As letras que falam sobre luta, resistência e cultura indígena são cantadas na língua materna dos Apyãwa, também conhecidos como Tapirapé, pelo grupo de forró e pisadinha Garotos Apyãwa. Em uma das músicas, o grupo mistura Shine Bright Like Diamonds, um dos hits da cantora Rihanna, ao idioma falado na aldeia Tapi’itãwa, na Terra Índigena Urubu Branco, em Confresa (a 1.050 km de Cuiabá).
No clipe gravado pelo grupo na aldeia Tapi’itãwa às margens do rio Tapirapé, o vocalista Joílson Orokomy’i Tapirapé, canta sobre o “descobrimento do Brasil”. A letra da música que é uma das autorais do Garotos Apyãwa conta que os indígenas já estavam na terra quando os barcos à vela chegaram.
Enquanto canta, a voz de Joílson é distorcida com tons robóticos e a batida convida para dançar enquanto o vídeo mostra imagens da cultura dos indígenas. Quando não está no palco, Joílson é professor. O tecladista, Adilson Xaopoko’i é técnico de enfermagem, se dividindo entre soltar a base da pisadinha no teclado e o trabalho na saúde.
“Então é assim que eles vieram. Com a intenção de mentir, chegando com barco à vela, chegando aqui na nossa terra Brasil. Nós somos indígenas, nós somos Apyãwa Tapirapé e por isso nós sabemos da nossa cultura”, mostra a legenda do clipe, que traduz a letra para o português.
Os Apyãwa, conhecidos como Tapirapé, são falantes da língua Tapirapé, pertencente à Família Tupi-Guarani do Tronco Tupi. Atualmente, possuem dois territórios regularizados, a Área indígena Tapirapé/Karajá e a Terra Indígena Urubu Branco. Ambas localizam-se no estado de Mato Grosso.
Produtor do grupo Garotos Apyãwa, Waraxowo’i Maurício Tapirapé, que também é professor, conta que conheceu Joílson na faculdade, quando estudavam na Universidade Federal de Goiás (UFG). De longe, ele já observava o trabalho de Joílson na música enquanto ele se dedicava aos vocais da banda Garotos Baladan que, apesar de não ser formada por indígenas, permitiu que o professor criasse as primeiras composições que reivindicam atenção para a cultura Apyãwa.
"Ele já começou a cantar as músicas na língua materna, mesmo trabalhando com um grupo não indígena, tiveram uma parceria de mais ou menos um ano. Depois tivemos a iniciativa de criar o Garotos Apyãwa, pensando em divulgar o nome da comunidade, a língua materna, a identidade do povo. Pensamos nisso quando criamos o grupo em 2018”.
Maurício explica que os integrantes do grupo sabiam que cantar na língua materna seria uma dificuldade para atraírem novos ouvintes, mas decidido a preservar e divulgar a própria cultura, eles resolveram se “autodesafiar”, como define o produtor.
Além disso, o grupo também pensava em uma forma de poderem divulgar o trabalho musical nas redes sociais, algo que se torna mais difícil com músicas de outros artistas e fez com que eles começassem a compor as próprias letras.
“Com as letras autorais a gente conta a história dos lugares sagrados, a história do povo, como viviam antes e como vivem hoje, quais são as lutas, quais são as nossas resistências, sobre como podemos viver nesse mundo. Digamos que estamos em dois mundos: o indígena e o não indígena. Então contamos um pouco da nossa resistência por meio da música”.
Atualmente, Maurício está morando em Goiânia para cursar o doutorado, mas garante que o sonho da música faz com que o grupo esteja sempre em contato e pensando em formas de continuar espalhando a língua materna sobre os beats da pisadinha, já que os outros integrantes também precisam conciliar outras carreiras.
“Sempre estamos conversando sobre como levar o trabalho mesmo distante um do outro, conversamos, fazemos troca de experiências. Não só criar o grupo, mas pensar que somos indígenas, somos resistência, mostrar a cultura”
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