A redução de eventos de lambadão em Cuiabá e a abordagem truculenta em uma casa de festas no bairro CPA, em Cuiabá, mobilizou artistas que fazem parte da cena do gênero musical que nasceu nas periferias da Baixada Cuiabana. O presidente do Instituto Digoreste, Vlademir Reis, que encabeça a movimentação, afirma que a diminuição das festas na capital preocupa não apenas pelo impacto cultural, mas também econômico.

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O episódio que motivou a reação recente aconteceu na madrugada de sábado para domingo da semana passada, na casa de festas Top+, onde era realizada a 2ª edição do evento “24 Horas de Lambadão”. Segundo os organizadores, a operação envolveu mais de 60 policiais e 40 viaturas, além do uso de gás lacrimogênio.

Vídeos divulgados mostram clientes saindo do local com dificuldade para respirar. Apesar de apresentarem toda a documentação exigida, o evento foi interrompido. Ao Olhar Coneito, Vlademir explica que nos últimos anos, era comum haver entre 10 e 20 festas de Lambadão por final de semana em Cuiabá.

“Hoje, neste final de semana, só tem três eventos em Cuiabá. O restante é tudo fora da Baixada”, explicou. Ele destaca que essas festas são voltadas para trabalhadores que saem da rotina e buscam lazer em um ambiente seguro, muitas vezes documentado e com controle de segurança.

“Infelizmente, isso não é um caso isolado. Quase toda semana a gente passa por esse tipo de operação. E é importante ressaltar: não é por suspeita de drogas ou menores. É uma festa de trabalhador da periferia que quer se divertir e voltar para casa em paz”, afirma Vlademir. Ele questiona o que considera um tratamento desigual em relação a outros tipos de eventos localizados em áreas nobres da cidade, como a Praça Popular. 

"Você não vê indo nas casas de pagode, nas casas de sertanejo, naqueles bares ali na Beira Rio. O trabalhador hoje sai todo dia cedo para ir trabalhar, chega no final de semana, eles querem curtir um lambadão, curtir em um lugar que sabem que vão curtir só, sem problema nenhum, tomar uma cerveja, dançar, rever os amigos e viver para casa em paz. Ninguém sai de casa para o lambadão, pensando em confusão ou fazer algo ilícito". 

A mobilização liderada por Vlademir envolve artistas, promotores e frequentadores, com mais de 200 pessoas engajadas, e busca abrir diálogo com o poder público para garantir a realização dos eventos de Lambadão. “A gente depende disso. O pessoal da periferia depende disso. É cultura, é lazer, é economia”, reforça.

Vlademir destaca que o objetivo da mobilização é garantir que o Lambadão continue como espaço de lazer e expressão cultural da periferia, preservando empregos, renda e a tradição musical que é referência para toda a comunidade.

Na próxima quarta-feira (10), durante o evento Dia do Lambadão – Prêmio Jaime de Queiroz, no Várzea Grande Shopping, artistas e trabalhadores do gênero vão aproveitar a celebração para realizar uma manifestação pacífica. O ato, organizado pelo Instituto Digoreste, acontece em resposta às operações de fiscalização e à redução no número de festas em Cuiabá e região.

De acordo com o presidente do Instituto, Vlademir Reis, o objetivo é reafirmar a importância do lambadão como patrimônio imaterial, além de mostrar que essa expressão cultural é resistência, identidade e fonte de renda para milhares de pessoas em Mato Grosso. O evento contará com homenagens, apresentações artísticas e a presença de autoridades, representantes culturais e comunidade.