O Dia Nacional da Visibilidade Trans, que completou 21 anos em 2025, é celebrado nesta quinta-feira (29). A data se tornou um marco para a luta por direitos e reconhecimento da população trans no Brasil. A data faz alusão ao ano de 2004, quando ativistas trans estiveram em Brasília no lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, em parceria com o Ministério da Saúde, algo que entrou para a história na longa trajetória do ativismo trans brasileiro.
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No ano passado, a cantora Liniker foi a grande vencedora do Prêmio Multishow, se consagrando como a primeira mulher trans negra a conquistar quatro prêmios, incluindo o de Artista do Ano, pelo lançamento do álbum Caju.
Liniker se tornou sinônimo de representatividade e resistência na arte brasileira, mas em Mato Grosso, artistas trans também têm se destacado no universo artístico nas mais diversas áreas de atuação.
O Olhar Conceito listou alguns dos talentos que merecem ser acompanhados:
Luisa Lamar
Quando ainda era criança, a cantora Luisa Lamar, de 27 anos, se lembra de ter desejado estar no palco pela primeira vez ao ver as performances do irmão, Paulo Monarco, de 35, que cedo já se apresentava nos bares de Cuiabá.
Alguns anos depois, quando já estava compondo as próprias músicas, Luisa escreveu “Lambatrans”, que começou como um embrião do projeto em que ela une música pop, lambadão e outros elementos regionais, na busca por um “lambadão bem travesti”.
Apesar de ter sido criado em 2016, a partir de uma ideia do irmão, Luisa ainda luta por patrocínio para desenvolvê-lo. Ela explica que Lambatrans nasceu para falar sobre o universo que foge da cisheteronormatividade e do machismo. Há alguns anos, a cantora tatuou “lambadão” na testa como forma de carregar a cultura cuiabana.
Seven Monica
Sucesso na noite cuiabana, Seven Monica foi selecionada como representante da região Centro-Oeste para cantar o hino nacional na abertura do Y20, evento internacional da juventude que faz parte do G20, que aconteceu no ano passado, no Rio de Janeiro (RJ). A cantora começou a trajetória na arte nos louvores na igreja em que frequentava, tendo Whitney Houston, Mariah Carey, Ed Motta e Sandra de Sá como grandes inspirações na música. Seven já participou de festivais de música em cidades de Mato Grosso e de audições no Programa do Raul.
Ayo Diogo
Conhecido como Ayo na cena do hip-hop, Diogo tem 19 anos e deu os primeiros passos na música quando tinha apenas 10. Ainda na infância, ele começou a participar de batalhas de rima e, aos 12, criou a “Batalha da PR” com apoio de amigos no bairro Primavera, em Várzea Grande. Em 2020, o cantor lançou o EP “Fases”, produzido de forma totalmente independente, sendo o primeiro EP de uma pessoa trans em Mato Grosso.
Em 2022 me tornei “father” da House of Sagrada, parte da cultura ballroom que se movimenta em Cuiabá desde então. Após o lançamento do EP, Diogo fez uma pausa na carreira para se dedicar ao mundo da tatuagem, onde pôde explorar ainda mais a veia artística.
No ano passado, Diogo foi responsável por abrir o show do rapper BK, uma das atrações principais do Festival Baguncinha.
DJ Má
Alma Miranda, de 25 anos, a DJ Má, é uma multiartista trans cuiabana e começou a se envolver com a produção musical em 2013. Dois anos depois, já despontava na cena nacional e logo se instalou no mainstream. Alma lançou o primeiro videoclipe da carreira em 2017, quando deu início à sua incursão na produção audiovisual.
No ano seguinte, em 2018, Alma fundou a Guerrilha Cuiabana, um selo de distribuição com foco em artistas independentes. A iniciativa foi responsável pelo lançamento de diversos álbuns, EPs e singles, nos quais Alma desempenhou não apenas o papel de produtora musical, mas também supervisionou a concepção de capas e as formalidades administrativas, incluindo o registro na União Brasileira de Compositores (UBC).
O ano de 2019 marcou um encontro decisivo entre Alma Miranda e Gusta, culminando no projeto Blueroom, duo de destaque na cena indie matogrossense. No lançamento do segundo EP, foram reconhecides como precursores do lo-fi cuiabano.
Em 2023, Alma expandiu seu escopo para a produção cultural, contribuindo integralmente para a trilha sonora da série "Flor Cuiabana (MT Queer)". Sua participação abrangeu desde a composição à mixagem e masterização dos áudios, em colaboração com a banda do Quintal Flor de Atalaia.
O trabalho foi fundamental para o coletivo, resultando em sete indicações ao Rio WebFest, solidificando a posição de Alma Miranda como uma figura influente na cena cultural contemporânea.
Geovana Rodrigues
Conhecida como Geo, a multiartista trans Geovanna Rodrigues, de 32 anos, atua no mercado publicitário há mais de 10 anos, mas também tem trajetória relevante no cenário artístico de Cuiabá como atriz, dramaturga e diretora teatral, além de ter contribuido no audiovisual cuiabano. Maquiadora há uma década, Geo tem foco em maquiagem artística teatral e maquiagem social de pessoas negras.
“A arte é o que me move e o que sempre me salvou. Quando empresto meu corpo e minhas vivências para ela, deixo de ser apenas o corpo abjeto, já que a arte potencializa a profundidade do ser, indo de encontro com a liberdade de ser eu mesma”, afirma a multiartista.
Coral
Nascida no Paraná, Coral de Amorim Fernandes, de 27 anos, se mudou para Campo Verde (MT) quando tinha apenas 1 ano e viveu na cidade até completar a maioridade. Desde 2017, ela mora em Cuiabá.
“Já tem quatro anos que me revelei ser uma pessoa trans, desde o começo sempre soube que era trans, mas a gente esconde por medo”, conta a artista. Em seu Instagram e no TikTok, ela produz conteúdo de maquiagem artística, humor e jogos.