Há dois anos, o DJ e produtor de eventos cuiabano Luis Otávio Xavier Brum Muniz, de 29, perdeu completamente a visão do olho direito por conta de um descolamento de retina e precisou correr para tentar salvar o lado esquerdo, algo que o fez passar por diversos procedimentos em um curto espaço de tempo. Desde então, Luis Otávio, que é conhecido como "Ota ou Banza", precisou reaprender a viver e lidar com as limitações impostas pela nova condição.
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A audição apurada foi uma das percepções que o DJ teve durante o processo em que a música foi uma peça fundamental. Ao
Olhar Conceito, ele conta que, por trabalhar na área musical, sempre contou as batidas em compassos de 8, 16 e 32. Quando se viu com quase 0% da visão no olho esquerdo foi a habilidade de contar os passos e compassos que ajudou Luis.
"Sempre contei as batidas em compassos de 8, 16 e 32, assim foi feito quando eu perdi a noção de localização total. Eu contava os meus passos e compassos, confesso que já me machuquei algumas vezes. Ando com muito mais cuidado, onde piso e quando tenho alguma dificuldade peço ajuda pra alguém, informo que enxergo pouco".
As noites em que tocou para pistas cheias também ajudaram Luis quando as forças se esvaiam durante o processo. Ele conta que revisitava os momentos felizes proporcionados pela música e visualizava um futuro em que poderia voltar a enxergar o sorriso das pessoas que amam ou a pista de dança.
"Quando eu estava com quase 0% da visão no processo pós-operatório que durou sete meses, não tinha distrações externas, visuais, me apeguei muito a música, que sempre foi minha essência e faz parte do meu processo de cura. Essa foi a minha maior força, cheguei a aceitar por um momento que talvez não voltaria a enxergar mais nada, desde o sorriso das pessoas que eu amo ou uma pista de dança".
Apesar de não conseguir ver a reação das pessoas na pista de dança, a percepção auditiva também ajudou no trabalho como DJ. Luis decidiu mudar o nome artístico para BLIND (cedo em inglês) por conta da necessidade que sentiu de comunicar sobre a perda da visão sem que fosse "uma surpresa meio triste" para quem ouvisse ou que sentissem dó do que havia acontecido.
"Fiz a estreia do meu projeto BLIND no D-Edge em São Paulo, na mãe da música eletrônia nacional, em novembro do ano passado. Foi uma grande conquista poder, mesmo com todos os limites e dificuldades que a falta de um sentido faz, pude entregar toda a minha energia e também receber de novo de uma pista, fazia tempo que eu não sentia um frio na barriga antes de assumir uma pista".
Saúde mental é exercício diário
"Ninguém é de ferro", define Luis ao falar sobre a saúde mental durante o processo de perder a visão. Ele lembra das vezes em que, quando estava dormindo, sonhava estar enxergado tudo "tão vívido", mas quando acordava e abria os olhos, estava tudo embaçado.
"Lidar com essa realidade acaba sendo uma experiência de meditação compulsória e controle das emoções
só me faz ter mais vontade de viver e enxergar a vida com esse novo olhar, poder colocar em prática as coisas que sonhei e aprendi nesse processo".
Agora, Luis depositou as esperanças em uma nova cirurgia para trocar a lente intraocular e retirar uma membrada formada na retina, algo que pode melhorar significativamente a visão do único olho. No total, ele já gastou mais de R$ 100 mil nos últimos dois anos, já que não possui plano de saúde.
Por conta disso, ele decidiu criar uma
"vaquinha" virtual para levantar o valor necessário para o novo procedimento. Luis alcançou a meta de R$ 35 mil, mas a arrecadação continua, já que o processo envolve gastos inesperados.
"Estou indo para São Paulo na semana que vem para ser avaliado pelo melhor rerinólogo do Brasil e passar pelos exames necessários para prosseguir com a cirurgia. Até então, o plano era operar em Cuiabá mesmo, porém, por meu caso ser bastante delicado, optei pela opção de passar pelo melhor médico e que me foi indicado por várias pessoas, o que envolve hospedagem, deslocamento, exames, consultas e a cirurgia".