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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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História, Memória e Arte

Coluna de estreia: As novas discussões culturais possíveis

Foto: Jhenifer Heinrich

Coluna de estreia: As novas discussões culturais possíveis
É cada vez mais complicado pensar e categorizar a História de forma distinta a Arte. A constante quebra dos paradigmas científicos alcançada pela contemporaneidade e a volátil estrutura das organizações sociais expõe as características etérias do humano, realçando a poética da vida. Não podemos desconsiderar os planos cartesianos em busca do esquadrinhamento do homem, porém, a negação das diversas possibilidades de construções (ou desconstrução) de “verdades” é um erro que precisa ser abolido. Esses problemas de “conduta” acabam domando o que deve ser considerado histórico. A delimitação do que pode representar algo notável para um grupo de pessoas é uma falha constante, por exemplo, em nosso sistema educacional.

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Um dos problemas da escola está na relação unilateral de ensino aprendizagem. O livro didático é quase sempre considerado uma cartilha do real e os professores tomam forma de Deuses do conhecimento puro. Essa ideia, comumente difundida, traça limites do que seria o "correto" e o "errado", não indo além dessas concepções e ignorando, por conseguinte, a subjetividade dos seres. Por ignorar a individualidade cada vez mais importante nas análises sociais, todo esse processo pode ser entendido como uma fase de desenvolvimento da estupidez.



O que mais assusta é que esse "estágio" de estupidez não está limitado ao período da educação básica ou ao desenvolvimento das interações de aprendizagem nas ciências humanas. A ignorância acaba por acompanhar, como uma dádiva de Deus, a maioria das pessoas, pelo resto de suas vidas. Não é difícil perceber diferentes grupos sócias que cultivam a falta de saber em relação aos seus próprios traços culturais, ou seja, em relação a sua própria história. Infelizmente a cidade de Cuiabá, em sua crescente qualidade cosmopolita, ainda padece de um autoconhecimento. Essa nebulosidade no que diz respeito aos aspectos tradicionais da capital mato-grossense pode ser atestada ao avaliarmos o critério de "eleição" do que está cristalizado em nossas cabeças como patrimônio cultural.

Qualificar como positivo ou negativo nossas lendas, costumes e mitos é um erro. Porém, delimitar o que faz parte do nosso folclore, negando o surgimento de novas possibilidades traz um equivoco maior. Pelas ruas e praças de Cuiabá circulam sujeitos e as suas vidas, o sangue e a sua energia, pessoas e seu cansaço, a alegria de um povo junto aos variados desejos. Esses locais são os caminhos do cotidiano que comportam as surpresas e as revelações que quebram a mesmice do urbano. Todos esses pontos de nossa cidade e seus aspecto imateriais são as linhas de expressão de uma face citadina "moderna" que não pode sofrer do esquecimento atual.



Infelizmente a memória cuiabana é sempre golpeada pelo preconcebimento do seus monumentos históricos, o que gera a exclusão de novos aspectos culturais. Não temos a percepção de que toda nossa memória, em constante transformação, é passível de importância e poder. É por isso que devemos pensar como a vida do povo cuiabano poderia ser celebrada diariamente, de forma positiva, se a dinâmica das relações sociais fosse melhor compreendida. Marc Bloch, um dos mais importantes pensadores das ciências humanas no século XX disse que "o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça". Amplio - sem pretensões filosóficas, mas por puro comodismo - a frase de Bloch e digo que não só o profissional da História deveria parecer o ogro da lenda, mas sim todos os homens.

Não é minha intenção propor aqui um Manifesto Cultural objetivando guiar as novas representações das tradições cuiabanas. Não tenho esse poder. O que espero é que isso signifique a criação de mais um espaço capaz de discutir sobre a poética popular da vida em nossa cidade. Debateremos sobre nós. Considere como seria perfeito se a subjetividade cotidiana trouxesse a consciência de que tudo é história, de que tudo é arte. Das produções audiovisuais até a arquitetura, da vida privada aos saberes imateriais, nosso patrimônio é infinito e é sobre essa imensidão que caminharemos.



P.S.: Esta coluna também será destinada à exposição de trabalhos construídos por diversos autores. Logo na estréia, a fotógrafa Jhenifer Heinrich nos apresentou parte de seu acervo.

*Arthur Santos da Silva é formado em história pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Atualmente, cursa jornalismo na mesma instituição e trabalha no Olhar Jurídico. Email para contato: arthur.santos.1213@gmail.com

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