Há dois anos, Lerilissa Moreira começou uma transição de carreira quando decidiu deixar o emprego no escritório de uma metálurgica para se dedicar aos cortes de cabelo. Natural de Corumbá (MS), ela agora mora em Cuiabá, onde trabalha como barbeira. No entanto, depois de se especializar na nova profissão, Lerilissa, ou Leri, como é conhecida pelos amigos e clientes, decidiu ir além dos degradês e barbas desenhadas. Seus cortes têm personalidade e são inspirados no estilo underground que ganhou força em salões especializados como Pelo Tosco e Cubo, em São Paulo (SP), e ainda são raros na capital mato-grossense.
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Ela não esconde a satisfação por poder trabalhar com o que gosta e, ao mesmo tempo, afirmar seu estilo. Em seu portfólio, a jovem barbeira tem dezenas de laterais raspadas com desenhos feitos na máquina ou navalha, além de cortes assimétricos e coloridos. “Sempre tive esse lado criativo, diferente. A internet me influenciou muito. Sempre gostei de pesquisar, entrar em grupos, conhecer gente de outros estilos. A música também influencia muito meu trabalho".
Apesar do lado underground, Leri também atende os clientes tradicionais das barbearias, mas tem se destacado entre os que buscam cortes mais ousados, com desenhos, navalhados, franjas e assimetrias. “Muita gente fala da dificuldade de encontrar aqui em Cuiabá quem faça algo diferente. Isso me motivou mais ainda a seguir nesse caminho".
Leri ficou um ano no trabalho administrativo até que decidiu entrar de cabeça no universo da barbearia e investiu no primeiro curso para se especializar. A profissão que escolheu é, historicamente, relacionada aos homens, algo que ela notou na sala de aula. “No meu curso, só tinha eu e mais uma mulher".
Apesar de ter enfrentado resistência de clientes que recusavam corte apenas por ela ser mulher, hoje ela lida com isso com tranquilidade. “ Alguns homens não queriam cortar comigo só por eu ser mulher. Hoje nem ligo mais. Se não quer, tudo bem. Muitos dizem que nunca cortaram com mulher e elogiam minha mão leve”, conta.
Mesmo sendo uma pessoa tímida, Leri encontrou nos cabelos uma forma potente de expressão. Desde criança, ela se interessava por estilos diferentes e começou a experimentar em si mesma, pintando e cortando o próprio cabelo. “Acho que diz muito sobre a personalidade, dá uma presença”, explica.
Para ela, os cortes e cores sempre foram uma maneira de comunicar quem é, mesmo sem dizer uma palavra, entendimento que aplica no trabalho que desenvolve com seus clientes hoje.
"Sempre gostei de coisas diferentes. A internet me influenciou muito. Sempre gostei de cabelo colorido, de cortes diferentes. Via artistas com esse estilo e achava legal. Comecei a fazer em mim, comecei a gostar. Acho que diz muito sobre a personalidade, dá uma presença. Mesmo sendo tímida, chamava atenção".
Um dos sonhos da barbeira é ter o próprio salão, mas ela pensa em um espaço que também fuja do convencional, unindo corte, arte e estilo de vida. “Já tive uma loja de roupas e acessórios alternativos. Eu fazia tudo: brinco, cerâmica... Sempre fui artista. Agora quero unir tudo isso no meu trabalho".