O tão esperado beijo gay na Rede Globo finalmente aconteceu. Após a pressão popular, que através das redes sociais, pedia que o amor de Félix e Nico fosse selado com os lábios, assim como todo casal heterossexual, que tem cenas muito mais picantes do que um beijo sem língua. E o que isso demonstra? Os otimistas irão dizer que o Brasil está mudando, outros que a maior emissora de televisão do país também está mudando.

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E do outro lado, estão os pessimistas, que preferem observar a recepção do público com relação ao beijo gay. Para alguns, o beijo foi natural, e o final merecido para os personagens. Mas, comentários como ‘Satã colocou um chip na cabeça do autor, cadê Jesus?’ proliferaram pela Internet, revelando a cara preconceituosa do Brasil.

Convenhamos, estamos no ano de 2014. E o fim da novela de Walcyr Carrasco trouxe uma mensagem muito importante, que se parassem para escutar e abrir o coração, poderiam se embalar pela emoção e sensibilidade que guiou o último capítulo. Afinal, a trama se fechou em César abrindo seu coração para o filho rejeitado, que acabou, no fim, sendo o único que realmente amou o pai e ficou ao seu lado, apesar de todos os maus tratos.

Mas, a raiva no discurso de algumas pessoas (a proporção dos comentários negativos, não se pode afirmar, porém, eles estão lá), revela uma faceta hipócrita do brasileiro. A novela teve um enredo pesado e o autor quis abordar temáticas que pudessem fazer o público refletir. O hospital funcionou como um vetor para que as doenças fossem tratadas com naturalidade, para demonstrar como se vive pessoas que lidam com o câncer, AIDS, lúpus, autismo.

Porém, ao seguir a linha de temas 'espinhosos', arrisco a dizer que o que norteou a novela foi a homossexualidade de Félix. Em uma das discussões acaloradas entre pai e filho, César fala que sempre repudiou o seu jeito, diferente dos outros meninos desde criança. Outro rancor guardado era com relação ao filho que havia falecido, porque segundo o pai, a culpa seria de Félix por ‘chorar demais e a babá se distrair com ele’.

César se mostrou um personagem rancoroso, que guardava uma mágoa por não possuir a família que almejava, e por isso, buscava fora do casamento o que não encontrara em seu ideal. A rejeição fez Félix se tornar amargurado assim como o pai. Mas, com um sentimento de não ser amado, acabou cometendo atos temíveis para machucar aqueles que o machucaram (em sua cabeça queria o amor que Paloma recebia do pai, e por isso resolveu tirar dela, o amor que teria com a filha).

Mas, ao cometer tantos erros ao longo da vida, César deixou atrás de si um rastilho de pólvora, que culminou em sua decadência. Agora, era um velho enjeitado, enganado, e sem perspectiva de futuro. Totalmente rancoroso. Porém, alcançou a redenção ao final, ao aceitar o amor do filho e compreender o que realmente é importante em nossa vida.

O personagem de César ensinou uma valiosa mensagem de amor e superação dos próprios preconceitos e medos. Ao perceber que a pessoa que havia rejeitado durante toda a vida, era a única que permaneceu para cuidar de si, chegou ao entendimento máximo da relação entre pai e filho.



Talvez, César seja um retrato do Brasil. E o fim da novela, um pôr-do-sol e um aperto de mãos entre pai e filho, seja a redenção do país, que pode abraçar as diferenças, e seguir juntos, humanos, como a mensagem que querem passar com suas bíblias e deuses. A mensagem final de Amor à Vida é justamente isto. Amor à Vida, a todas as pessoas em vida, aos diferentes, fora do padrão, ditos anormais pela sociedade. Amar. É a lição máxima de humanidade que precisamos tirar em vida.