Em "Mansos", curta-metragem de ficção da cineasta Juliana Segóvia, mãe e filha, que são duas mulheres negras, moradoras da comunidade Água Fria, em Chapada dos Guimarães (64 km de Cuiabá), assistem às próprias vidas mudarem por completo com a construção de uma usina hidrelétrica. As filmagens começaram nessa segunda-feira (7).
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O filme, que vai ser gravado em Cuiabá, Várzea Grande e Chapada dos Guimarães, é apresentado como uma história sobre ancestralidade. O roteiro é assinado por Segóvia e inspirado em uma vasta coleção de referências pessoais e profissionais. A previsão é que o lançamento ocorra em fevereiro de 2024.
Teresa é uma agricultora familiar e líder comunitária, que é assassinada na frente das duas filhas quando elas ainda eram crianças. Vinte anos depois, Benedita e Jurema, já adultas, se veem diante daquele que é o responsável pela tragédia que destruiu a sua família.
"A história traça uma perspectiva de uma vingança simbólica. A personagem principal, Benedita, segue esse percurso. E também teve inspiração das mulheres fortes que perpassam a minha vida, minha mãe, minhas tias, que são mulheres que enfrentaram barreiras na vida", conta Juliana.
O nome "Mansos" é, claro, uma referência ao local onde a história se passa, mas também uma provocação ao espectador mais atento. "A gente não tem nada de manso quando tem a possibilidade de refletir sobre uma sociedade através de um viés político-crítico", diz.
Roteiro é da cineasta cuiabana Juliana Segóvia e o filme deve ser lançado no primeiro semestre de 2024. (Foto: Julia Mux)
Conforme a diretora, o curta aborda a questão da memória e do apagamento da história da população negra. O nome da matriarca, Teresa, é inspirado na rainha quilombola Teresa de Benguela, símbolo da resistência e inspiração para novas gerações de mulheres negras.
Benedita é uma homenagem à atriz Benedita Silveira, com quem Juliana trabalhou em outro projeto, o filme "A Velhice Ilumina o Vento", de 2022, produzido com apoio do edital do Itaú Rumos Cultural 2019/2020. Por sua vez, Jurema fala das mulheres caboclas e indígenas do Brasil, além de ser uma referência às religiões de matriz africana.
"Foi uma colagem que eu fiz de referências para pensar uma história que eu queria trazer à tona, que também é interna minha, que é uma necessidade de uma resposta daquilo que me movimenta e me deixa revoltada, indignada em questão de sociedade", revela.
O roteiro foi aceito pelo laboratório "Negras Narrativas", uma parceria da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) com o Amazon Prime Video. Além disso, posteriormente, o curta foi contemplado também pelo edital de audiovisual da secretaria estadual de Cultura, Esporte e Lazer (Secel).
O projeto é realizado pelo Instituto Quariterê, que leva o mesmo nome do quilombo liderado por Teresa de Benguela. O foco do instituto é pensar e incluir os profissionais do audiovisual a partir de uma perspectiva racial e de gênero.