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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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ENTREVISTA EXCLUSIVA

“O cinema brasileiro sempre teve bons trabalhos para mostrar ao mundo”, defende Roberto Birindelli, ator de “Loop”

Foto: Reprodução

“O cinema brasileiro sempre teve bons trabalhos para mostrar ao mundo”, defende Roberto Birindelli, ator de “Loop”
Ator de “Loop” e da novela “Império”, Roberto Birindelli, acredita que “o cinema brasileiro sempre teve bons trabalhos para mostrar ao mundo''. Em entrevista exclusiva ao Olhar Conceito, o ator comentou sobre como é se rever nas novelas que estão sendo exibidas na Rede Globo, a resistência da classe artística em tempos de pandemia, como também sobre seu papel em “Loop”, filme que será exibido nesta sexta-feira (14) no Cinemato 2021.

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Olhar Direto: As novelas “Império” e “A Vida da Gente”, que você participou na primeira fase, estão sendo exibidas novamente na Rede Globo. Como é estar se vendo novamente na telinha? Aliás, você gosta de se ver atuando ou não? Pergunto porque é bem comum atores e atrizes que não são muito fãs de se ver em tela.

Roberto Birindelli:
Sensações diferentes. Vejo como o tempo passou e a realidade do país e do mundo mudaram. Fico olhando as cenas e me apontando o que poderia ter melhorado, é sempre um pouco estranho e desconfortável. Adoro rever os amigos e colegas de cena!

O.D.: Fazer cinema e trabalhar com entretenimento no Brasil é uma tarefa difícil. Em tempos pandêmicos, a situação se tornou pior. Cinemas foram fechados temporariamente, espetáculos teatrais foram suspensos e até mesmo a produção de novelas precisaram ser paralisadas por um período. Como foi seu 2020?

R.B.:
Sim, temos um desafio enorme. Lutar contra a pandemia e contra o governo que tenta inviabilizar toda manifestação e produção artística. Resistiremos e sobreviveremos. A classe artística busca soluções online para apresentações, protocolos cada vez mais confiáveis de gravação. Não está sendo fácil. O streaming se mostrou a alternativa mais viável. A quarta temporada da série “1 Contra Todos” foi lançada no início da pandemia. A coprodução “Água dos Porcos” (“Águas Selvagens” no Brasil), em que sou protagonista, foi lançada online na Argentina, em julho do ano passado, e deve ser lançada nos cinemas no Brasil este ano.

A novela “Nos Tempos do Imperador” teve as cenas do primeiro capítulo gravadas e, em abril de 2020, estava planejado eu voltar às gravações, mas na verdade só voltamos às gravações agora, em maio de 2021. Vi que estão tomando todos os cuidados possíveis em relação à COVID. Pensa que a última cena que gravei foi, em dezembro de 2019, e a seguinte vai ser este mês. Doideira.

É um momento de avaliação, de introspecção, questionamento e busca da própria essência. Acho que sairemos bastante modificados. Penso, leio, escuto, me informo. Então, muita coisa deve mudar: sejam hábitos de consumo, a maneira como nos relacionamos com o outro e com o meio. Pessoas deverão ser mais importantes que coisas. Estou relendo vários livros antigos, que já li em diversos momentos, para deixar que meus olhos os “re-entendam”. 

O que esse isolamento mais mostrou é que o que mais sinto falta é das pessoas. Acho que na volta desse confinamento as pessoas vão valorizar mais umas às outras.

O.D.: Agora vamos falar sobre “Loop”. No longa-metragem, você faz o papel de um delegado, correto? O que você pode adiantar sobre o seu personagem? Me conte um pouco sobre ele.

R.B.:
Em "Loop", faço um delegado que sofreu a violência na pele e tenta desvendar um crime num tempo cíclico. Ele também quer se vingar de um assassinato de um ser querido. E se identifica muito com quem está investigando, pois é um sujeito que também teve perdas. Um roteiro extremamente bem articulado. Tem uma super coerência.

O.D.: Esse filme ainda está no circuito de festivais e nesta sexta-feira (14) será exibido no Cinemato, durante a Mostra Competitiva. Para você, enquanto ator, como é acompanhar esse momento de Festivais, principalmente por estar tudo online? Está ansioso para quando o filme chegar no circuito comercial?

R.B.:
Estive junto com o diretor Bruno Bini, em março de 2020, no Festival do Porto e também no Festival de Manchester, onde "Loop" ganhou quatro prêmios, incluindo melhor filme. 

Na verdade, não sei quando poderemos entrar nos cinemas, que seja em breve. Espero que, quando chegar o lançamento no Brasil, a gente consiga juntar os amigos no cinema e poder conversar pessoalmente e ver a reação das pessoas.

O.D.: “Loop” é um filme brasileiro de ficção científica sobre viagem no tempo. A temática não é muito comum aqui no Brasil e é raro ver uma grande produção como essa ser feita fora do eixo sul/sudeste. Como é para você estar contribuindo para o fomento da sétima arte brasileira com um longa-metragem como este?

R.B.:
Minha grande paixão como ator é o cinema. A paixão mesmo começou nos 80, quando a Gaumont trazia os filmes franceses: Louis Malle, Goddard, Truffaut.

Entre curtas e longas, já atuei em mais de 50 filmes.  Em Porto Alegre, em 1994/95, recebi os primeiros convites da casa de Cinema para curtas do Jorge Furtado, e depois os primeiros longas. O cinema brasileiro sempre teve bons trabalhos para mostrar ao mundo. Às vezes temos boa produção e pouca divulgação, ou vice-versa.

Nos últimos anos vimos um aumento significativo do número de coproduções. O cinema pernambucano vem produzindo excelentes filmes há bom tempo. No Sul tem se rodado mais longas também. Também no Mato Grosso com "Loop".  Acredito que aos poucos o público brasileiro vai começar a descobrir e valorizar esse conteúdo.

O.D.: Aproveitando a temática do filme, uma pergunta para descontrair: se você tivesse a possibilidade de viajar no tempo para mudar algo do passado, independente do resultado que isso poderia acarretar para o seu presente, você mudaria? Se sim, o que?

R.B.:
Num retiro para atores na Sicília com o grupo de pesquisa do Jerzy Grotowsi teve essa questão num dos exercícios. A imagem que me veio foi aos 9 anos, com a menina que poderia ser minha primeira namorada da escola. Teria mudado muita coisa em minha vida. Tenho a sensação que eu sempre tentei ser correto e coerente demais. Teria mudado isso.

O.D.: A sua filmografia é bem extensa, assim como o número de seus trabalhos para a televisão, seja novela ou séries para os serviços de streaming. Tem alguma história, gênero ou personagem, que futuramente pode ser adaptado de um livro para o audiovisual, que você gostaria muito de trabalhar?

R.B.:
Já fiz muita coisa diferente, muitas profissões, mas tem algo que nunca passei nem perto. Um super herói, mas sem poderes, algo como um Chapolin, mas adulto, sombrio, sério, metafórico. Um super, que tem que pagar suas contas, aluguel atrasado, problemas com ex e filhos, etc. Que tem seus dramas humanos.·  
    
Para a criação de personagens, eu acredito muito em impressão e expressão. Passo o dia inteiro, todos os dias alimentando minha impressão. É desse banco de dados, emoções, ideias e sensações que sai a matéria prima dos personagens.

Escolho os personagens justamente pelo grau de desafio e complexidade. Fiz papéis bem diferentes. Tenho um sonho de trabalhar com máscaras da Commedia Dell´Arte e retomar o teatro de grupo. 

Meu grande sonho agora seria atuar num filme sobre os “Cem Anos de Solidão”, do Gabriel García Marques.
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