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Segunda-feira, 07 de outubro de 2024

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CONFIRA ENTREVISTA

Miss Universo MT fala sobre luta contra abuso infantil, autoaceitação e padrão de beleza irreal

Foto: Divulgação

Miss Universo MT fala sobre luta contra abuso infantil, autoaceitação e padrão de beleza irreal
A Miss Universo Mato Grosso, Bárbara Reis, de 25 anos, foi coroada a representante estadual no último domingo (14), durante uma cerimônia na casa noturna Musiva. A jovem digital influencer e modelo disputou o prêmio contra 32 meninas e recebeu a coroa das mãos da Miss Brasil 2022, Mia Mamede. Ao Olhar Conceito, a paraense radicada em Mato Grosso contou um pouco sobre sua trajetória no mundo dos concursos de beleza, aceitação, autoestima, luta contra o abuso infantil e muito mais.


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Bárbara começou a participar de concursos aos 15 anos, em 2012, em sua cidade, Sinop. Ela optou pelo investimento na etapa, ao invés de uma festa de aniversário. Foi um certame pequeno, agropecuário, mas o suficiente para animar a adolescente a seguir nesse mundo. E quatro anos depois, ela conquistou o título de Miss Comércio Sinop.

Desde então, ela não parou mais e ama os concursos de beleza, se dedicando sempre ao máximo em todas as etapas. Ao todo, ela já acumula 16 faixas e três coroas. Alguns dos seus maiores destaques foram: o Miss Brasil Mundo 2017, onde conquistou sete faixas de destaque, como Miss Elegância, Miss Cordialidade, Miss Top Model; o Miss Supranational Brasil 2018, conquistando o segundo lugar e o Miss Supranational, competição internacional na Polônia.

Para a jovem, a virada de chave em sua carreira foi no Miss Brasil Mundo 2017, quando começou a entender o que são os concursos de beleza, por meio de uma pergunta em uma das etapas.

“Eles me fizeram uma pergunta no Top 5, perguntaram muito sobre a nossa trajetória, como que éramos em casa, como é a Bárbara de verdade, como é a minha vida. E ali, eu contei que tinha sofrido abuso”, disse Bárbara Reis.

Naquele momento, a jovem passou por um pequeno choque, pois também lhe perguntaram o que ela falaria para alguém que já passou pela mesma situação. Ela não sabia. Ela não tinha passado por nenhum processo de terapia que pudesse ajudar com os traumas do passado.

“Ali eu vi que precisava de ajuda, nessa pergunta exatamente. E eu criei um bloqueio, não consegui responder e falei para mim, eu vou buscar ajuda. E desde então, eu venho me preparando para isso, até mesmo para poder ajudar outras pessoas. É um sonho pra mim e estou sempre em busca do melhor”, conta.

A influencer terminou a competição internacional na Polônia em 6º lugar, justamente pela falta da proficiência no inglês. Depois de não conseguir responder uma pergunta com desenvoltura na língua, Bárbara começou a se aprofundar no inglês, estudando bastante.

“Eu vivo esse mundo dos concursos, eu amo. Aproveito cada momento. Hoje meu trabalho é na área da comunicação. Eu trabalho com redes sociais, já fiquei na TV por um ano, tudo em busca desse propósito e sonho”, conta a estudante de Publicidade e Propaganda e Moda.



Aceitação e autoestima

“Eu não me aceitava, não gostava do meu cabelo e da minha altura. Eu era até corcunda porque queria ficar na altura das minhas amigas. Não gostava do meu cabelo porque todos a minha volta tinham cabelo alisado. Não gostava da minha cor e tudo isso influenciava. Mas ali na época dos 15 anos, eu já era exibida e gostava de conversar”, disse Bárbara, que hoje, tem uma altura de 1,81 m e ama os cachos.

A Miss também conta que na época dos primeiros concursos, os próprios familiares a desencorajavam, falando que tinham tantas meninas bonitas. Mas como ela sempre foi muito desafiadora e competitiva, decidiu que iria participar e iria vencer para provar para todos o seu potencial.

“Eu sou muito competitiva, eu acho que o que me mantém em concurso de beleza é a competividade, tudo que eu participo seja em esporte, eu sou muito competitiva. E aí eu falei: 'quer saber, eu vou participar e vou mostrar para eles que eu consigo sim'. Aí eu fui e ganhei. E me abriu os olhos sabe, mas não foi ali que me aceitei, demorou alguns anos. Eu também não gostava do meu peso, queria ter corpão”, explica.

Devido à uma química que deu errado no cabelo, Bárbara precisou fazer a transição capilar e assumir os cachos. Quando ela viu os primeiros cachinhos nascendo, ela se encantou e viu como eram lindos. “Eu não imaginava que meu cabelo era assim, porque eu comecei a alisar ele muito nova. Mas foi assim, criei um amor sem igual, porque ali eu vi quem eu realmente sou”.

“Hoje eu falo muito mesmo para todo mundo, a gente precisa aprender a se aceitar como é”, ressalta.

Padrão de beleza

Para a influencer, é muito difícil se encaixar em um padrão e além disso, ela como Miss, não pode dar um exemplo de beleza sempre, pois os concursos possuem regras e parâmetros, e não deve existir a comparação com um padrão único.

“É cansativo seguir um padrão, pois muitas vezes é inalcançável. As pessoas se submetem a tantos procedimentos estéticos e invasivos. É muito mais fácil a gente se aceitar como é, eu acredito. E os procedimentos estéticos devem realçar o que você já tem”, conta a jovem, que sempre pensa muito antes de fazer algo no seu rosto.

“Eu penso muito nisso da estética. Acho que o que torna a gente único são as diferenças, e isso me cativa muito. Eu vejo meu cabelo mesmo, tem dia que ele está de um jeito e num dia de outro, mas ele é assim. E isso me deixa muito mais viva. Hoje eu percebo o tanto que eu sou mais feliz”, complementa.

Para além dos procedimentos estéticos, a jovem busca os métodos naturais e saudáveis. Sempre aliando uma alimentação equilibrada e os exercícios físicos para manter a boa forma, que o concurso de beleza acaba exigindo.

A jovem disse ainda que é muito bem recebida em todos as partes do Brasil, principalmente em Mato Grosso.

“É óbvio que o racismo existe, é um fato, a gente precisa mudar essa situação, essa realidade, até porque o nosso país é tão misturado. Não tem porque tratar alguém de forma diferente. Mas eu preciso admitir que eu não tenho esse problema aqui em Mato Grosso. As pessoas me tratam com muito carinho e amor, sempre me recepcionam, reconhecem e fazem questão de falar comigo”, disse.



Abuso

Bárbara Reis sofreu abuso dos oito anos de idade aos 16, dentro de casa. Ela só buscou ajuda após 2017, quando participou do Miss Mundo Brasil. Com a terapia, ela percebeu as cicatrizes que não vão se curar nunca mais.

“Foi muito tempo e é impressionante porque quem sofre tanto abuso doméstico, como abuso sexual, ela só percebe aquilo, todo o caos que ela passou quando ela sai e ela começa a enxergar de uma outra forma. Então, hoje eu contando para pessoas próximas o que eu passei, eu não acredito que uma criança passou por isso, e eu não acredito que eu tive força para passar por isso”, disse.

Na terapia, ela percebeu que precisa ajudar mais pessoas, até porque falar sobre seus abusos iria ajudar no seu processo.

“Quanto mais a gente fala, mais a gente consegue tirar isso do nosso peito. A gente consegue externar e encontrar outras pessoas que infelizmente, passaram pela mesma situação, mas percebemos que não estamos sozinhos”, conta.

“Eu vejo muitas crianças olhando para mim e falando você deve ter uma vida maravilhosa, né tia? Você deve morar num castelo. Eles me olham exatamente como uma princesa e me imaginam como uma figura distante da realidade. Mas poxa, eles pensam que eu não tenho problema, que não passo por dificuldades. Só que hoje eu estou nesse lugar, porque eu consegui superar”, complementa.

A jovem começou a compartilhar sua história com as pessoas e criou a coragem de contar para a mãe sobre seus abusos. Ela criou o projeto Desi (Descomplicando a Educação Sexual Infantil), com o objetivo de ajudar os pais e responsáveis a enxergarem os sinais de perigo, com dicas, informações e conversas.

Para isso, a iniciativa conta com uma equipe multidisciplinar, com médicos pediatras, psicólogos e outros. As atividades são realizadas de forma online, para que todos do Brasil possam participar.

Na etapa do Top 10 do concurso Miss Universo Mato Grosso 2023, Bárbara foi contemplada com uma pergunta sobre seu trabalho na área da conscientização sobre a violência infantil.

“Eu fiquei super feliz de ter caído perguntas no concurso referente a isso. Então significa que a minha voz, ela está sendo ouvida e eu fiquei tão emocionada. Fiquei muito emocionada, feliz mesmo, porque foi um sofrimento que eu passei e que hoje eu consigo ajudar outras pessoas e que as pessoas estão ouvindo a minha voz”, disse a jovem.

Miss do século 21

Questionada sobre o papel de uma miss nos dias atuais, a jovem estudante de Publicidade e Moda, respondeu ao Olhar Conceito que as misses não são só um exemplo, elas têm uma missão.

“Eu estou aqui por uma missão e por um projeto. Eu estou aqui por uma causa, eu quero levar isso adiante, eu quero mostrar que palavra do momento é protagonista. Nós mulheres devemos ser protagonistas da nossa própria história. Devemos ir atrás e fazer acontecer. Quero mostrar isso para as mulheres, que a gente consegue o que quiser, não tem um lugar que não possamos estar mais. Precisamos acreditar no nosso potencial e fazer por merecer”, finaliza.
 
O concurso Miss Universo Mato Grosso celebrou sua 63ª edição, apresentando algumas novidades, como a atualização no regulamento, permitindo a participação de mulheres casadas e com filhos. Além disso, desde 2018, o concurso também aceita a inscrição de mulheres transsexuais. 
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