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Terça-feira, 12 de novembro de 2024

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Revolução na modificação corporal: Play Piercing Filtro dos Sonhos é projeto ousado de Cuiabá

Revolução na modificação corporal: Play Piercing Filtro dos Sonhos é projeto ousado de Cuiabá
Muitos olham assustados para o corpo modificado com argolas, cores, pedras e até madeira. Apesar de já se assimilar como forma de expressão de cada um, as modificações corporais, ainda são ‘taxadas’ devido ao seu radicalismo. Porém, os indígenas são a prova de que isto, de alguma forma, é inerente ao ser humano, pois é uma tradição antiga destes povos. Enquanto alguns olham com curiosidade e estranhamento, outros olham com sensibilidade por ver a arte por trás da modificação corporal. E foi assim, justamente por trilhar o caminho artístico, que Octávio Gama da Black Rat Body Art se uniu a Daiani Martinelli do Filtros & Afins, e realizou uma experiência ousada: um filtro de sonhos corporal, o Play Piercing Filtro dos Sonhos. (Para conhecer mais sobre a ousadia destes artistas, acesse o Facebook AQUI).


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Foram cinco horas de ritual como denomina Octávio: ‘vejo o piercing como algo ritualístico, espiritual, que carrega uma disciplina séria. E sem dúvida, ele não estava alimentando minhas necessidades artísticas. E mesmo adorando desenhar, precisava manter o foco e abrir a cabeça. E convivendo diariamente com os artesanatos da Daiani Martinelli, minha namorada, não resisti em colocar esse piloto em prática’, contou.

E tudo o que precisou foi um empurrãozinho de Day, que disse ‘é, pode dar certo’. Pronto, era o que bastava. “Ela me apoiou desde o início, e não é a toa que a ideia foi da cabeça para a pele num piscar de olhos. Agradeço muito a Ananda Alves, por ter oferecido seu corpo como voluntário para o nosso projeto e o John Abyss. Sem dúvida é dar o corpo e a alma pela arte (rs)”, disse.



O Play Piercing Filtro dos Sonhos foi um piloto em que os artistas utilizaram mecanismos que já eram familiarizados para testar a possibilidade e amadurecer o ‘como fazer’. Agora, a empreitada é trabalhar em cima de uma temática. “Explorar nossas telas vivas ao máximo, através do piercing, do tear, pintura corporal (não tatuagem) e fotografia. Dando uma pegada mais profissional ao projeto”, revelou.

O interesse pelo mundo da modificação corporal começou pela admiração aos heróis da TV e do cinema que carregavam cicatrizes e marcações de guerra. “Este foi o meu primeiro estímulo com certeza. Nos tempos de Fotolog, pude conhecer o portfólio do Manuel Garcia (Sorocaba/SP) e com certeza foi o trampolim que me fez entrar de cabeça nessa vida. Tive oportunidade de conhecê-lo em São Paulo anos atrás, no estúdio aonde me profissionalizei”, explicou.

Então, o que começou como curiosidade virou estudo. “Em São Paulo tive contato com o "underground" da cultura, com a suspensão, com a modificação hard core. Nessa época eu já tinha consciência que carregava uma paixão pela coisa. E quando sobrou um dinheiro no bolso, fui fazer um curso por lá mesmo. E quando coloquei a mão na massa, rolou uma sintonia, senti que tinha nascido para fazer isso”.



Sobre a visão das modificações, principalmente em Cuiabá, uma capital provinciana em muitos aspectos, Octávio ressalta que a cidade ‘ainda carrega muitos tabus’. “Embora de uns tempos para cá, apareçam interessados em fazer scar, suspensão ou microdermal, o que ao meu ver é um grande avanço cultural, apesar das modificações mais comerciais sempre dominarem o mercado, como o piercing e a tatuagem”, acrescentou.

“Cuiabá carrega grandes tabus até hoje no cotidiano social/profissional, a tatuagem vejo que foi a mais aceita por todo o seu lance estético, embelezador do corpo. O grande lance de quebrar preconceito é ver além do estético, caso contrário a cultura sempre será realmente superficial. Tive sempre ótimos educadores no ramo, tanto os grandes mestres em São Paulo, como os que confio meu corpo aqui em Cuiabá, tive muita sorte devo confessar. E hoje, tento deixar mais que só uma marca no corpo de cada cliente”.

A sua visão sobre a modificação corporal é que ela vem de dentro para fora, Octávio cita que acontece por questões espirituais, estéticas ou até fetiches sexuais. O artista destaca que é imaturo pensar que modificar o corpo muda o seu caráter para melhor, e ‘assim, o tiro sai pela culatra, o ego infla e a arrogância aflora, a satisfação se faz esquecida e a mente atrofia. O que usamos para marcar o corpo não é nada mais que uma expressão do que nós guardamos’.

Octávio aponta que a tatuagem como arte é muito expressiva neste aspecto, e o piercing é um ritual mais íntimo à leitura, que fecha ciclos em momentos de conforto e iniciam outros com ímpeto de metamorfose. “É um detalhe tão sutil que às vezes os próprios clientes não tem consciência disso”.



E é com o passar do tempo que a modificação corporal se torna a história de vida, como Octávio esclarece, que tudo começa ao expressar pequenos desejos do corpo como um todo, em se modificar. “Como uma experiência estética complexa acredito que acabe se tornando uma obra de arte, embora fragmentado, ali existem modificações feitas com um olhar artístico, outras como ritual e algumas funcionais (como identificação). Cada corpo carrega sua arte de intimidade primitivista e de charme rebuscado, normalmente maculado por diversos artistas”, reparte sobre o mundo que lhe é particular.

O único alerta que o artista faz é com relação a limitação de Body Piercers em Cuiabá, pois, discorda que o tatuador possa realizar este papel, do mesmo modo que ‘não confiaria uma máquina de tatuar a um Body Piercers’. Entre os que destaca a atuação em Cuiabá, que são avançados na prática é Jamil Cuxi e Leandro Freitas.



“Meu foco maior com modificação corporal é trabalhar a conscientização social e usar uma parcela do meu tempo pra me divertir fazendo arte, expor em galeria quem sabe, vejo esta como uma opção muito mais "digerível" para quebrar os tabus sociais”, concluiu.
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