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Quinta-feira, 05 de dezembro de 2024

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Em Kawasaki, professora desbrava rodovias brasileiras com motoclube formado apenas por mulheres

Foto: Reprodução

Em Kawasaki, professora desbrava rodovias brasileiras com motoclube formado apenas por mulheres
Depois de passar mais de duas décadas sem pilotar por conta da pouca idade dos dois filhos, a professora e educadora física Cleandra Pasquali, de 47, voltou a desbravar as estradas brasileiras em uma Kawasaki Vulcan 650cc. Cleandra também se dedica a direção da divisão de Sorriso (a 420 km de Cuiabá), do motoclube Lokas, formado apenas por mulheres. 


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"Passei acho que uns 15 anos sem pilotar, o marido seguiu andando. Agora que os filhos estão maiores e tal, retornei para esse mundo, então tem uns dois anos que retornei com tudo, andando em estrada, passeando, participando de eventos, entrei para o motoclube Lokas também". 

No hinduísmo, "loka" significa "morada, lugar e plano de existência na Terra" e, por conta disso, a palavra foi escolhida para nomear o motoclube. Cleandra brinca que, apesar de muitos pensarem que Lokas faz referência à loucura, o nome tem muito mais haver com o sentimento de pertencimento que as mulheres dividem quando estão sobre as motos. 

A emoção descrita pela professora ao encarar uma estrada de terra para chegar ao ponto mais alto da Serra do Corvo (SC), em julho deste ano, justifica na prática a escolha do nome do motoclube. Depois de uma viagem de dois dias e meio ao lado do marido, atravessando estradas com curvas sinuosas e trechos sem asfalto, ela lembra de ter sentido "o contato com Deus". 

"É uma adrenalina, mas é gostoso, valeu a pena, chegar lá em cima é maravilho, é um contato com Deus. Daqui até lá foram dois dias e meio, porque não pilotamos a noite, com moto temos que ter todo o cuidado do mundo. Muitas pessoas dizem 'são loucas mesmo para andar na estrada', mas Lokas vem de 'local', nosso local aqui na terra". 

A liberdade e o momento em que está apenas com os próprios pensamentos "dentro do capacete" conquistaram Cleandra desde a primeira vez que pilotou uma moto.

"A liberdade, é uma liberdade que não tem preço, a gente tem um dia a dia muito sobrecarregado hoje em dia, então é a liberdade de poder estar em contato com Deus, com a natureza e com seus próprios limites. Falo que você não pensa nos problemas, pensa em outras coisas, direciona sua mente para os cuidados com o trânsito e com a estrada, vai vendo coisas novas pelo caminho". 

Além da adrenalina e das viagens, o motoclube tem como principal objetivo a realização de ações sociais, seja para ajudar entidades ou alguém que esteja precisando de doações. A diretora da divisão de Sorriso do Lokas explica que, mensalmente, um calendário é planejado com base na demanda que o grupo idenfique na cidade ou pelos lugares em que passam. 

"Nosso lema é fazer o bem sem olhar a quem", resume Cleandra. 

Marido de Cleandra faz parte do motoclube Insanos e, juntos, eles fazem viagens pelo Brasil sobre duas rodas. (Foto: Reprodução) 

Lokas pelo Brasil 

O Lokas foi há quatro anos, em 15 de agosto de 2020, conta a motociclista, quando as esposas dos homens que fazem parte do motoclube Insanos também começaram a sentir vontade de pilotar por conta própria e experimentar a vivência em grupo. Cleandra destaca que o Lokas se tornou o maior motoclube feminino da América Latina, com mais de 2 mil integrantes no Brasil, marcando presença em 22 estados brasileiros e 17 países. 

"Aqui em Sorriso, nós estamos em 24 mulheres, porém já conseguimos abrir uma divisão em Lucas do Rio Verde, com nove mulheres, tem seis em Sinop, estamos em andamento para abrir a divisão, temos uma em Alta Floresta, temos em Campo Novo do Parecis, uma em Rondonópolis e uma de Ipiranga do Norte que está entrando. São várias mulheres que estão entrando". 

Sobre possíveis situações de preconceito quando estão pilotando pelas estradas, a professora afirma que o grupo não passou por episódios de machismo, mas exalta os olhares de admiração que recebem por onde passam. 

"Todos os lugares por onde passamos, as pessoas nos observam como coragem, todo mundo elogia, todo mundo admira, temos super respeito, graças a Deus por todos os lugares que vamos, somos admiradas". 

Ela conta sobre o "famoso café da manhã", quando o Lokas se planeja para viajar para cidades próximas de Sorriso. Em algumas das vezes, elas chegam a pilotar por 200km para conhecer um lugar novo e, depois, todas se juntam para comer. 

"Todo final de semana vamos para algum lugar, é o famoso 'café da manhã', as vezes as pessoas falam 'nossa, fazem 200km para tomar um café da manhã', mas o que importa é a irmandade do grupo, juntamos quem quer ir, conversamos, conhecemos lugares novos, é diferente. Em julho fui com meu esposo, ele é do Insanos". 

Assim como o nome Lokas e o significado de comunidade para as integrantes do motoclube, as roupas pretas e as caveiras também são símbolos importantes para os motociclistas, já que representam igualdade. 

"Usamos a caveira porque ela significa igualdade, a caveira é igual a todos nós, ricos, pobres, brancos ou pretos. Por isso usamos a caveira, significa igualdade. Semana passada fizemos um evento da igreja aqui, somos super parceiros, seja da católica ou batista, o motoclube não tem ideologia, respeitamos todas as religiões, não fazemos distinção". 

Atualmente, o filho mais velho de Cleandra está com 20 anos, enquanto o mais novo completou 18, e dividem com os pais a paixão por motos e pelas estradas. Assim como Cleandra, eles costumam viajar para cidades na região para conhecer novas cachoeiras e aproveitar a liberdade sobre rodas nas estradas. 

Por estarem acostumados com as viagens dos pais, que sonham em atravessar a fronteira do Brasil de moto, a professora não sente que os filhos ficam preocupados quando os dois embarcam em novas aventuras. 

"Acho que eles sentem a segurança, porque eles sabem que temos todo o cuidado do mundo, não temos aquela adrenalina para chegar primeiro, nosso máximo é 100km/h, a prioridade é curtir a paisagem e o momento. Nosso lema é que ninguém fica para trás, então se alguém fura o pneu, todo mundo para e espera. Não é a moto que é perigosa, é o piloto que faz ela ser perigosa, temos que ter uma consciência muito grande quanto a isso". 
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