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Segunda-feira, 07 de outubro de 2024

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24h de barco para chegar na capital do centro do mundo: único estado do país sem acesso por estradas

Foto: Pelos Brasis

24h de barco para chegar na capital do centro do mundo: único estado do país sem acesso por estradas
Olá, viajante! Chegamos a mais um destino em que a Kombi não chega. Quer dizer, ao contrário de Afuá, no Pará, tema da coluna passada (leia aqui), ela até chega, mas não por estradas. Hoje nosso assunto é Macapá, a capital do Amapá, único estado do país em que é impossível chegar por estradas. Aqui, só se vem pelo ar ou por água.


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Nós escolhemos a segunda opção. Poderíamos trazer a Kombi de navio, mas ela ficou. Fizemos aproximadamente 24 horas de viagem de navio, partindo de Belém, capital do Pará. Nossa embarcação não possuía assentos ou camas. Os viajantes todos seguem o trajeto em redes, armadas ao longo da nau. A opção junta conforto, praticidade e bom aproveitamento de espaço.

Há espaços climatizados e com vidros abertos. Na ida, optamos pelo ar-condicionado, que em alguns momentos do dia parecia não dar conta de superar as altas temperaturas amazônicas, e à noite gelava bastante. Na volta, escolhemos o espaço aberto, refrescado pelas rajadas constantes de vento. Se viajasse mais uma vez, optaria pela segunda opção novamente.

Veja no vídeo abaixo como foi nossa experiência de navio indo de Belém para Macapá:
 

Se um andar é destinado para a ala climatizada e o outro para a circulação de ar, nosso navio tinha ainda mais um piso e um deck para bar. O café da manhã era servido a R$ 10 e o almoço a R$ 25, com opções de carne bovina, peixe e frango. Há, claro, os que preferem levar sua própria comida. A embarcação também vende lanches e sobremesas, com destaque para o açaí, fresco e de boa qualidade.

Um adendo importante sobre a rede: ao mesmo tempo que ela é uma opção confortável, leve em consideração que sua cama mexerá ao sabor das ondulações do navio. Isso não foi um problema, muito pelo contrário, era bem agradável, pelo menos para mim. O problema mesmo foi na hora de passar pela Baía do Marajó, momento de maior revolta das águas. O navio balançou a tal forma que um breve pânico chegou a se instalar no barco, com muita gente vestindo o colete salva-vidas. Mas passado o susto, tudo seguiu tranquilamente.



A experiência de cruzar o território amazônico em 24 horas de barco, passando por longos trechos de floresta intocada e alguns pontos de povoado ribeirinho é uma experiência que merece ser experimentada por todo brasileiro que vive longe – geográfica e simbolicamente - da Amazônia. Floresta, água, sons, céu, estrelas: tudo é exuberante. Natureza lindamente bruta e desigualdade brutal. Há locais em que crianças se aproximam do navio a nado ou remando em pequenas canoas para pedir doações. Tripulantes lançam comida, biscoitos e dinheiro em recipientes impermeáveis. Quem pegar, pegou.

Macapá é uma capital que salta aos olhos pela beleza, organização e ares de interior. Uma orla linda, um trânsito organizado. População de 442 mil habitantes. Um local que consegue conciliar diversidade de serviços e vida relativamente pacata.

Sabia que a linha do Equador passa por Macapá? Veja o vídeo abaixo:
 

A gastronomia é impecável, como de toda a Amazônia. Talvez até um pouco melhor que em outros lugares. Digo sem hesitar: todas as refeições que comi lá foram irretocáveis. Frutos do mar, peixes de rio e os paraenses que não me leiam, mas lá tomei o melhor açaí que encontrei viajando pelo país. Não que os outros não sejam bons, mas em outros estados encontrei maior variedade de qualidade. No Amapá, só encontrei excelentes.

No Amapá fica o ponto mais ao norte do país. O estado é cortado pela Linha do Equador e Macapá é a única capital do Brasil que está no hemisfério norte e sul ao mesmo tempo. O estado faz divisa com a Guiana Francesa e não é difícil encontrar cidadãos franceses por lá. Numa noite, inclusive, fomos a um bar que tinha como atração uma banda afro francesa, tocando música de inspiração caribenha. Lá provamos drinks que brincam com os sabores da Amazônia.



Amapá também tem árvores de cacau naturais e uma produção artesanal de chocolate que mantém tradições indígenas. Merece destaque especial a deliciosa gengibirra, bebida alcoólica à base de gengibre, boa para ser consumida pura gelada ou compor drinks. Lá também tem um forte que ajuda a entender a história do local, construído para proteger o território, muito cobiçado por conta das riquezas naturais. Um bairro todo construído por uma multinacional que explorava minério chama a atenção pela arquitetura, semelhante às de filmes de sessão da tarde. A exploração do garimpo ainda é muito forte.

Perto dali, a Petrobrás prospecta a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Há possibilidade de um desastre natural impactar na vida do rio, afetar a biodiversidade e consequentemente os hábitos alimentares de milhares de pessoas assusta. Por outro lado, há quem comemore a possibilidade de circulação de recursos nesse estado que se vê ainda distante do resto do Brasil.

Veja abaixo um vídeo que fizemos para o Instagram com uma lista de coisas para fazer e Macapá:
 

A coluna Pelos Brasis é assinada pelos jornalistas Lucas Bólico e Isabela Mercuri. Acompanhe o projeto no InstagramTikTokYoutube e Spotfy

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