Pela primeira vez em mais de 30 anos de funcionamento, a pousada Araras Eco Lodge, localizada na Transpantaneira, registrou a presença de uma onça-pintada dentro de suas instalações. O animal, um jovem macho que foi apelidado como Macau, passou a circular com frequência pelo entorno da área, surpreendendo turistas e funcionários.
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O proprietário do local André Thuronyi, explicou ao
Olhar Conceito, que o episódio reflete um movimento mais amplo no Pantanal: a expansão territorial das onças, impulsionada pelo crescimento populacional da espécie e pela queda dos conflitos com o ser humano.
Os primeiros sinais da presença do felino foram vistos há cerca de quatro meses, por meio de pegadas e registros em câmeras. “Nas últimas semanas, ele começou a se aproximar cada vez mais, chegando ao ponto de deitar na varanda em frente a um dos apartamentos em uma tarde de calor de mais de 40ºC. Também passou a circular em áreas usadas por turistas e funcionários”, relatou.
Diante da situação, a pousada buscou orientação de especialistas e contou com o apoio do Instituto Impacto, organização que atua em soluções para reduzir conflitos entre onças e seres humanos. Foram instalados cercados de tela e cerca elétrica em uma área de 15 mil m² no entorno da pousada, além de reforço na iluminação.
As medidas criaram um limite seguro tanto para visitantes quanto para o animal, que continua circulando pela região, explicou André. Nesta terça-feira (23), a onça passou o dia descansando atrás da pousada e, à noite, surpreendeu turistas ao caçar um grupo de capivaras sob a iluminação artificial perto de uma piscina.
“Ela deu um show. Todos deixaram o jantar para acompanhar a cena”, contou Thuronyi. A aparição acabou transformando a rotina do local: visitantes estrangeiros e brasileiros que buscam o turismo de contemplação agora podem ver de perto o felino.
A presença inédita de uma onça na pousada é resultado direto das mudanças ocorridas no Pantanal nas últimas décadas. Thuronyi lembrou que quando chegou à região, em 1976, levou 11 anos para avistar uma onça-pintada pela primeira vez no Pantanal.
“Cheguei aqui no Pantanal em 1976, junto com o término da Transpantaneira, eu passei três temporadas acampado na Fazenda Santa Rosa, no final da Transpantaneira, na região chamada como Porto Jofre. Levei 11 anos, apenas em 1987, eu vi minha primeira onça, atravessando o rio a nado".
A migração da pecuária para o Cerrado e a Amazônia, após pesquisas da Embrapa no fim dos anos 1980, reduziu o conflito entre pecuaristas e onças, permitindo o aumento populacional. Além disso, o fortalecimento do turismo de natureza ajudou a inibir práticas como a caça e o uso indiscriminado do fogo.
“Houve a mudança da economia do gado no Pantanal para o gado sendo criado no cerrado, isso se deve porque a Embrapa descobriu que jogando calcário nas terras ácidas do cerrado você passaria a ter uma terra muito fértil. Portanto, a pecuária saiu do Pantanal e foi para o Cerrado, além da Amazônia naquele período do fim dos anos 80. Teve também uma grande cheia entre 1988 e 1989 que morreram muitos gados, então a economia do gado caiu fortemente. Com isso, o conflito homem x onça pintada diminuiu e, desde lá, elas vêm aumentando em número”
Para André, Macau frequentar o ambiente da pousada pode ser um exemplo de convivência harmônica. "Há 34 anos estou aqui e nunca tinha visto uma onça na pousada, muito menos uma com tamanha intimidade. Isso mostra que há um crescimento populacional substancial, e novos indivíduos estão buscando seus territórios”.
"Acredito que outras pousadas também vão adotar medidas de proteção, o que pode minimizar riscos e evitar acidentes”, completou.
