Ao ver o caos causado pelos incêndios no Pantanal Mato-Grossense, Cecília Licarião, Daniella França, Lua Benício e Luciana Leite resolveram unir suas forças para dar assistência às comunidades locais que são constantemente atingidas pelo fogo. A
Chalana Esperança visa estar presente a longo prazo para essas pessoas que, conforme contaram para o grupo de biólogas, são esquecidas assim que as chuvas chegam na região.
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“Você não consegue estar em um lugar como aquele, ver as pessoas tentando combater o incêndio com pedra, mangueira de jardim e vassoura, sem se mobilizar e não fazer nada. São pessoas sem equipamentos de proteção, sem máscaras e com os olhos em brasa, porque estão com fumaça o tempo inteiro e problemas de respiração”, descreve Luciana Leite ao
Olhar Conceito. “É impossível não fazer alguma coisa na perspectiva do ser humano. Estar ali e não se sensibilizar com isso, e só cuidar dos animais”.
Inicialmente, a Chalana Esperança nasceu como uma resposta mais emergencial ao que estava acontecendo com o Pantanal Mato-Grossense devido às queimadas, no ano passado. O quarteto já se conhecia devido a congressos e eventos que promoveram sua reunião, e resolveu juntar todo o seu conhecimento para ajudar aquela região, mas de forma que fosse possível estender a ajuda para os próximos meses - não apenas quando houvessem as queimadas.
“Durante essas ações emergenciais, a gente focou em prestar muito apoio a comunidade, além da parte de fauna. Nós ouvimos muito que quando as chuvas chegassem, todo mundo iria embora. Eles iriam herdar aqueles problemas sozinhos. Então a gente fez o compromisso: nós vamos e voltamos”, explica Luciana ao
Olhar Conceito.
Luciana revela que percebeu uma mágoa muito grande por parte das pessoas que vivem nessas regiões por sentirem uma desassistência total. O coletivo então deu assistência a pessoas que não tinham acesso a água potável, estavam com escassez de alimentos e precisavam de kits básicos de higiene pessoal.
“A gente sabe que não existe conservação sem envolvimento comunitário, especialmente em um bioma onde 95% do território é privado. Se a gente quer falar de conservação do pantanal, não vai haver conservação sem o envolvimento do povo pantaneiro. Eu acho que cada organização, coletivo ou pessoa tem o seu nicho e a Chalana entendeu que a comunidade estava desabraçada”.
O coletivo trabalha com programas a longo prazo, relacionados direta ou indiretamente à problemática do fogo no Pantanal Mato-Grossense, como educação ambiental com crianças, inclusão digital com cursos de fotografia e programas de alternativa de renda. Um destes programas é o Crochetando o Futuro, que busca ensinar e incentivar às mulheres a gerarem renda e se inserirem no ecoturismo.
As ações desenvolvidas pelo Coletivo são demonstradas no
Instagram. Daniella França explica que foi a forma que encontraram para serem transparentes com aqueles que contribuem para que a Chalana Esperança aconteça. “Todo nosso dinheiro vem de doação. Nós conseguimos ir para o Pantanal fazer as primeiras ações por conta de duas vaquinhas [online]”, exemplifica.
“As nossas ações são todas formadas e pensadas com a comunidade”, destaca Luciana. Ela explica que há coletivos e organizações que chegam nestas comunidades e instituem soluções que, muitas vezes, não condizem com a realidade e necessidade das pessoas. Por este motivo, “a gente sempre parte da premissa de co-construir”, completa.
O quarteto
Lua é de Salvador, assim como Luciana, que mora atualmente em Foz do Iguaçu, e seu primeiro contato com o Pantanal aconteceu no ano passado, quando pôde ver de perto a destruição do fogo ao vir para a região, inicialmente, para comemorar o aniversário de seu casamento. Já Cecília é de Fortaleza e Daniella é natural de Goiás, morando atualmente em São Paulo, onde está fazendo o seu doutorado.