Quando soube que seria pai pela primeira vez, o nordestino Raimundo Nonato de Paula, teve a ideia de homenagear Walt Disney, algo que se repetiu com os próximos cinco filhos. Uma delas é a agente de saúde Disneylândia de Paula Nascimento, que mora em Peixoto de Azevedo (MT), para onde o pai se mudou na década de 80 em busca de melhores condições de vida. Na cozinha de casa, Disneylândia tem pratos, talheres, copos, panelas e outros utensílios que estampam os personagens do universo Disney, além de uma coleção de bichos de pelúcia.
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Disneylândia é a quarta filha de Raimundo, antes dela vieram Disney, o mais velho, seguido por Raimidney e Disley. Depois deles, Sirney e o caçula Sidney. Ao Olhar Conceito, Disney explica que a criatividade para criar nomes não alcançou a terceira geração da família.
"Tenho três filhos: gêmeas e um filho que chama Pateta", brinca o radialista.
"É brincadeira, Brenda e Isabela são as gêmeas, o menino chama Mateus. Não levamos para frente o lado bem humorado do meu pai, estamos em outra época da vida, começamos a viver em outro estado, outra realidade, ficou difícil continuar a saga com nomes do meu pai. Fora a imaginação para criar nomes, tem a questão do bullying, hoje em dia é mais complicado", continua Disney.
Os irmãos nasceram no povoado Novo Carú, em Bom Jardim, no Maranhão, mas dos seis, apenas um continua vivendo no estado de origem, o restante se espalhou pelo interior de Mato Grosso, enquanto Disney mora em Cuiabá. Por conta da origem humilde, Raimundo tinha pouco acesso a programas de televisão ou outro tipo de comunicação que não chegasse pelas ondas do rádio, mas os quadrinhos da Disney chegavam ao interior maranhense.
"Ele lia todas, fostava dos personagens e foi assim que surgiu o interesse pelo universo da Disney. Era uma maluquice da cabeça do meu pai, ele gostava desse universo mágico. Ele gostava do universo como todo, do Mickey, do Pateta, do Pato Donald".
Apesar da resistência da esposa, Raimundo venceu a mulher pelo cansaço e conseguiu registrar os seis filhos com nomes em homenagem a Walt Disney. Naquela época, era comum que famílias brasileiras se inspirassem em clássicos estadunidenses ou atores famosos, como Marlon Brandon, cita o filho mais velho.
Família se mudou do Maranhão para Peixoto de Azevedo (MT), movida pelo sonho de Raimundo que pretendia fazer fortuna em garimpo. (Foto: Arquivo pessoal)
Disneylândia foi única no Brasil
Até determinado período da década de 80 em que a família pesquisou, Disneylândia era a única brasileira com o nome que lhe rendeu episódios de bullying na escola. Apesar disso, nenhum dos seis irmãos pensou em trocar de nome.
"Ela foi motivo de gozação na escola, houveram situações que o pessoal na escolava falava: quer conhecer a Disneylândia? E levavam na sala dela que ela estava, 'tá aí a Disneylandia'. Até hoje é assim, tem algumas brincadeiras, mas ela leva na esportiva. Ela se tornou colecionadora de tudo que tem dos personagens da Disney, se você for na casa dela hoje parece um museu da Disney, é até interessante. Nós da família chamamos ela de Lândia".
Disney lembra que, certa vez, um advogado da família perguntou se Disneylândia queria mudar o nome dado pelo pai, mas a possibilidade sequer foi cogitada pela agente de saúde. "Acho que depois que você recebe um nome, é até estranho você ser chamado por outro nome, você acostuma e é um nome diferente. Até o final da década de 80, ela era a única com esse nome no Brasil, fizemos pesquisas, mas hoje já têm outras Disneylândias".
Irmãos e mãe em montagem. (Foto: Arquivo pessoal)
Sonho de conhecer a Disney
Raimundo faleceu há duas décadas em Peixoto de Azevedo (MT), onde foi em busca do sonho de encontrar ouro e viveu a maior parte dos 51 anos de vida. Quando vivo, costumava dizer aos filhos e amigos sobre o desejo de conhecer a Disney. No entanto, a vontade parecia muito distante, mesmo na imaginação do nordestino.
"Era um sonho distante levar a família, ficava só na conversa. Agora que realmente pensamos nessa possibilidade, estamos chegando na casa dos 50, decidimos tentar realizar esse sonho em homenagem ao pai".
O plano dos seis irmãos é visitar o lugar que inspirou Raimundo durante a vida na companhia da mãe. No entanto, a viagem é um desafio para a família. Por conta disso, os irmãos criaram uma "vaquinha virtual" para conseguirem custear o passeio, que pode ser acessada
aqui.
"Ir para Disney hoje em dia não é uma tarefa fácil, principalmente pelo custo, fizemos um levantamento e ficaria mais de R$ 100 mil. Entramos em contato com a Disney nos Estados Unidos, tivemos uma negativa, porque, segundo eles, recebem esse tipo de pedido diariamente, do mundo inteiro. A gente começou a vaquinha, mas até agora não decolou e através de recursos próprios é mais complicado. Mas ainda é um sonho".