Rachel Weisz é ótima como heroína de Terence Rattigan em "Amor Profundo". O filme de Terence Davies baseia-se na peça "The Deep Blue Sea", que Anatole Litvak filmou em 1955, com Vivien Leigh. No Brasil chamou-se "O Profundo Mar Azul". A história passa-se após a 2.ª Guerra e mostra como mulher casada se envolve com piloto que ainda sofre de perturbações provocadas por seu envolvimento nos combates aéreos. Rachel ganhou o Oscar de coadjuvante por "O Jardineiro Fiel", de Fernando Meirelles. É uma atriz intensa, além de mulher bonita e sensual. Mesmo sabendo disso, o espectador poderá se surpreender com sua interpretação madura e nuançada.
Numa conversa com a reportagem, o inglês Terence Davies observou certa vez como sua carreira é esquisita. Ele fez filmes pessoais, muitas vezes autobiográficos, inspirados em suas lembranças familiares. Pela sinceridade, pelo uso da música, esses filmes encontraram seu nicho. "Madonna and Child", "Death and Transfiguration", "Vozes Distantes" e "O Fim de Um Longo Dia" viraram cults. Em 2000, Davies fez "A Essência de Uma Paixão", baseado no romance de Edith Wharton. Foi seu filme mais caro e também seu maior sucesso de público, valorizado pela interpretação intensa de Gillian Armstrong, da série "Arquivo X".
A perplexidade do próprio Davies deve-se ao fato de que seu sucesso foi punido, não premiado, e durante quase uma década ele conseguiu fazer pouquíssima coisa, quase sempre de forma muito independente. "Amor Profundo" possui a estrutura romanesca de "A Essência de Uma Paixão" - outra adaptação -, mas Davies não desiste das elipses de tempo que marcavam seus primeiros filmes. E permanece fiel a temas que sempre lhe calaram fundo. Gay assumido, o diretor gosta de falar de amor e de perda. A entrega é sempre difícil e dolorosa em seus filmes. As mulheres, via de regra, são sensíveis - e sofredoras.
Rachel Weisz divide-se entre dois amores, que são também dois estilos de vida. O marido lhe proporciona conforto e segurança. O amante, o piloto, a projeta num turbilhão de sexo, mas quando ela abre mão de tudo e a relação é descoberta, Hester - é seu nome - fica perdida. Tenta o suicídio, mas fracassa e faz o inventário de sua vida.
Terence Rattigan nasceu em 1911 - o filme pega carona nas comemorações do centenário do escritor. Na versão de Davies, a ênfase está no fato de que Hester/Rachel vive em função de seus homens - filha de um pastor, mulher de um juiz, amante de um soldado. Entregue a si mesma, vacila. A atuação da atriz e a trilha, em que canções populares se mesclam ao concerto para violino de Samuel Barber, criam um universo intimista e dilacerante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.