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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

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Cubanos recebem 'delivery de internet' para burlar restrições

Cuba é um país desconectado do mundo em vários sentidos. O uso da internet, por exemplo, ainda não é permitido, e muitas pessoas não têm acesso à rede em casa ou no trabalho.

Mas o país encontrou uma forma surpreendente de burlar as restrições impostas pelo governo: internet via "entregas manuais".
À primeira vista, pode parecer estranho, especialmente nas partes do mundo onde a conexão discada já foi substituída pela banda larga.

Mas, após 56 anos de regime comunista e embargos dos Estados Unidos, soluções para as frustrações do dia à dia se multiplicaram em todas as áreas. Uma delas é "El Paquete Semanal" ou "O Pacote Semanal".

O "Paquete" é uma alternativa de acesso à internet no país onde, segundo estimativas, menos de 5% das casas têm conexão à rede.

O sistema consiste de um disco rígido portátil com um terabyte de música, filmes de Hollywood, séries de TV, aplicativos de telefone, revistas e até uma seção de classificados similar ao Gumtree ou a Craiglist.

Toda semana, curadores não identificados compilam o conteúdo e usam uma complexa rede de distribuidores para fazer as entregas.

Como os antigos entregadores de jornal, os HDs com o "Paquete" são deixados nas portas dos assinantes. Tudo é feito às margens da legalidade ─ e da legislação internacional sobre direitos autorais.
Jovens
O "Paquete" vem atendendo os desejos especialmente de jovens que por anos acumularam computadores, laptops, tablets e smartphones aguardando o dia em que o regime cubano ampliaria o acesso à internet.
Nesse meio tempo, o "Paquete" vem preenchendo o vazio para usuários regulares como Ana Lauren, uma jornalista de 24 anos de Havana.
"O 'Paquete Semanal' é a alternativa que temos para conseguir acesso a videos, música, telenovelas, tudo", diz ela.
Ana, que é fã de documentários, afirma esperar com ansiedade pelas segunda-feiras quando a nova edição do 'Paquete' é entregue na porta de sua casa.
"Toda segunda-feira um homem vem aqui com um disco rígido portátil e cópias do 'Paquete' para o meu computador", explica Ana.
"Posso copiar o que quiser. Se não quero copiar música nesta semana, não preciso. Só copio o que quero usar na semana".
Ela acrescenta que paga entre US$ 1 (R$ 3,50) e US$ 2 (R$ 7) pelo Paquete toda semana, dependendo de quanto queira copiar para o seu computador.

Nova mídia
O esquema é tão popular em Cuba que pavimentou o caminho para a criação e expansão de um novo tipo de mídia que só existe para assinantes.
Antoinette Duquesne, jornalista que escreve para uma das principais publicações culturais de Cuba, diz que a revista tem um site na internet que é lido por expatriados cubanos, mas muitos dos leitores dentro do país a acessam por meio da versão PDF publicada no "Paquete".
"Existimos na internet, mas o 'Paquete Semanal' tem uma vasta gama de distribuidores e é vendido ao redor do país", diz ela. "Sendo assim, trata-se da melhor maneira de nos conectarmos com a nossa audiência".
Mais importante do que isso, entretanto, diz Antoinette, são as oportunidades de trabalho que o 'Paquete' criou para jornalistas como ela.
"O 'Paquete' está abrindo possibilidades para pessoas como eu já que nos dá a oportunidade de fazer coisas que nem poderia imaginar antes. Afinal de contas, se você quiser trabalhar como jornalista aqui a única opção é a imprensa oficial", explica Antoinette.
Negócio
Além disso, o 'Paquete' vem se aproveitando das mudanças no cenário de negócios do país.
Através do pacote semanal, a agência de publicidade Etres oferece um serviço pago a empresas cubanas, tais como restaurantes, estúdios de fotografia e salões de beleza que querem sondar novos clientes. São negócios que operam legalmente em Cuba desde que as regras para negócios privados foram flexibilizadas em 2011.
A Etres cria anúncios e os veicula no "Paquete" no fim dos programas oferecidos.
Apesar do sucesso e da lealdade de muitos de seus assinantes, o esquema já está com os dias contados, já que as autoridades cubanas começaram a relaxar os controles sobre o acesso à internet no país.
Nesse cenário, há certamente interesse de grandes empresas de tecnologia americanas como o Google para resolver os problemas de conectividade cubana.
Apesar disso, o Paquete será para sempre lembrado por apresentar uma solução para um problema crítico em Cuba em meio às poucas alternativas existentes.
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