o espetáculo passa.

Difícil mensurar essa realidade, mas o que eu vi naquele palco me constrangeu por me fazer chorar e rir ao mesmo tempo. Com um desfecho que me fez ter medo de quando as luzes do teatro acendessem e me pegassem às lagrimas, que estavam (que alívio) praticamente em todos os olhos da plateia.

* Raquel é atriz e jornalista e não perde um espetáculo deste Palco Giratório por nada. Para nossa alegria, divide suas impressões com os leitores do Olhar Conceito. Veja mais críticas no blog Três Movimentos

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